A banda brasileira Asfixia Social continua em turnê pela Europa e nós já te contamos por aqui sobre as primeiras duas partes deste diário de bordo.
O início da jornada se deu com apresentações com o nome apropriado de “Where’s Democracy? Not In Brazil…”, ou “Onde está a Democracia? Não no Brasil…”, e agora Luis Otávio, agente da banda que está com os caras, conta pra gente como foram os novos shows.
Você pode ver logo abaixo.
Diário de Bordo – Asfixia Social na Europa
O relato final da turnê, “Where’s democracy? Not in Brazil…”, registrou o Asfixia Social em seis apresentações que passaram por Holanda, Alemanha e Portugal, em eventos que ajudaram na propagação de ideais de liberdade de expressão e luta social, tão presentes nas canções grupo.
Nos dois primeiros capítulos, o foco esteve na presença dos caras no Rebellion Festival 2019, que marcou a estreia do grupo na Europa, com o lançamento de seu livro/álbum, Sistema de Soma: A Quebrada Constrói, além dos sete shows seguintes na Inglaterra, que rolaram em cidades como Liverpool, Manchester, Derby e Londres, onde dividiram o palco com a banda antifascista italiana Los Fastidios, num mini-tour.
Wormerveer, Holanda
A primeira apresentação na Holanda foi na cidadezinha de Wormerveer, a pouco mais de 15 quilômetros de Amsterdam, no De Grooter Weiver, espaço que desde 1984 recebe bandas e artistas de diversas áreas, dentro de sua proposta que agrega cinema, música, gastronomia e feiras diversas, com ações socialmente responsáveis e 100% bancadas por voluntários.
Foi nesse espírito que o Asfixia Social fez seu set completo na casa, despertando o interesse também pelo lado social da banda, que teve ao longo dos anos desenvolveu seu livro/álbum junto aos alunos da rede pública de ensino em São Paulo.
Amsterdam, Holanda
A capital holandesa é mesmo sui generis, e sabe conquistar o visitante com seu clima diverso. E diversidade é lei no Vondelbunker, verdadeiro Squat bem no coração da cidade, um antigo bunker que resistiu a diversas guerras, em pleno Voldelpark, principal área verde da cidade.
O espaço é organizado de forma coletiva, e foi um prazer saber que nossa proposta foi escolhida para dar voz à liberdade de expressão e luta democrática, no Brasil e no mundo. Numa sexta de casa cheia, vimos a inspirada performance de Robert Rigby abrir a noite para uma das mais perfeitas apresentações do quinteto brasileiro Asfixia Social.
Sem exageros, parecia que a banda estava em casa, afinal tanto a atmosfera engajada do espaço, quanto a agressividade e sentido de denúncia e urgência do Asfixia Social estavam totalmente em comunhão. Algumas pessoas pedalaram por duas horas de Wormerveer para ter um bis, e certamente não se arrependeram!
Os holandeses queriam comprar até mesmo o material cênico do grupo, em especial as tags com dizeres como #BolsoNazi, #FuckSergioMoron e afins que decoravam o merchandising nos shows.
Hoorn, Holanda
O terceiro show na Holanda foi num sábado, numa das maiores quermesses de verão da Europa, que acontece sempre na cidadezinha de Hoorn. Lotada de atrações como montanhas russas e quiosques de diversão e de comidas, a cidade investe também na diversidade de atrações durante o fim de semana.
O Café Swaf é um bar underground com música ao vivo e muita cerveja, localizado bem no epicentro da festa, e foi lá que o Asfixia Social mostrou que a sequência de shows os havia deixado cada vez mais sólidos, dando a mensagem tanto em inglês quanto em espanhol e francês, num esforço em se comunicar que foi presenteado pela interação e intensidade da troca com os presentes.
Ao fim do show, o grupo não teve trégua. Era hora de emendar a apresentação com a estrada e encarar quase 800 quilômetros até o coração da Saxônia.
Rochlitz, Alemanha
Ao sul de Leipzig, a cidade de Rochlitz ainda parece ter um clima rural e bucólico, mas não foi nada disso que nos esperava no Treibsand-Freiland Open Air Festival, evento que havia começado na Sexta e que teria a apresentação do Asfixia Social em seu encerramento no Domingo.
Uma coisa é certa, os alemães sabem mesmo se divertir, com o evento abrindo espaço para diversas atrações paralelas, além dos palcos de música eletrônica, rock, jazz e um pouco de tudo, em programação diversa que trouxe mais de 60 atrações musicais.
Vale ressaltar que o festival é organizado pela própria comunidade, que aproveita os dias de evento ao máximo, seja nas tendas musicais, espaços de alimentação e principalmente de bebidas, que concorrem com as belezas naturais do espaço, localizado numa antiga mina de areia da Alemanha Oriental.
O show do Asfixia Social, foi mesmo insano, na medida exata do teor psicodélico reinante no festival, com a banda curtindo o primeiro dia realmente quente após quase duas semanas geladas. A energia máxima do grupo refletia no público, que agitou sem parar e arriscava os refrões junto à banda!
Após a apresentação, as preocupações quanto à Amazônia e quanto ao caráter neofascista do governo Bolsonaro dominaram as rodas de conversa, enquanto o público conferia as camisetas, livro, bonés e merch da banda e perguntava sobre o momento bizarro que vive o Brasil e o mundo.
Berlin, Alemanha
Nossa viagem à Alemanha tinha como destino final a cidade de Berlin, capital histórica do país, que abriu às portas ao Asfixia Social em uma de suas casas mais emblemáticas. A Schokoladen, antiga fábrica de chocolate localizada no centro de Berlin, que recebe eventos culturais diversos e shows de grupos alternativos do mundo todo.
A casa preparou uma noite especial para a banda, abraçando o conceito do tour: “Where’s Democracy? Not in Brazil”, tema que mobilizou tanto o público berlinense, quanto diversos brasileiros que vieram prestigiar o grupo. Casa cheia em plena segunda feira!
O Asfixia Social chegou abusando da força do Hip-hop e do Rock para chacoalhar e fazer pensar cada um dos presentes. Mesmo quem não entendia os versos em português entendia a expressão do grupo.
Nessa noite, mais uma vez a harmonia de propósitos entre banda e a audiência foi marcante, com muita gente prestigiando o livro/álbum e interagindo com a banda.
Infelizmente, a realidade brasileira piorou muito aos olhos dos europeus nessas semanas de turnê, que quase não acreditam na irresponsabilidade de nossos governantes, que colocam em risco a floresta, a biodiversidade e a própria história de nosso país, em ações e discursos toscos.
Por outro lado, as reações nos deram certeza de que não estamos sós, e que não faltam pessoas bem informadas e educadas, prontas para estar ao nosso lado nesse momento de resistência.
Setúbal, Portugal
Desde o início, a ideia do Asfixia Social era encerrar os shows europeus em Portugal, afinal não somente o idioma nos une, mas compartilhamos também história e tradições diversas.
Quem nos acolheu em terras lusitanas foi o Hollywood Spot Corroios, localizado na simpática vila de Corroios, Setúbal, ao lado esquerdo do Rio Tejo, bem coladinho à capital Lisboa.
Foi um show poderoso, com lusitanos e brasileiros em perfeita sintonia desde o primeiro momento, a começar pela ótima recepção a cargo de João e Jorge e de toda a equipe do Ginásio Clube de Corroios..
Já antes do show, o clima de confraternização dava o tom, numa bacalhoada e ótima conversa com a banda lusitana Cyco Lolitas e com os colaboradores do local.
Em pouco tempo o bar estava lotado e assistiu a uma noite de intensidade musical onde rock e política se misturaram na dose certa, afinal a data também marcava o lançamento do single “Cara do Inimigo”, que conta com participações do rapper brasiliense Gog, DJ Tano (Z’áfrica Brasil) e os alunos do grupo Vozes Poéticas.
Os Cyco Lolitas, deram bem seu recado e agitaram o público. Brincaram com o fato de muitos brasileiros supostamente “de direita” chegarem à Portugal e se decepcionarem ao saber que o lindo país, exemplo para nossa democracia, é governado por uma coligação de esquerda que tenta proteger os direitos sociais dos trabalhadores no país.
Na apresentação do Asfixia Social, o público, inflamado pelas palavras e pelo som, queria cada vez mais. Em canções como “Quem Sobra”, “A Cara do Inimigo” e “Censura Não”, o decadente governo Bolsonaro era alvo de um contundente discurso de Kaneda, vocal da banda, para deleite de cada um dos presentes,
FIM
O Asfixia Social, já de volta ao Brasil, se dedica agora à divulgação do livro/álbum Sistema de Soma: A Quebrada Constrói, com uma série de shows que se iniciaram em Ribeirão Preto na Egrégora (31/Ago) — e chega à São Paulo no Mescla Festival, que tem como objetivo tocar “80 Canções contra o NeoFascismo”, em memória ao músico Evaldo dos Santos Rosa, assassinado pelo exército no Rio de Janeiro em abril de 2019 com 80 tiros de fuzil, ao passear com a família.