Entrevista: Roo Panes faz shows no Brasil e conversa com o TMDQA!

Roo Panes vem sendo comparado a nomes como Sufjan Stevens, Bon Iver e Ben Howard e vem ao Brasil para shows no Popload Gig. Leia entrevista exclusiva.

Roo Panes
Foto: Divulgação / T4F

Por Nathália Pandeló Corrêa

Cantor e compositor inglês, Roo Panes vem ao Brasil com a turnê de seu mais recente disco, Quiet Man, que ganhou uma edição deluxe com 22 faixas. O trabalho é o seu terceiro e soma à sonoridade indie e folk do artista, que antes da fama estudava para ser professor e acabou ganhando projeção ao participar do projeto Burberry Acoustic, da grife de moda, que selecionou nomes em ascensão para apresentações intimistas em sessions ao vivo. Foi assim que Roo veio ao Brasil pela primeira vez, ainda em 2013, para um pocket show exclusivo para 60 convidados no hotel Fasano, no Rio.

Desde então, ele lançou seu primeiro disco, Little Giant (2014), seguido por Paper Weights (2015). Foi o início de uma história que ele vinha ensaiando desde os 13 anos de idade, uma identidade musical que passa pelo folk clássico e o contemporâneo, mesclando as melodias delicadas do violão de 12 cordas com letras confessionais. Já são 200 milhões de audições em streaming, 20 milhões de views em clipes no YouTube. Tudo graças a sucessos como “Tiger Striped Sky”, do disco de estreia, que conseguiu, sozinha, 100 milhões de streams. Já com o novo disco, Quiet Man, ele traz um som contemplativo e delicado, rendendo comparações com Sufjan Stevens, Bon Iver e Ben Howard.

Agora, Roo será atração do Popload Gig em setembro. Serão três shows no Brasil: no dia 13 em Curitiba, no Jokers; em São Paulo no dia seguinte (14/09) no Fabrique, e no Rio de Janeiro, no Belmond Copacabana Palace (Golden Room), no dia 19 de setembro. Com música na trilha da novela das nove da Globo, A Dona do Pedaço – com o hit “Lullaby Love” -, ele certamente terá um público maior para apresentar suas canções cheias de sentimento.

Essa é a premissa básica por trás do seu trabalho. É o que ele conta em uma entrevista por telefone ao Tenho Mais Discos Que Amigos!. Confira abaixo!

TMDQA!: Você foi de estudar pra ser professor, à Burberry e agora ao terceiro disco, o que torna sua jornada meio diferente. Você acha que ter essas experiências completamente únicas entre si antes de gravar seu primeiro disco te prepararam e ajudaram a amadurecer para essa nova fase da vida?

Roo Panes: Eu penso sobre isso bastante… E acho que não tenho uma resposta! Acho que tudo que você faz na vida te educa e te prepara para o futuro, e principalmente te ensina o que você gosta e o que não gosta de fazer. Eu, particularmente, não acho que seria um bom professor (risos). E aí veio a coisa de modelo e depois música… Foi uma jornada estranha, eu diria. Mas tem sido muito gratificante também.

TMDQA!: Bom, falando então da música: acho que suas canções são, entre muitas coisas, sobre contemplação. Muitas delas são pesadas emocionalmente e até são longas, se você pensar no padrão atual da cultura da playlist. Meio que parece que você tá nadando contra maré de muito barulho e informação no mundo. Era esse seu plano?

Roo: Isso é 100% verdade. A música é pra mim uma forma de conversar com as pessoas sobre o que estou pensando. E bem, quando sua cabeça está a mil, você não consegue se conectar com as pessoas. Pelo menos, não de verdade. Eu queria tirar tudo do caminho para que eu pudesse me expressar, porque música pra mim é isso, uma forma de auto-expressão. Pra ser sincero, eu provavelmente não sou o músico mais fácil de se trabalhar junto, porque as minhas músicas têm um clima específico, não são pop e são pessoais. São eu pensando sobre a vida e escrevendo sobre isso. Eu diria que é menos um projeto de carreira, e mais uma forma de comunicação pessoal, mesmo. Eu sempre amei a composição como meio de expressão.

TMDQA!: Você faz parte de um cenário folk contemporâneo, que está cheio de grandes artistas novos nos últimos anos. Primeiro queria saber se você se enxerga dentro do gênero, e qual a sua percepção desse crescimento, com bandas lotando estádios com seus banjos? (risos)

Roo: (risos) Quando eu comecei, o folk estava ficando bem grande mesmo. Mas se eu tivesse começado hoje e o lance da moda fosse indie, eu ainda iria escolher essa sonoridade mais folk, que pra mim tem a ver com contar histórias, com o coração de uma música. Acho que isso combina comigo, por ser naturalmente um gênero mais contemplativo. Mas eu não me considero especificamente parte de um gênero só. Algumas das minhas músicas se encaixam em um ou outro estilo. Se você pegar o último disco, Quiet Man, por exemplo, “A Message To Myself” tem tons de indie e alternativo. E “Sketches of Summer” tem uma onda de piano mais clássica. Por isso eu prefiro não me descrever em um gênero só. Minha música é algo mais de emoção, do que eu estou sentindo, e eu faço o que puder para chegar ao resultado de descrever o que sinto. Talvez o estilo “cantor/compositor” combine mais comigo.

TMDQA!: Tá certo. É que acho que as pessoas associam ao folk pelo violão. Sei que você é um adepto das 12 cordas, ao invés das 6 usuais, o que de dá mais possibilidades e complexidade. Ao mesmo tempo, eu diria que sua música é bem simples, quando você a despe à essência. Sei que sua banda tem também viola, cello, violino… Como você equilibra usar instrumentos de variada complexidade e ao mesmo tempo mantém as músicas com o pé no chão?

Roo: Não sei… Eu gosto de música mais emotiva, de fazer as pessoas terem contato com seus sentimentos e falar sobre isso. Boa parte vem no arranjo, quando eu tento escolher os melhores instrumentos que vão chegar mais perto de descrever o que preciso. Do novo disco, em “My Sweet Refuge”, eu não conseguia encontrar de jeito nenhum que instrumento seria esse… Até que escolhi um clarinete que nunca tinha usado antes e a música ficou com esse aspecto mais nostálgico, que era algo que eu queria. Cada música depende do que eu estou procurando para passar aquela sensação específica. As músicas são simples, mas o segredo está nos arranjos.

TMDQA!: Eu estava vendo agora há pouco o clipe de “Warrior”, e é bem emocionante. Por que você decidiu abordar o assunto da escravidão nos dias atuais e qual o motivo do vídeo se passar no leste europeu?

Roo: Não é necessariamente algo que tem a ver comigo, pessoalmente, mas é um assunto com o qual me importo. Fiquei sabendo mais sobre a questão da escravidão por meio da International Justice Mission (IJM), e foi algo que abriu os meus olhos para como isso ainda é um problema enorme no mundo. Eu não sabia exatamente como ajudar, sendo um músico, mas eu pensei que poderia doar uma música. O clipe foi feito por um amigo meu, Christian Kinde, e ele escolheu ambientar o vídeo lá. Eu basicamente ofereci a música porque me inspirei pelo trabalho deles, mas a discussão do aspecto visual já era uma ideia dele com a IJM antes mesmo de eu me envolver. Do meu lado, pensei apenas em ceder uma canção que pudesse ajudar a trazer à tona esse assunto.

TMDQA!: Bom, pra terminar de forma mais alegre, vamos falar da sua volta ao Brasil! Eu acho que os fãs retornaram a “Lullaby Love” por fazer parte da trilha de uma novela, o que ainda significa alguma coisa por aqui (risos). Não sei se você tem algum contexto sobre como anda o Brasil, tem alguma expectativa pra essa vida? Talvez uns passeios, comidas típicas…?

Roo: Eu não faço ideia do que esperar, pra ser sincero! Eu já fui ao Brasil uma vez e adorei, mas hoje eu só sei que daí vêm os meus fãs que mais me apoiam e encorajam e que as pessoas são muito divertidas. Eu fiquei sabendo sim da novela, mas não sei se faço ideia do que isso significa aí. Estou muito animado pra ir, vão ser 10 dias no Brasil e espero viajar um pouco, pegar um pouco de sol. Acho que vai ser uma oportunidade incrível de me conectar com as pessoas através da música.

TMDQA!: A nossa fama é essa mesmo, mas somos bem intencionados! Espero que se divirta no Brasil!

Roo: (risos) Obrigado!