Por Bruno Inácio
Lançados num intervalo pouco maior que um ano, Clube da Luta (outubro de 1999) e Psicopata Americano (dezembro de 2000) são filmes com camadas muito mais profundas do que aparentam quando nos deparamos com suas sinopses.
Não se tratam, respectivamente, de homens que extravasam a raiva em brigas clandestinas nem de um assassino em série que ainda tenta entender o que desperta o seu desejo por sangue. As duas histórias vão muito além disso e colocam o consumismo no centro de importantes discussões.
Em Clube da Luta – dirigido por David Fincher e com Edward Norton, Brad Pitt e Helena Bonham Carter no elenco – há uma elucidação do personagem principal no que se refere ao funcionamento do capitalismo em seu estado mais selvagem. Ele compreende as engrenagens do sistema e propõe uma reflexão a respeito do estilo de vida em que dedicamos boa parte do nosso tempo ao trabalho que odiamos para que assim possamos comprar coisas que, na verdade, não precisamos.
Diante da impossibilidade de mudar a realidade, o protagonista e o amigo Tyler Durden encontram uma forma de ao menos expressar a raiva e colocar todos os homens, independente de classe social, numa situação de igualdade. E assim criam o clube da luta, local em que todos têm a oportunidade de brigar, desde que obedecem às regras impostas.
Se em Clube da Luta, o protagonista enxerga os exageros do consumismo, em Psicopata Americano, a situação é bem diferente. No filme – dirigido por Mary Harron, com Christian Bale, Willem Dafoe e Jared Leto no elenco – Patrick Bateman (Bale) é um típico playboy com cargo alto na empresa do pai, que adora ter noites de farra com amigos e prostitutas. Entediado com sua vida, ele passa a cometer assassinatos durante a noite, levando uma vida dupla.
Ao longo da trama, diversas críticas ao capitalismo ficam evidentes, como a hipocrisia do próprio Bateman, que em uma cena faz um belo discurso sobre as desigualdades sociais, raciais e de gênero, sem ter nenhuma ação efetiva para contribuir para que essas realidades se transformem.
Há ainda a defesa da meritocracia, quando Bateman – que ganhou um cargo alto na empresa do pai – questiona um morador de rua por estar desempregado, dizendo que ele não está se esforçando o suficiente para conseguir um trabalho. Há também o culto pela beleza, evidenciado já na primeira cena do filme, e a preocupação exagerada com questões bastante superficiais, como quem tem o cartão de visita mais bonito na empresa.
Outro aspecto presente nos dois filmes (além de ambos serem baseados em livros) é a questão dos nomes. Em Clube da Luta, o nome do protagonista não é revelado, pois se subentende que isso não importa, já que ele é um anônimo num sistema elaborado para que pessoas como ele jamais saiam dessa condição.
Já em Psicopata Americano, há muitas cenas em que os personagens demonstram não saber os nomes das pessoas mais próximas deles. Isso porque o que importa para eles são os cargos que elas ocupam e quanto possuem de dinheiro. Quando duas pessoas têm um cargo no mesmo nível, inclusive, é comum os personagens confundi-las uma com a outra. E ninguém parece se importar muito com isso, afinal, para eles não são os nomes que importam.
Com narrativas envolventes e muitos plot twists, ambos os filmes são retratos de uma sociedade que se baseia no consumismo, a partir de olhares de personagens bem distintos, mas, ainda assim, totalmente inseridos num mesmo sistema.