Entrevistas

"Pop rock triste para jovens inquietos": entrevistamos a banda Los Volks sobre as mudanças da vida

Pablo Mello, da Los Volks, nos contou sobre como lidar com o fim de ciclos. Recentemente, a banda divulgou o clipe de "Santa Bárbara".

Los Volks
Foto: Luiz Gustavo Z Negri

Mudanças são parte da vida. Algumas são boas e outras nem tanto, mas precisamos encará-las querendo ou não.

A mudança brusca na transição entre a adolescência e a fase adulta é uma delas. De repente, somos social e culturalmente obrigados a assumir responsabilidade e, assim, enxergar uma nova face da experiência da vida. Se acostumar é difícil, mas é preciso.

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Essa fase turbulenta na vida de qualquer ser humano é um dos temas principais do disco de estreia da banda paulista Los Volks, lançado no este ano. Homônimo, o álbum traz essas discussões à tona de forma amadurecida, mas buscando confortar quem se encontra em tal situação. “Esquece o teu afeto pois ele não vale as sobras do jantar”, conta, por exemplo, a letra de “Você Tem Que Acordar“.

Enquanto isso, o grupo propõe uma interessante mistura sonora. Tem música brasileira dos anos 70, o rock alternativo do movimento britpop e um quê de indie rock, tudo junto e misturado.

 

“Santa Bárbara” e a aceitação das mudanças

Por falar em mudanças, elas também foram a inspiração para o clipe da faixa “Santa Bárbara“, lançado recentemente. Isso porque trata-se do último registro com dois dos membros do quinteto, Vinícius Souza (guitarra e voz, além de compositor da faixa) e Vinicius Santos (bateria). O clipe foi uma forma de a banda se despedir de um ciclo que começou há cerca de três anos.

A partir de agora, a banda assina como um trio, com os membros Pablo Mello (voz, guitarra e violão), Isabella Araújo (baixo) e Carolyn Areias (voz). E mais novidades estão a caminho, então vale ficarmos de olho!

 

“(…) pensamos no nome Los Folks”

Conversamos com o vocalista Pablo Mello sobre o disco homônimo, sobre a experiência no mundo da música. Ele nos deu sua visão sobre o processo de amadurecimento de um jovem adulto. Também conversamos sobre a importância de se aceitar o fim dos ciclos da vida, assunto principal no disco de estreia do grupo.

Confira abaixo:

Foto: Rafael Pivato

TMDQA!: Como surgiu a banda? Qual a origem do nome e o que juntou vocês na Los Volks?

Pablo Mello: A história da banda é um tanto longa. A banda surgiu em uma piração minha de fazer música autoral. Antes da Los Volks, eu e a Carolyn (Areias) tínhamos um projetinho desde os 12 anos. Estava de saco cheio de tocar música cover: Pitty, Evanescence… Surgiu desse meu embalo de querer fazer algo próprio. Passamos por várias formações até começarmos a gravar o nosso segundo EP Luna. Na época, só tinha sobrado eu e Carolyn na banda. A primeira decisão foi que queríamos levar o projeto para frente. Foi uma época de mudanças sonoras também. Antes do Luna, a gente tinha muita influência do punk rock e do garage rock.

Já o nome da banda foi algo muito natural. Assim que montamos, esse nome me veio à cabeça. Antes de termos todas essas inspirações musicais, eu me reunia com dois colegas meus. Estávamos enrolando alguns acordes de folk, e pensamos no nome Los Folks. Só que esse nome já existia. Trocamos para Los Volks e chegamos a fazer apenas uma apresentação em uma escola. Depois, perguntei para eles se existia algum problema em usar o nome, e eles disseram que era de boa. Achei que o nome batia com o que a gente queria fazer na época. Soou legal.

TMDQA!: A sonoridade dos EPs anteriores era um pouco mais pesada e tinha mais influências de composições em inglês. Queria que você explicasse um pouco sobre como vocês chegaram à concepção sonora do disco.

Pablo: Eu vou falar trabalho por trabalho, porque acho que fica mais fácil. No primeiro EP, dá para resumir em cinco pessoas que gostavam muito de Sex Pistols e dos Stooges. O nosso show era meio fritado, sabe? No meio disso tudo, tinha uma canção acústica que gravamos após muita insistência minha. Já no segundo EP, após o desmanche da banda, eu estava ouvindo coisas completamente diferentes. Eu vi ali uma oportunidade para conseguir colocar as minhas referências. Falei para a Carol o que eu estava ouvindo e disse que existia público para isso. Ela acabou achando a ideia legal. Mas eu considero que no Luna a gente se perdeu um pouco. Colocamos duas faixas instrumentais, uma bossa nova lentíssima, duas canções de indie rock…

Depois nos encontramos em uma formação e passamos o ano de 2017 pensando em um disco. Ficamos o ano inteiro compondo coisas. Tínhamos uma tecladista na banda na época, com quem gravamos “Tarde de Domingo“. A saída dela, logo depois, fez com que a gente mudasse todo o repertório do disco. Pensamos em trabalhar as músicas de outra forma. Antes de sentarmos para gravar mesmo, a gente pré-definiu as influências que seguiríamos. Algumas canções nós filtramos e outras surgiram ao decorrer das gravações como “Guarde Suas Joias“, “Então É Aqui” e “Turquesa“.

TMDQA!: Dá para perceber que vocês se exploraram muito musicalmente, saindo da zona de conforto para buscar uma sonoridade diferente.

Pablo: Eu acho que é uma mistura disso com um processo de amadurecimento. É diferente entrar em um estúdio sem nunca termos entrado em um estúdio antes, aos 17 anos, e entrar um estúdio melhor, trabalhando com produtores parceiros. Tínhamos mais experiência e isso somou bastante.

TMDQA!: Tem isso de querer um resultado específico. Acho que isso incentiva um resultado melhor.

Pablo: Existe uma pressão muito grande por ser o primeiro disco. Você não sabe se vai ter essa oportunidade de novo. Foram dois anos juntando dinheiro para pagar. Agora estamos explorando bastante o audiovisual, através de parcerias que a gente tem conseguido. No meio da divulgação dos clipes, a gente vai lançar novo material para trazer a nova formação à tona.

 

“É uma mistura muito grande entre nomes novos com nomes mais antigos”

TMDQA!: Você estava falando sobre as influências da banda, que bebem um pouco do rock setentista e do indie. Que artistas mais influenciaram vocês, especificamente falando?

Pablo: Eu acho que passa pelo britpop do Oasis, do Semisonic e do Blur. Também bebemos muito do Radiohead, especificamente do OK Computer. É basicamente uma mistura entre o rock alternativo dos anos 90 e a música brasileira dos anos 70 com o indie, que está muito presente para nós. O Arctic Monkeys também me marcou bastante. Pegamos Plutão Já Foi Planeta, Supercombo, A Banda Mais Bonita da Cidade, Cícero, Rubel, O Terno… É uma mistura muito grande entre nomes novos com nomes mais antigos. A gente percebeu que o nosso público é o mesmo que consome AnaVitória, Rubel, Tim Bernardes… Mas isso se dá de uma maneira muito natural.

TMDQA!: É um álbum que fala muito sobre sentimentos, mudanças, rotinas, relações pessoais… É uma espécie de encontro do jovem com o adulto. Como esse encontro está dentro de vocês e como foi transcrever isso para as músicas?

Pablo: Essa temática do disco surgiu de forma muito natural, porque é exatamente o que estamos vivendo hoje. Saímos do ensino médio há pouco tempo. Estamos na faculdade tentando sobreviver às desilusões e à forma como a vida foi se mostrando para nós. Somos adultos recentes, ainda jovens. Ainda estamos nos acostumando com essa transição entre ser um adolescente e precisar encarar as responsabilidades que a vida adulta implica. A vida adulta é repleta de decepções e desilusões. Isso vai acontecer ao longo da vida. Você vai confiar em pessoas e não vai obter retorno, mas a vida segue.

A vida é feita de ciclos. Eu, pessoalmente, não lido bem com términos. Este ano teve o término do meu relacionamento que estava prestes a fazer um ano, e aí teve a saída dos meninos também. Não é fácil. Normalmente, as pessoas mais velhas falam que não tem problema, porque somos jovens e vai ficar tudo bem. Só que as coisas não são tão simples assim. Apego é uma coisa muito importante. Esse disco foi muito importante para nós enquanto pessoas, e não apenas enquanto músicos.

Foto: Tyna Cardoso

 

“Nossa música é um abraço”

TMDQA!: Uma que eu adoro em vocês é a descrição do Twitter da banda, que diz “pop rock triste para jovens inquietos”.

Pablo: É exatamente isto (risos)! Somos uma banda de pop rock triste para jovens inquietos. As nossas músicas são melancólicas. O ponto é: o meu modo de escrever é muito no sentido de caçar sentimentos que estão me fazendo mal e usá-los como inspiração na hora em que estou bem. E isso acaba rendendo letras e melodias mais melancólicas. Já a parte dos “jovens inquietos” é porque os jovens são inquietos, né? Eu gosto de falar que a nossa música é como um abraço. algo como “Vem cá, meu querido. Tá tudo bem!”.

Foto: Reprodução / Twitter

TMDQA!: Acaba que é um álbum que pode gerar uma grande identificação com o público jovem, desde o garotinho até o recém-adulto.

Pablo: O Tim (Bernardes), uma vez, falou que o último disco d’O Terno é sobre a chegada aos 30. O nosso é sobre a chegada aos 20. Isso criou em nós até uma certa crise sobre o que vamos falar a partir de agora. Eu comecei a escrever muitas coisas e cheguei a lançar solo uma música. Eu sou muito ativo e escrevo muitas coisas, desde coisas que podem ir para a banda até coisas que acho que não casam.

https://www.youtube.com/watch?v=uyuYrUR-UU4

TMDQA!: Como você descreveria uma apresentação ao vivo da Los Volks?

Pablo: Essa é difícil (risos)! A Los Volks apresenta um repertório constituído pelo setlist do nosso disco homônimo de estreia. Se você é um jovem inquieto que precisa colocar para fora todos os seus sentimentos e precisa de alguém para te dar um abraço, a gente está aqui com toda a sinceridade possível. Interagimos com o pessoal durante as músicas. É a nossa verdade, que acaba se expandindo para todo mundo que está com a gente.
A gente espera alcançar cada vez mais pessoas com o nosso trabalho. Esperamos futuramente poder entregar mais para as pessoas. Temos mais lançamentos à frente. Ouçam e compartilhem o nosso som!

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