Do pagode à música eletrônica: ouça 5 releituras de "Zé do Caroço", clássico de Leci Brandão

Uma das canções mais regravadas da música brasileira, "Zé do Caroço" celebra legado de José Mendes da Silva, ícone do Morro do Pau da Bandeira, Rio.

Zé do Caroço
Foto: Reprodução / Youtube

Um bom personagem, em uma história, é usado como forma de representar ou personificar algo. Seja a bravura de um Capitão América ou a loucura de um Hannibal Lecter, eles sempre possuem uma motivação.

A música também tem personagens muito bem construídos em meio a versos e estrofes, e não faltam exemplos brasileiros disso. Os nomes são inspirados tanto em pessoas que de fato existiram (como “Anna Júlia”, do Los Hermanos) quanto em representações sociais (como “Pedro Pedreiro” de Chico Buarque). No entanto, um dos mais impactantes personagens da música brasileira é o “Zé do Caroço“, de Leci Brandão.

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Através da canção, lançada originalmente em 1978, somos apresentados a todos os detalhes da vida do protagonista. Zé é morador do Morro do Pau da Bandeira, no bairro carioca de Vila Isabel, e dedica sua vida ao bem-estar dos colegas de comunidade. A importância da música, em seus contextos políticos e sociais, desaguaram em documentários, reflexões, estudos e, obviamente, várias covers.

 

Ele realmente existiu!

https://www.youtube.com/watch?v=fA_u9lY3fO4

Zé do Caroço, assim como todo super-herói, parece ter sido criado como uma mensagem de esperança para a humanidade. No entanto, ele realmente existiu, e seu nome verdadeiro foi José Mendes da Silva.

Morador do Morro do Pau da Bandeira desde 1958, Zé (que ganhou apelido por conta da presença de nódulos em suas juntas), mesmo sem estrutura, quis dar algum tipo de assistência pública à comunidade. Ele instalou alto-falantes e os usava como um instrumento do conscientização social. Falava desde sobre o preço dos produtos da feira até sobre coisas que o Morro estava precisando.

Sempre apto a deixar clara a realidade, costumava falar justamente no horário das novelas. Enquanto as televisões exibiam ficções com fins de entretenimento, Zé falava em seus auto-falantes sobre o que realmente precisava ser dito. Ele dedicou sua vida a isso até seu falecimento diante de uma insuficiência respiratória, em 2003.

Foto: Reprodução / Youtube

Leci Brandão chegou a conhecê-lo pessoalmente, e sentiu-se inspirada pela figura de José e pelo o que ele representava para os moradores da comunidade. Após sua gravação, vários outros artistas resolveram contar, cada um à sua maneira, o legado deste personagem tão importante.

Confira abaixo 5 covers de “Zé do Caroço”:

 

1 – Para dançar: a versão do Grupo Revelação

A verdade precisa ser dita. Leci apresentou a muitos a poderosa história de Zé, mas quem levou o personagem às massas foi o Grupo Revelação. A banda regravou a canção em seu homônimo disco de estreia, em 2000.

A nova versão trouxe a energia dançante do pagode para a homenagem. O bom momento vivido pelo gênero na época ajudou a canção a chegar em mais ouvidos. Isso é reforçado pela própria Leci Brandão em um documentário feito para celebrar a trajetória do personagem.

 

2 – Seu Jorge em uma versão delicada e suave

Outro artista que ficou encantado pela história de Zé do Caroço foi Seu Jorge. Ele resolveu gravar uma releitura da canção no incrível Ana & Jorge, álbum gravado com Ana Carolina em 2005 (sim, o mesmo de “É Isso Aí”).

Em uma intimista performance voz-e-violão, Jorge chama a atenção para a impactante letra da música. É de arrepiar!

 

3 – Mariana Aydar, cavaquinho e a batida de funk

A paulista Mariana Aydar foi a primeira artista fora do estado do Rio de Janeiro a notoriamente levar adiante essa querida história. Em Kavita 1, álbum de estúdio da cantora lançado em 2006, ela regravou “Zé do Caroço” com a própria Leci Brandão, em um emocionante dueto.

Bebendo de diversas fontes da MPB que fazia sucesso na época, a interpretação chama atenção pelos belos vocais de Mariana, que ainda trilhava seu caminho a se tornar um grande nome na nossa música. Mais uma vez, a delicadeza instrumental deixou que a letra sobressaísse.

Em 2009, Mariana deu uma nova ambientação ao hit em uma apresentação ao vivo. Desta vez, a música ganhou um reforço no cavaquinho e contou com a adição da característica batida do funk carioca, gênero também originado nas comunidades locais. Confira ambas as versões abaixo:

 

4 – Pesado e necessário: o rock da Canto Cego

Conforme noticiamos por aqui, a banda Canto Cego também já prestou uma homenagem à canção. A letra, por sinal, casou muito bem com a proposta do grupo de levar, através da música, o nome da periferia carioca para o mundo.

A versão entrou para o disco de estreia Valente, de 2017, e conta com um som mais pesado que dialoga com a estética da Canto Cego. No clipe, vemos desde jovens a idosos em seus respectivos cotidianos, vivendo a batalha de cada dia. É uma forma linda de homenagear o legado do Zé do Caroço.

Vale destacar também que Leci também participa do clipe.

 

5 – A ambientação eletrônica de Jetlag e Anitta

A mais recente versão a ganhar popularidade foi resultado de uma parceria entre o duo eletrônico Jetlag e a cantora Anitta. Após começar com o som dedilhado do violão, a releitura vai incorporando tímidos elementos eletrônicos até se assumir como tal após o verso “Nossa escola é raiz, é madeira”.

Foi uma interessante alternativa encontrada para apresentar a história do personagem para uma nova geração de ouvintes do pop brasileiro. É sempre válido lembrar que a dança também é uma forma respeitosa de celebrar um legado, tal como fez o Grupo Revelação no início do milênio.

Salve, Zé do Caroço!

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