"Existem sacrifícios a serem feitos": conversamos com o Mineral sobre retorno e primeira vez no Brasil

Conversamos com Jeremy Gomez, baixista do Mineral, banda influente do emo e post-hardcore que vem pela primeira vez ao Brasil neste mês. Confira!

Mineral
Divulgação

Está chegando a hora de os fãs brasileiros finalmente se encontrarem com o Mineral, banda influente do emo e post-hardcore.

O grupo vem pela primeira vez à América do Sul neste mês de Agosto, com uma turnê que comemora os 25 anos de estrada. Como te contamos por aqui, a banda toca no Rio de Janeiro (23), São Paulo (24) e Curitiba (25), e não vem de “mãos vazias”.

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Em 2018, após anunciar seu retorno aos palcos, os caras lançaram suas primeiras inéditas em longos 20 anos. O último disco completo foi EndSerenading, de 1998, seguido por uma pausa de mais de uma década.

Após uma breve reunião em 2014, o Mineral voltou com as faixas “Aurora” e “Your Body is the World”, que acompanham a biografia One Day When We Are Young. Com fotos e diversos depoimentos, o livro conta a história de um dos grupos mais influentes da cena nos anos 90, assim como aborda, também, a motivação por trás dessa reunião.

Para entender um pouco mais sobre isso e saber o que esperar dos shows por aqui, conversamos com Jeremy Gomez, baixista da banda, em um bate-papo também sobre discos favoritos, possível álbum novo e era da Internet.

Confira após o player!

Entrevista – Mineral

TMDQA!: Oi, Jeremy, muito legal poder falar com você! Essa é a primeira vez que a banda vem à América do Sul, e o momento não poderia ser melhor: esse é o aniversário de 25 anos do Mineral e logo depois de um retorno com música nova. Como tem sido a resposta a esses shows!

Jeremy Gomez: Tem sido incrível! Bem, na maior parte. Alguns shows são melhores que os outros, é claro. No geral, porém, continua sendo uma experiência maravilhosa essa de tocar com e para nossos amigos. Nunca deixa de nos impressionar o fato de que há pessoas ao redor do mundo que realmente se importam com essa banda e com a música que fizemos.

TMDQA!: Imagino que sim! Tenho certeza que lançar essas duas músicas novas deve ter sido uma aventura, principalmente depois de tanto tempo. Gravar com os caras é diferente hoje em dia? Se sim, como?

Jeremy: Muitas coisas foram bem diferentes do que costumava ser. É claro que foi emocionante quando terminamos tudo e pudemos nos sentar e ouvir as músicas completas, mas certamente houveram momentos em que não tínhamos certeza se era algo que íamos conseguir fazer. Sem exagero, porque no final das contas eram apenas duas músicas, mas levamos a ideia muito a sério em termos do que queríamos transmitir com elas, e escrever músicas que precisavam, no mínimo, se encaixar no catálogo geral de uma banda que não tinha escrito nada em 20 anos foi um grande desafio. Foi ótimo estar de volta ao estúdio.

TMDQA!: Falando nisso, o último disco do Mineral foi lançado em 1998, quando a indústria da música e, é claro, todo o resto, eram muito diferentes de hoje — a Internet sendo a mudança mais gritante. Quando falamos de feedback e como as pessoas reagem às coisas atualmente… vocês têm lidos comentários online sobre a banda?

Jeremy: Eu tento não fazer isso, mas eu entro nas redes sociais da banda ocasionalmente. É bem inofensivo, já que são todos fãs que (geralmente) não têm nada ruim pra dizer. Fora isso, eu não me preocupo com esse tipo de coisa. A Internet é um lugar terrível na maioria das vezes, então quanto menos você se deixar imergir nesse mundo, melhor, até onde eu sei.

TMDQA!: Muito tem se falado sobre o movimento emo e seu impacto na música. Apesar do Mineral ter incorporado outros elementos no material, a banda ainda é muito associada a esse gênero, principalmente por ter sido um grupo tão influente para tantos outros da cena nos anos 90. E falando na cena, como você a enxerga nos dias de hoje?

Jeremy: Olha, vou te dizer que eu realmente não tenho muita noção de como está essa cena musical hoje em dia. Eu sei, pelo menos por cima, que há uma nova safra de bandas por aí que dizem ser influenciadas pela música que nós, e outras bandas que eram nossas colegas na época, fizemos. É muito legal que alguém seja influenciado por nós. Quanto a esse assunto do “emo”, temos mais ou menos o aceitado como um rótulo do qual não dá para escapar nessa altura. Isso nunca fez muito sentido para nós na época, considerando que não estávamos partindo de qualquer tipo de experiência ou influência hardcore. Além disso, naquela época o termo era bastante usado de forma depreciativa, o que significava que muitos de nós, o Mineral e outras bandas que conhecíamos na época, muitas vezes tentávamos nos distanciar dele. Provavelmente faz menos sentido agora, considerando as bandas que eventualmente trouxeram esse termo para o mainstream, mas tanto faz. Eu não passo muito tempo pensando sobre isso.

TMDQA!: O livro One Day When We Are Young diz muito sobre os primórdios da banda, e como vocês sentiram que aquilo não daria certo em um determinado momento… mas deu! Lá atrás, o que fez vocês continuarem?

Jeremy: Foi só isso que fizemos! Não havia realmente nenhum grande plano em mente, nós éramos apenas jovens e a única coisa que nos interessava era estar em uma banda. Foi um momento diferente na vida, sabe? Quando as únicas coisas que você tem que se preocupar são o aluguel, seu equipamento e convencer seu chefe a deixar você voltar ao seu trabalho de merda (novamente) depois da turnê. Como foi dito no livro, eu não acho que nenhum de nós se sentia particularmente confiante no que estávamos fazendo, mas foi 100% natural, para o bem ou para o mal, e nós definitivamente sabíamos que iríamos nos divertir enquanto aquilo durou.

TMDQA!: E agora, o que fez vocês voltarem e ainda por cima embarcarem em uma turnê?

Jeremy: Já tinha passado tempo suficiente, e nós recebemos uma ligação perguntando sobre a possibilidade de reunir o Mineral para um show. Um velho amigo meu e do Chris [Simpson], o inimitável Jeff Klein, se envolveu com nosso agente depois de nos convencer de que valeria a pena saber o interesse que as pessoas tinham em uma reunião completa. No fim das contas, o interesse estava ali, então chamamos algumas outras pessoas a bordo para ajudar a colocar a coisa toda funcionando, enquanto nos propusemos a tarefa de nos reconectar uns com os outros e com as músicas. Tudo começou a partir daí.

TMDQA!: Falando sobre turnês e o retorno, depois que vocês tomaram a decisão, imagino que alguns sacrifícios dos membros tiveram que ser feitos para que tudo desse certo. Vocês pararam algum outro projeto para reunir o Mineral?

Jeremy: Com certeza sim, e ainda existem sacrifícios a serem feitos. A vida não para só porque decidimos sair por aí e fazer alguns shows e gravações. Principalmente trabalho, escola, famílias… esse tipo de coisa. Musicalmente, quando nos reunimos pela primeira vez em 2014, eu tinha tocado em vários projetos bem consistentemente ao longo dos anos, mas na época aconteceu de eu ter parado um pouco de tocar, só para me concentrar um pouco mais em outros coisas na minha vida. Chris fez o seu projeto Zookeeper (agora se chama Mountain Time), no qual ele ainda toca. Já que esse está totalmente sob o seu controle, ele pode dar uma pausa sempre que precisarmos nos concentrar no Mineral. Os outros caras, pelo menos na época, não eram músicos ativos, mas Scott [McCarver] voltou a se reunir com um antigo parceiro de composição para trabalhar em outro projeto.

TMDQA!: E planos para um novo disco… temos?

Jeremy: Não, nenhum. Isso não quer dizer que isso está 100% fora de questão, porque nunca se sabe, mas no momento não temos planos. Quando escrevemos e gravamos as duas novas músicas para o livro que lançamos, partimos com um objetivo bem específico de apenas fazer duas músicas para o compacto de 7 polegados. É claro, acabou se transformando em um de 10, porque “Aurora” é longa pra caralho, mas nós definitivamente sabíamos que teríamos esse trabalho feito para nós e não queríamos nos estender demais ou colocar qualquer pressão extra para escrever um álbum completo. Nós não estamos interessados em refazer ideias antigas, ou soar como uma banda de covers do Mineral apenas para fazer um monte de músicas juntos, então o trabalho que é necessário para fazer isso certo é algo que eu não acho que algum de nós possa imaginar neste ponto. Mas, como eu disse, nunca se sabe.

TMDQA!: Quais são suas expectativas para os shows na América do Sul? Aliás, você tem uma mensagem para seus fãs brasileiros?

Jeremy: Estou muito ansioso para ir aí e ver outra parte do mundo que eu nunca vi, e me conectar com todos os fãs brasileiros que têm nos apoiado de uma maneira incrível ao longo dos anos!

TMDQA!: Para finalizar, o nome do nosso site é Tenho Mais Discos Que Amigos. E falando nisso… qual disco você diria que é o seu melhor amigo?

Jeremy: Eu sempre tenho problemas com essas listas de “favoritos”. Eu sou muito volúvel. Ultimamente tem sido o Sunday at the Village Vanguard, do The Bill Evans Trio. Eu amo ouvir esse álbum com fones de ouvido. É um disco ao vivo, mas gravado muito bem. Cada barulho de tinido de vidro e de cadeiras faz parte da experiência. Sem mencionar que tem algumas das mais belas partes que foram escritas pelo baixista da época, Scott LaFaro, que morreu dez dias depois em um acidente de carro, então é uma vibe bem pesada.

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