Will Toledo, líder e mentor do Car Seat Headrest, é o típico fruto de uma geração que nasceu no mundo onde tudo está conectado e não dispõe (ou não deseja) de outra forma para expressar e espalhar os seus pensamentos musicais a não ser em formatos de mp3, plataformas de streaming ou onde quer que seja, na nuvem, mesmo que de forma despretensiosa.
Inicialmente foram vários discos lançados no formato “banda de um homem só”, na plataforma Bandcamp, que Will produziu de forma excessiva, solitária, sem grandes objetivos fonográficos, para os amigos e para si mesmo.
No decorrer desse trajeto, Twin Fantasy de 2011, também lançado apenas no Bandcamp e relançado no ano passado, ganhou clima de disco cult, chamando atenção daqueles mais antenados no movimento underground e lo-fi.
Dando um salto até 2015, temos o elogiadíssimo Teens Of Denial, onde Will Toledo ganhou destaque na crítica mundial e alcançou ótimos resultados, com o disco posicionado entre os melhores do ano em várias listas especializadas.
O Car Seat Headrest se tornava de fato uma banda, caindo na estrada, tocando em vários festivais e casas do cenário americano, impulsionados pela parceria com a Matador Records, que apostou todas as fichas no grupo. Deu resultado!
Recentemente, para fechar esse ciclo, a banda soltou o ao vivo Commit Yourself Completely, mostrando um retrato fiel da fase inicial e de uma discografia extensa (estamos falando de 16 lançamentos oficiais) de jovens na casa dos 20 e poucos anos que levam ao extremo o do it yourself dos tempos atuais.
Com faixas retiradas de diferentes lugares por onde a turnê passou nos últimos anos, nos Estados Unidos e Europa, seja nos 10 minutos de “Cosmic Hero”, ou em clássicos instantâneos como “Fill In The Blank” e “Bodys”, a voz de Will Toledo chega de forma certeira, contando as angústias e experiências daqueles que não viveram ainda muito do mundo, mas tem o mesmo ao alcance das mãos e dos cliques.
São histórias colocadas de forma direta nas letras das canções, nos dando a sensação de que estamos apenas diante de um bom amigo contando o que rolou nas últimas semanas no cotidiano social em que ele está inserido, relembrando alguns acontecimentos das noitadas de algum final de semana não tão bem sucedido.
Mas, não pense que o Car Seat Headrest fala apenas para a geração contemporânea dos consumidores da música. A banda consegue se tornar um refresh interessante de tudo que os mais “antigos” viram nascer, morrer e agora, ser reinventado.
Faixas como “Drugs With Friends”, “Cute Things”, “Drunk Drives/Killer Whales” e “Destroyed By Hippie Powers”, com letras sussurradas e gritadas, guitarras com drives e dedilhados, explodem em seus refrões, deixando orgulhosos todos os professores do rock alternativo, como Pixies, Sonic Youth e Built To Spill.
Antes do fim, sobra tempo para uma interessante versão de “Ivy”, de Frank Ocean, onde Will volta a ser solitário em sua própria banda, assumindo a canção apenas com guitarra e voz, chegando ao final com a explosiva “Beach Life-in-Death”, com os seus 13, nada monótonos, minutos de duração.
Sempre teremos a busca pela salvação do rock e a solução dessa tão antiga frase talvez esteja em apenas se deixar rejuvenescer, mesmo que com fórmulas não totalmente inovadoras, que trazem o espírito antigo daqueles que consideramos, com justiça, os pilares do amigo Rock and Roll em suas diferentes vertentes.
Se o Car Seat Headrest fosse filho da geração que teve suas músicas expostas na televisão, em canais especializados ou em rádios que atingiram a grande massa, da forma que consumíamos música há décadas atrás, teria grandes chances de ocupar um lugar maior, driblando a rapidez da informação atual que faz com boas bandas passem despercebidas por muitos, por nós, que nos acostumamos a pensar em 15 segundos, já esperando a próxima novidade.