Precisamos falar do Surra! É assim que podemos definir em poucas palavras um dos grupos que mais estão fazendo barulho, literalmente, em 2019 nos streamings e palcos dos Brasil.
A banda de Santos que surgiu em 2012 lançou recentemente o brutal Escorrendo Pelo Ralo, onde despeja, em 30 minutos, um caminhão de pedradas sonoras tentando fazer o som mais pesado e mais rápido possível, como eles mesmos definem. Ao alcançar o objetivo, colocam os dois pés num thrash/punk de muita qualidade, fazendo muita justiça aos grandes nomes da história da música pesada nacional.
Léo Mesquita (guitarra e vocais), Guilherme Elias (baixo e vocal) e Victor Miranda (bateria), não precisam de muito tempo para destilar pérolas como “O Mal Que Habita A Terra” e “Do Lacre Ao Lucro”, as duas primeiras que abrem o disco, que em dois minutos já deixam o recado que o Surra é urgente e vai colocar o dedo na ferida sem piedade.
A banda se faz fácil de explicar com uma metralhadora de palavras e trechos inteligentes como a citação da “diferença ideológica entre as gerações” na faixa título “Escorrendo Pelo Ralo”, ou “A nossa vida faz sentido dentro que a gente acha que viveu” em “Ultraviolência”, caindo em “Jogo Sujo”, retrato fiel e questionador do atual caos humanitário nacional.
Não dá tempo respirar entre faixas como “A Lei da Dúvida”, “Anestesia” e “Mais Um Refém”, onde tudo vai construindo um muro de debates com o ouvinte, chegando na dupla “Virou Brasil pt. 1”, um samba (isso mesmo!) que abre espaço para “Virou Brasil pt. 2”. São retratos instantâneos a cada tema e a cada sequência de riffs acompanhados da cozinha insana, que também ataca forte em todos os arranjos.
Um minuto é o suficiente para o recado do Surra direcionado aos problemas críticos da cidade natal, Santos, na faixa de mesmo nome, que abre caminho para “Madeira e Sangue” e “Bom Dia Senhor”, duas faixas mais longas e extremamente bem trabalhadas. As únicas com mais de três minutos de duração.
Em tempos confusos, temos uma banda que nunca se priva de passar o recado que quer, que cresce a cada lançamento e já se posicionou com destaque no gênero.
Se o Surra passar pela sua cidade, pode ir sem medo conferir um dos shows mais explosivos e enérgicos do ano.
O Surra questiona o egoísmo, as elites perigosas, as relações de trabalho em forma de exploração, a religião, a falta de esperança e a falta de bom senso em dias tão complicados. Tudo é argumentação. É difícil, mas possível de enxergar a luz no fim do túnel.