Filmes de ação e os novos brucutus do cinema em Hollywood

Será que finalmente vamos deixar de lado o modelo de herói gigante e bombado que explode coisas e conquista donzelas indefesas?

Arnold Schwarzenegger em ação nos anos 80
Foto: Divulgação/Internet

Os anos 80 e 90 foram uma ode à glorificação do homem hétero machão no cinema. São incontáveis os filmes protagonizados por grandalhões fortíssimos que salvam o dia de formas miraculosas contra ameaças globais. Não à toa, Sylvester Stallone reuniu, e não faz muito tempo, vários desses heróis “da vida real” no glorioso Mercenários.

Mas era óbvio que essa estereotipação masculina na figura de homens bizarramente fora do padrão seria questionada e, adivinhem, essa hora chegou. Apesar de os corpos musculosos e os clichês narrativos ainda estarem em vários filmes (vários mesmo), o sucesso no uso desse tipo de protagonista já não é tão garantido como foi no passado. É importante reconhecer alguns avanços, por menores que sejam, e alguns figurões em Hollywood têm mostrado certa vontade de mudar esse status.

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Um sinal desse processo é que vários atores que normalmente seriam conhecidos por seus personagens que só explodem coisas e falam frases de efeito têm tido sucesso em outro gênero: nas comédias. The Rock é o melhor exemplo de como estrelas da prateleira mais alta abraçaram a galhofa e frequentemente são vistos fazendo piada do próprio biotipo nos filmes em que protagonizam.

Esse é um movimento natural, no qual os próprios astros de ação estão engajados. Terry Crews, Jason Statham, Chris Hemsworth e o próprio Dwayne Johnson são artistas que têm mudado o perfil dos seus papéis. O fato de a maior parte deles ter estourado em Hollywood nos anos 2000 também não é mera coincidência. 

Alguns diretores também contribuem para essa mobilização, focando mais na ação em si e utilizando uma dose de ironia para justificar a pancadaria gratuita. É o caso de David Leitch e Matthew Vaughn, por exemplo.

Foto: Divulgação/Internet

“Ah mas o Schwarzenegger já fazia comédia lá atrás”. Que bom! O eterno Terminator aproveitou o tamanho (com o perdão do trocadilho) que ele tinha na indústria para pavimentar um caminho que só seria consolidado muito tempo depois. 

Hoje, já podemos assistir às heranças daquela época sem cair no vórtex do homem-poderoso-que-salva-o-dia-e-ganha-a-donzela-indefesa-como-recompensa. Por exemplo: Mad Max: A Estrada da Fúria (2015) tem um protagonista que não precisa de um romance como muleta para evoluir como ser humano, além de apresentar personagens femininas com destaque – nesse caso, mais até que o próprio “dono” da franquia.

A Espiã Que Sabia de Menos (2015), por sua vez, é uma sátira aos filmes de espionagem e tem Jason Statham apenas em um papel secundário. Para a turma do “quem lacra não lucra”, o filme com Melissa McCarthy custou US$ 65 milhões, arrecadou em bilheteria mais de US$ 230 milhões e se tornou uma grata surpresa no ano em que foi lançado.

Foto: Divulgação/Internet

No recente Hobbs & Shaw (2019), spin-off de Velozes e Furiosos, o estereótipo do brucutu ainda está presente, mas é usado de forma diferente daquela na qual conhecemos com o bad boy Dominic Toretto, lá atrás, em 2001. O homão gigante agora é alvo de piada e de uma glorificação autodebochada, e não de uma idealização como modelo a ser seguido.

Ironicamente a quantidade de brucutus aumentou em Velozes e Furiosos (The Rock, Jason Statham e Idris Elba) e a franquia continua não sendo nenhuma maravilha da sétima arte. Mas alguns passos foram dados e os gigantes carecas já sabem que não são tão incríveis como antes.

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