Há 50 anos, em 26 de Setembro de 1969, os Beatles lançavam Abbey Road, último registro da banda britânica em estúdio e um de seus momentos mais marcantes da carreira.
O álbum foi construído a partir de uma última tentativa de fazer algo em conjunto dar certo, pois a harmonia entre os quatro integrantes já estava bastante abalada desde as sessões do White Album, no ano anterior. Desavenças, diferenças criativas e influências levaram a diferentes atritos e abandonos durante aquele período. Mas, mesmo assim, Abbey Road começou a ser gravado.
50 anos depois, uma edição deluxe incrível do álbum foi lançada, como te falamos no Instagram, e chegou aqui no Brasil em CD duplo e encarte de 40 páginas, que você pode encontrar por aqui.
Inspirados no relançamento, resolvemos escrever esse texto a respeito do trabalho.
A produção de Abbey Road
Três semanas separam o fim das tensas sessões de gravação de Let It Be, anteriormente chamado Get Back, da reunião entre a banda e o produtor musical George Martin para novas gravações. Paul McCartney foi quem achou que seria uma boa ideia que os Beatles voltassem pro estúdio, numa tentativa de dissolver o clima de tensão que se instalara na banda desde as sessões que deram origem ao White Album.
Em 22 de Fevereiro de 1969, os Beatles voltaram para o Estúdio 2 da Abbey Road. Martin concordou em trabalhar com o grupo, mas sob a condição de que a banda admitisse que ele produzisse o novo disco. O clima das gravações estava mais leve entre o quarteto, porém o progresso foi lento. Fizeram duas pausas nos seis meses de gravação: a primeira em Abril, quando Ringo esteve envolvido com as gravações do filme The Magic Christian; a segunda foi uma pausa de 8 semanas, entre Maio e Julho.
A banda, de fato, estava mais madura e mais segura do que pretendia fazer no estúdio. Uma das intenções de Paul e George Martin era fazer do novo disco uma obra conceitual como Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band (1967), por isso o cuidado em construir uma unidade sonora no medley que embala a segunda metade de Abbey Road. John era contrário: preferia um disco tradicional. O medley venceu, o que acabou sendo uma importante peça na construção do clima de despedida do álbum. Fim de festa total.
Ringo Starr e George Harrison também ganharam destaque na última gravação: o baterista fez seu primeiro solo em “The End”, um artifício que ele não gostava muito e sempre se negou a fazer, e Harrison foi responsável por “Something” e “Here Comes The Sun” — duas das músicas mais conhecidas e adoradas dos Beatles.
O dia 20 de Agosto de 1969 marca a última vez em que os quatro Beatles estiveram em estúdio juntos. O fim da sessão foi, também, o fim de um sonho que começou mais de uma década antes com os Quarrymen. “O sonho acabou”, canta Lennon em “God”, faixa de seu primeiro trabalho pós-Beatles, lançado um ano depois de Abbey Road. Com a dissolução do grupo em 1970, e a morte de John em 1980, realmente: o sonho chegou ao fim e Abbey Road foi o último suspiro em conjunto dos garotos de Liverpool.
Repercussão e legado
A icônica foto de capa com a banda atravessando a faixa de pedestres da rua que dá nome ao disco foi uma ideia de Paul. “Por que não tiramos uma foto atravessando a rua?”. Em 8 de Agosto, pouco antes das gravações chegarem ao fim, a banda parou o quarteirão londrino devido à sessão fotográfica com Iain MacMillan. Durou apenas dez minutos, mas foi tempo suficiente para conseguirem a imagem que seria eternizada na cultura pop nos anos seguintes.
O curioso é que a ideia inicial era fazê-lo como o maior trabalho de estúdio dos Beatles. Originalmente, Abbey Road se chamaria Everest — simbolizando o ponto mais alto da banda — e sua imagem de capa traria os Beatles de frente pra montanha no Himalaia. Como não havia tempo hábil para isso, fotografaram na frente do estúdio mesmo, sem imaginar que aquela simples sessão de fotos se tornaria um marco na música mundial.
Em 26 de Setembro de 1969, Abbey Road foi lançado e, acreditem ou não, recebeu avaliações mornas da crítica especializada na época. Tedioso, mediano e superproduzido foram alguns dos adjetivos utilizados por veículos como The New York Times e Rolling Stone. Apesar da recepção desconfiada da imprensa musical, o disco atingiu a primeira posição das paradas britânicas dias após o lançamento, com quase 200 mil cópias vendidas em menos de uma semana.
No primeiro mês de vendas, Abbey Road vendeu 4 milhões de cópias no mundo inteiro, e mais um milhão até o fim de 1969. Foi o quarto álbum mais vendido na década de 60. Três anos depois, em 1972, quase 8 milhões de cópias já haviam sido vendidas no mundo inteiro. Na década seguinte, se tornou o primeiro disco dos Beatles a vender mais de 10 milhões de cópias no mundo inteiro. Um sucesso sem precedentes.
Mas números, talvez, não consigam traduzir o significado de Abbey Road para os Beatles e para a música. A última tentativa da banda de trabalhar em conjunto, enquanto a amizade e a harmonia do grupo se desfazia em cada acorde ouvido nos três últimos lançamentos dos Beatles, hoje em dia soa agridoce. Para uma banda que transitou entre diferentes fases, estilos e referências ao longo dos anos, chegando à sua forma mais madura no ápice de sua carreira, Abbey Road foi o fim perfeito.