Há alguns anos, o Popload Festival tem se transformado em referência no mercado brasileiro e trazido uma série de bandas muito pedidas pelo público de música alternativa. Este ano não será diferente, e entre as ótimas atrações está o Khruangbin.
Depois de uma passagem rápida no Brasil no festival More Love, realizado no Rio de Janeiro em Janeiro de 2016, a banda volta em um novo patamar de sucesso após o lançamento de Con Todo El Mundo em 2018.
O sucessor de The Universe Smiles Upon You (2015) viu a banda expandindo a sua sonoridade já cheia de influências, saindo um pouco da veia mais asiática/funk do primeiro disco e trazendo mais elementos latinos, chegando inclusive à surf music em alguns momentos.
É impossível colocar o Khruangbin em uma caixa – e eles nem querem isso. O grupo é adorado por famosos como o cantor Iggy Pop e o ator Haley Joel Osment, e já abriu shows de artistas dos mais variados, como Massive Attack, Father John Misty e Leon Bridges.
Com diversas influências de world music e um pé firme na experimentação, o Khruangbin ainda lançou o disco Hasta El Cielo – uma versão dub do álbum de 2018 – neste ano, e passará pelo Rio de Janeiro antes do Popload.
O show em terras cariocas será no dia 13 de Novembro e os ingressos estão disponíveis pelo site do Queremos!, enquanto a apresentação em São Paulo será no dia 15 de Novembro e o ingresso do Popload pode ser adquirido aqui.
A banda instrumental, formada em meados de 2004 no Texas, nos EUA, conta com Laura Lee no baixo, Mark Speer na guitarra e Donald Ray “DJ” Johnson Jr. na bateria e nos atendeu por telefone para uma conversa agradável passeando por vários assuntos.
Confira na íntegra abaixo!
Vinda ao Brasil e festivais
TMDQA!: Como foi a primeira visita ao Brasil três anos atrás? Vocês conseguiram curtir um pouco o país?
DJ: Nós aproveitamos bastante o final de semana aí. O show foi em um sábado e meu aniversário foi na época em que nós tocamos. Foi muito especial, o Brasil é ótimo.
TMDQA!: Legal! Bom, tocar em festivais grandes não é nenhuma novidade para vocês, que já se apresentaram no Coachella e Best Kept Secret, entre outros. Pelo que vi, inclusive, mesmo nesses shows as apresentações de vocês são super animadas e a plateia interage bastante – o que não é exatamente normal para bandas instrumentais. Vocês conseguem processar e reconhecer o quão legal é isso?
Mark: Eu não sei se já parei pra pensar o quão grande é isso, mas eu entendo o que você quer dizer. Definitivamente não é algo normal com bandas instrumentais. Acho que uma das principais diferenças é que, geralmente, essas bandas acabam ficando muito fixadas em seus instrumentos. Nós olhamos no olho do público, e isso faz muita diferença.
Laura: Eu definitivamente reconheço o quão especial isso é. Eu amo a nossa música e eu amo tocar. E estamos em 2019, sabe? As pessoas estão acostumadas a serem estimuladas o tempo todo. Você sabe que vai perdê-las em algum momento, então fazemos o nosso melhor para elas saírem sorrindo – e nós também. Mas, sim, eu reconheço o quanto somos sortudos e somos muito gratos por isso. É uma troca incrível. Ainda mais com esse aspecto de sermos uma banda instrumental.
TMDQA!: Nessas performances ao vivo, vocês parecem curtir fazer algumas improvisações, medleys e tocar trechinhos de músicas famosas. Acham que essa é uma das vantagens de ser uma banda instrumental? Como vocês ensaiam isso?
Mark: Eu acho que é sim. A gente geralmente tenta incorporar algum tipo de referência à cidade em que estamos tocando, começou assim. A gente não planeja nada com muita antecedência, na verdade, geralmente é coisa de tipo um dia antes do show. Então não preparamos nada para o Brasil ainda, mas certamente pensaremos.
Influências e composições
TMDQA!: O som de vocês é uma mistura de influências de vários tipos de world music. Com a internet, esse material ficou mais simples de ser encontrado, mas como vocês faziam antes dela?
Laura: Ah, nós basicamente usávamos a biblioteca pública e da escola…
Mark: Sabe, nós somos de uma cidadezinha pequena próxima a Houston, que é uma cidade muito multiétnica. É a cidade com a maior população nigeriana fora de Lagos [capital da Nigéria], e existem várias comunidades de estrangeiros de todos os tipos, inclusive brasileiros, claro. Então esse contato diário com essas pessoas e comunidades nos levou a conhecer muitos tipos de música.
TMDQA!: Falando nisso, certamente vocês já tiveram contato com bastante coisa da música brasileira, né? Tem algum artista ou música que vocês curtem mais?
Mark: Nossa, sim. Amamos a bossa nova, aquelas coisas que todo mundo curte. A gente começa ouvindo as coisas mais populares, como as parcerias de Stan Getz [com João Gilberto] e vai achando os caminhos para o que não é de tão fácil acesso. Uma artista que a gente curte muito é a Elza Soares.
Laura: Ah, eu amo as músicas dela!
TMDQA!: Brasileira ou não, existe alguma banda ou artista que una os gostos musicais de vocês três?
Laura: Marvin Gaye. Definitivamente.
Mark & DJ: A gente ouve muita coisa, cara. É difícil lembrar de tudo. Mas o Marvin Gaye certamente nos une.
TMDQA!: O último lançamento de vocês é o Hasta el Cielo, basicamente uma versão dub do Con Todo El Mundo. Em outras entrevistas, vocês já disseram que na verdade era um projeto que seria gravado despretensiosamente e vendido em fita K7 nos shows, mas acabou não sendo assim. Vocês ainda curtem essa ideia? O que rolou?
Mark: Fui eu que disse isso. Eu ainda amo esse conceito. Mas o problema é convencer o pessoal da gravadora a fazer essas coisas.
Laura: A gente tem muita sorte da nossa gravadora apoiar todos os nossos projetos. Mas ao mesmo tempo isso significa que a gente tem menos espaço para esse tipo de iniciativa, é algo difícil de fazer quando se tem um contrato. Quem sabe se por acaso voltarmos a ser independentes algum dia.
TMDQA!: Tanto nesse disco como nos outros, o som de vocês me traz uma certa paz, uma facilidade pra ouvir. Quanto vocês acham que ter o estúdio da banda em um paiol numa cidade de apenas 400 habitantes no Texas influencia nisso?
Laura: Tem uma influência com certeza, não poderia não ter. O David Byrne [Talking Heads] escreveu uma vez sobre a influência da arquitetura na música. Tocar em um porão, em uma garagem ou em um paiol são experiências diferentes e você vai estar em um espaço mental diferente em cada uma delas. No nosso caso, é óbvio que a gente fica ali olhando para os palheiros e é tudo tão calmo, e isso definitivamente se traduz na música.
Curiosidades
TMDQA!: Mark, queria confirmar um boato com você. Na internet a galera fala que você usa a mesma palheta desde 2012. Isso é real? Como isso é possível?
Mark: É sim! Sei lá, pra mim é uma coisa normal. Eu troco muito meu estilo de tocar durante os shows, às vezes uso a palheta e às vezes dedilho, então eu estou acostumado a guardar a palheta em um lugar de fácil acesso. Na real essa palheta está quase redonda já, mas de boa. Eu tenho uma reserva se precisar.
TMDQA!: Outro boato que rola na internet é que o DJ é, na verdade, o novo modelo de metrônomo construído pela Tesla…
DJ: [Risos] Ah, eu levo como um elogio. É engraçado porque na real a gente nunca grava com metrônomo. Eu também não curto usar metrônomo ao vivo.
TMDQA!: Isso é inacreditável!
DJ: Pior que é verdade.
Mark: Não, cara, sério. Eu odeio trilhas com metrônomo. Eu nunca mais quero tocar com trilha de novo. Especialmente ao vivo. Pra mim, o barulho é muito irritante e chega a atrapalhar a nossa performance.
TMDQA!: Por fim, Laura, tem uma citação sua comparando o som do Khruangbin a uma trilha sonora de filme do Tarantino. Você ainda pensa isso?
Laura: Ah, eu me arrependi muito de ter dito isso. No começo a gente tinha muita dificuldade em expressar para as pessoas o que nós éramos. Essa declaração foi uma forma de conseguir nos colocar em uma caixa de forma que as pessoas pudessem nos compreender, mas não faz mais sentido hoje em dia.
TMDQA!: [Risos] Bom saber! Muito obrigado pelo tempo de vocês, pessoal. Vocês querem deixar algum recado aos fãs brasileiros?
Khruangbin: Nós amamos o Brasil e não vemos a hora de chegar aí novamente! Nos vemos em breve!