Conversamos com The Lumineers, banda que se reinventa disco cinematográfico

“III”, novo álbum do Lumineers, tem um storyline claro separado em capítulos e promete ser um divisor de águas na discografia do grupo.

The Lumineers
Foto: Divulgação

Grupo que estourou no começo dessa década com o hit “Ho Hey” dentro de uma onda de indie folk que dominou parte do mercado, o Lumineers quer surpreender. Digo isso, pois eu mesmo fui.

Se você, leitor, me dissesse no começo desse ano que um dos discos que mais me impressionariam esse ano seria III, novo álbum da banda, eu não acreditaria. Mas o trabalho, que foi lançado recentemente é um divisor de águas na discografia do grupo.

O projeto conta a história da família Sparks, com seus traumas e ancestralidade e cria um paralelo sobre como somos reflexos das atitudes e legado de nossa família. Abaixo você confere o disco e alguns dos clipes que formam o álbum visual. Você pode conferir abaixo antes de nosso papo, realizado algumas semanas atrás, com o simpático Jeremiah Fraites, pianista, fundador e compositor do Lumineers.

TMDQA: Antes de tudo, parabéns pelo álbum! Quando ouvi me pareceu algo novo, ambicioso e como se vocês estivessem tentando sair da zona de conforto. Quando vocês estavam criando essas canções, a meta sempre foi um álbum conceitual, com essa história, ou foi algo que simplesmente apareceu?

JEREMIAH: Obrigado! Estamos começando a receber o feedback do disco e está sendo incrível. E sendo sincero, foi algo que apareceu! (risos) Começamos escrevendo sem um norte, pensando em nós mesmos e nossas experiências. Algo que sempre fazemos nesse processo de composição. Foi só quando fechamos as demos que notamos que essas músicas não eram algo comum. Tinham três personagem claros que se apresentavam, cada qual a seu momento, na faixa. O conceito meio que se apresentou. Fora que estávamos muito orgulhosos. Eu mesmo, modéstia à parte, acho que foram alguma das linhas de piano mais bonitas que fiz. “Donna”, especialmente, tem uma parte sentimental muito forte para mim.

TMDQA: Esse álbum e a história dele é mais sombria do que qualquer coisa que o Lumineers já fez. Não sei se foi a divisão por capítulos, mas tive a sensação de ler um livro. Literatura foi uma inspiração?

JEREMIAH: Rapaz, boa pergunta! Realmente bem legal essa visão. Eu não sei se diretamente, mas o Wesley (Schultz, vocalista e parceiro de composição de Fraites) lê muito e de tudo. Sei que ele incluiu ali muita coisa da vida dele, dos problemas que ele enfrentou. Mas gostei muito dessa visão sua pois sinto que vai ter uma parcela do público que vai ouvir esse disco e vai ouvir os dois primeiros de novo, com aquela sensação de “olha, sinto que tem algo aqui que perdi”. Acho que os vídeos vão evidenciar isso.

TMDQA: Vamos falar do visual album. Eu estou bem curioso para ver na íntegra pois senti que os vídeos das três primeiras criam novas camadas para as músicas. Como surgiu a ideia de criar um álbum visual? Vocês se inspiraram em algum filme?

JEREMIAH: Primeiro, a motivação foi notar que clipes não estão mortos… Muito pelo contrário. Sinto que o público, quando procura algo novo, procura no YouTube primeiro. A gente já queria deixar algo diferente ali, para o público. Aí a gente pensou que muitas das ideias que temos, das coisas que colocamos nas letras, podem ser muito óbvias para nós que estamos envolvidos nesse projeto, mas que é interessante apresentarmos isso de um modo para o público. A gente se inspirou por um filme que vimos no Netflix que nos impactou. O nome é “Tempos Obscuros”. De lá, fomos descobrir o diretor do nosso visual álbum.

TMDQA: Este álbum fala muito profundamente sobre ancestralidade, sobre intimidade. Como vocês planejam levar isso para palcos de arenas e festivais?

JEREMIAH: Olha, desde o começo a gente foi meio doido! (risos) Tentávamos pensar grandes festivais como um lugar para tentarmos ser intimistas, aproximar o público, e em casas pequenas fazer algo explosivo, grandioso. Seguimos isso, seja num festival como o Glastonbury ou o Lolla aí do Brasil… Aliás, amamos demais o Brasil! (risos) Mas voltando, na época do primeiro disco era bem complicado pois fomos escalados para festivais e várias músicas nem percussão tinham, para guiar um público maior. Meio que aprendemos na marra que o silêncio e o minimalismo podem ser uma arma poderosa para conectar com o público.

TMDQA: Você então tem boas memórias daqui?

JEREMIAH: Nossa, demais! A gente já tinha ouvido falar do público daí, como eles são energéticos… Mas nossa, parece que o público faz o show conosco, tá no palco conosco. A gente esteve no Rio e em São Paulo, se não me engano. Queremos ir a outros lugares no país. Eu adoro o Brasil desde criança, pois sempre acompanhei futebol… O de vocês, não o nosso (falando sobre futebol americano), e sempre gostei de ver a Seleção Brasileira jogar.

TMDQA: Você tem mais discos que amigos? Você tem um disco conceitual favorito, já que estávamos comentando sobre isso?

JEREMIAH: Sim e sim! (risos) O “Dark Side of the Moon” (do Pink Floyd) é um dos meus álbuns favoritos, tipo da vida. E esses dias ouvi uma pessoa falando que o “Kid A”, meu álbum favorito do Radiohead, também é conceitual. Não quero comparar minha banda com eles, seria uma blasfêmia… (risos) Mas estou muito orgulhoso e curioso para ver a reação das pessoas. Sinto que esse seria um ótimo primeiro álbum para uma banda, como um recomeço pra gente.