O ano era 2004 e o streaming ainda não tinha força (e sequer existia). A rádio e a televisão ditavam o que “merecia” ser divulgado ou não. Naquele ano, Detonautas, Adriana Calcanhoto, Os Travessos e Latino tinham hits incontestáveis. Era pop rock, pagode, MPB, pop e muito mais na programação das mais populares frequências radiofônicas.
A partir dali, no entanto, um outro gênero, hoje muito popular, dava seus primeiros passos rumo ao mainstream nacional. Estamos falando do funk carioca. Mas não podemos ser ingênuos e falar que ele não existia antes. Nas favelas, os famigerados bailes funk já tinham conquistado grande público há pelo menos duas décadas, inclusive ganhando fãs do lado “de fora” das comunidades cariocas.
Já tínhamos nomes que “desceram o morro” para festas pelo Rio de Janeiro inteiro, como os incríveis Bonde do Tigrão, MC Marcinho e MC Bola de Fogo. Mas nenhum deles era mulher (desconsiderando colaborações como “Um Tapinha Não Dói”, de Naldinho & Bela). Mas eis que, em 2004, justamente uma canção interpretada por uma voz feminina ganhou visibilidade e chegou a rádios e pistas de dança no Brasil inteiro.
Era a voz de Tati Quebra-Barraco, em “Boladona“. Usando sample de “Lovestory“, canção eletrônica da dupla Layo & Bushwacka, o hit apresentou a todos uma nova visão narrativa do gênero. Podemos dizer que Tati abriu as portas para o funk feminino e revolucionou o gênero.
“Pra balançar o seu coreto, pra você de mim lembrar”
Se temos hoje Anitta, Ludmilla, MC Carol e diversas outras intérpretes que levantam a bandeira do empoderamento feminino, é porque tivemos o pioneirismo de Tati Quebra-Barraco.
Os funks mais populares da época eram essencialmente cantados por homens. Havia mulheres na cena, é claro, mas a barreira sexista do gênero foi quebrada, podemos dizer, quando Tati levou a faixa-título de seu segundo disco para o Brasil inteiro.
Entre os fatos que contribuíram para a popularização da música está a letra mais “limpa”, sem o uso de palavrões. Isso, em termos comerciais, foi agradável para rádios e canais de televisão, diferentemente de outras canções de Tati como “Dako é Bom“, também lançada no disco Boladona em 2004.
No entanto, analisando mais a fundo a discografia da cantora, vemos que ela é mais do que aquela faixa. O funk da época não estava acostumado, pelo menos ainda, a ter uma mulher na posição ativa de protagonista. Isso fez com que Tati se tornasse um símbolo de resistência e empoderamento para as mulheres.
Ela se tornou uma figura aclamada da música brasileira, ganhando reconhecimento também no exterior por conta de seu trabalho.
Tati Quebra-Barraco atualmente
Após o sucesso de Boladona, Tati ficou um tempo sem lançar músicas novas, até que divulgou, em 2014, o disco Se Liberta. No álbum, ela explora novas sonoridades como o pop e o pagode.
E ela continua na ativa. No final de 2017, Tati colaborou com Heavy Baile e Lia Clark na faixa “BERRO“. Em recente entrevista para o Jornal do Commercio, a cantora afirmou já ter material pronto para um novo disco. Será que veremos novidades de uma das principais precursoras do funk em breve?
Obrigado, Tati. A música brasileira deve muito a você!