Universos à parte, o afroindie eletrônico minimalista das gêmeas franco-cubanas Ibeyi e os versos raivosos do subúrbio paulistano de Emicida já vinham se “namorando” há algum tempo com participações em shows e duas faixas de estúdio (“Hacia El Amor” e a recente “Libre”).
Mas o que foi visto no início da noite de abertura do segundo fim de semana de Rock in Rio foi muito além da expectativas. A junção de sonoridades tão diferentes impulsionou os discursos potentes dos dois artistas para uma das performances mais incisivas e emocionantes dessa edição do festival.
(Foto por Marta Ayora / TMDQA!)
Emicida e Ibeyi
Emicida e Ibeyi usaram a premissa dos encontros musicais, que marca o palco Sunset, à risca e estiveram juntos no palco durante quase todo o show, em uma apresentação visivelmente criada com cuidado e bem ensaiada. As percussões e synths do set das gêmeas se uniram com a banda de Emicida acrescida de um trio de metais, gerando arranjos incríveis.
O show começou de forma explosiva com “Bang”, seguida pela poderosa “Deathless”. No início da música, o telão mostrava uma homenagem para a menina Ágatha, covardemente assassinada no Rio de Janeiro. Seria só o começo de uma sequência de intensos discursos presentes nos versos entoados no palco.
Se músicas como “Pantera Negra”, “Passarinhos” e “A Chapa é Quente” fizeram o público da Cidade do Rock pular, foram momentos como “No Man Is Big Enough for My Arms”, com imagens de grandes mulheres negras no telão, e a emocionante participação surpresa de Majur em “AmarElo” que levaram a performance para outro patamar.
No fim de “Levanta e Anda”, eles puxaram versos do clássico “Rap Do Silva”, do MC Bob Rum, ligando a perseguição ao funkeiro do clássico da música carioca com a prisão do DJ. produtor, agitador cultural e indicado ao Grammy Latino Rennan da Penha. A reação do público foi calorosa.
Outro ponto alto foi “River”, uma das melhores músicas da discografia do Ibeyi, acrescida de um freestyle de Emicida, relembrando seus tempos de rinha de MCs onde fez seu nome. O fim da música, com uma oração em iorubá a capella, foi um resumo emocionante da mistura de ancestralidade, política e valorização dos corpos e cultura negros.
Mais uma prova de que Emicida é um dos artistas mais importantes em atividade no país, o show foi, com sobras, um dos melhores do Rock in Rio até aqui.