City and Colour retorna grandioso e reflexivo em "A Pill for Loneliness"

Em seu sexto álbum, o City and Colour volta mais ambicioso do que nunca e se aproximando do dream pop - mas sem perder sua essência. Confira a resenha!

City and Colour - A Pill for Loneliness

Uma das maiores vozes do post-hardcoreDallas Green deu início a um projeto paralelo muitos anos atrás sob o nome City and Colour, trazendo uma pegada mais acústica e um lado romântico pouco evidente na sua banda original, o ótimo e pesado Alexisonfire.

No entanto, é possível dizer que o próprio Dallas não imaginaria que seu projeto secundário acabaria tomando as proporções que tomou. Depois de dois discos com uma pegada mais lo-fiSometimes (2005) e Bring Me Your Love (2007), o C&C tem evoluído constantemente e parece ter finalmente abraçado sua grandiosidade.

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Extremamente bem produzido, A Pill for Loneliness foi lançado neste último dia 4 de Outubro e evidencia uma das facetas mais autocríticas de Dallas até hoje.

A Pill for Loneliness

Com 11 faixas cujos temas líricos transitam entre reflexões pessoais, angústias e até algumas catarses, o novo trabalho do City and Colour mostra uma nova maturidade adquirida pelo vocalista.

Aceitar a ideia de que um projeto que começou como voz e violão pode tomar essa proporção grandiosa é mais difícil do que parece. Alguns anos atrás, canções como a ótima “Strangers” eram totalmente fora da realidade do C&C. Hoje, o disco todo soa como algo que acompanharia uma superprodução hollywoodiana.

Não é nenhum exagero dizer que esse é o auge vocal de Green. Mais do que nunca, sua voz soa bela e sincera. Por si só, isso já seria suficiente para apreciar A Pill for Loneliness, mas o trabalho instrumental também é o melhor que já foi feito no projeto.

Com belos arranjos de guitarra e baixo se encontrando com timbres claramente pensados com cuidado e encaixados de maneira extremamente agradável com as bases harmônicas das músicas, o disco soa profundo, muitas vezes se assemelhando a uma tradução musical da alma de Dallas Green.

Como de fato é uma alma, o disco também expressa sentimentos diferentes a cada momento. Enquanto faixas como “Living in Lightning” e “Astronaut” trazem uma paz quase catártica, outras como “Young Lovers” mostram que a veia romântica e melodramática do cantor ainda está bem viva.

City and Colour

De forma geral, parece que o City and Colour resolveu se distanciar do folk rock propriamente dito em A Pill for Loneliness. Com uma pegada um pouco mais sonhadora e até mais dançante (como na ótima “Imagination”), Dallas Green se permite arriscar mais, sair da sua zona de conforto e buscar uma nova cara que pouco se assemelha ao primeiro lançamento do projeto em 2005.

A proximidade do dream pop é um dos grandes charmes do disco, e o incrível trabalho de produção de Jacquire King (vencedor de três Grammys e produtor de nomes como Kings of LeonTom WaitsModest Mouse e Norah Jones) e de masterização de Emily Lazar (que já trabalhou com BeckColdplay e Dolly Parton) deixam tudo posicionado em seus devidos lugares.

É engraçado que essa coesão é tão grande que acaba causando um certo estranhamento para quem acompanha o C&C desde as gravações mais cruas do cara. Ao mesmo tempo que proporciona um ritmo mais constante, é curioso que acaba perdendo um pouco do charme do projeto.

Não seria justo, no entanto, deixar esse sentimento nostálgico atrapalhar o julgamento dessa grandiosa obra. A Pill for Loneliness é um disco que faz muito sentido na evolução natural do City and Colour e transparece muita verdade, além de ser uma das ouvidas mais agradáveis e fáceis dos últimos tempos.

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