Todo estilo musical tem a possibilidade de esticar as suas variedades estéticas e possibilidades sonoras, independente de seu escopo original.
Gêneros com o jazz e o rock foram pioneiros nisso e contam com diversos exemplos de artistas que incorporaram elementos variados ao seu som sem perder a essência de sua proposta, tornando-as ainda mais originais.
Mas isso não se restringe a eles. A própria música brasileira se transformou e se desenvolveu muito desde o chorinho de Pixinguinha, passando por Tom Jobim e João Gilberto na bossa nova, todos os tropicalistas, depois ainda Jards Macalé, Egberto Gismonti e Arrigo Barnabé.
E mesmo a simplicidade do punk rock tomou rumos inimagináveis dentro da obra de artistas como Sonic Youth, Fugazi e The Mars Volta.
E é dentro do Brasil e de uma das vertentes do punk, o shoegaze, que a banda maquinas lançou uma das obras mais experimentais e curiosas de 2019.
Originais de Fortaleza (CE), desde o seu princípio a maquinas já buscou fugir de uma sonoridade padronizada. Criando composições que juntavam o shoegaze ao post-rock e post-punk de uma forma muito original, lançaram em 2016 o seu primeiro álbum de estúdio, Lado Turvo, Lugares Inquietos.
E mesmo já tendo chamado nossa atenção com esse ótimo lançamento e todas as suas particularidades, nada disso anteciparia o choque e a positiva surpresa que foi ouvir pela primeira vez, no dia 04 de outubro, O Cão de Toda Noite, o segundo álbum da banda.
Trazendo metais, participações vocais, baterias super compassadas, elementos da música clássica contemporânea de Steve Reich, paisagens sonoras misteriosas de Angelo Badalamenti e David Lynch, juntando ainda com atonalismo e o dodecafonismo (esse conhecido no Brasil pelo álbum Clara Crocodilo, do já citado Arrigo Barnabé), O Cão de Toda Noite mantém a melancolia do primeiro álbum, mas com variações de ritmo e de direcionamento que nos remetem aos álbuns mais experimentais de Miles Davis.
Além de seus cinco membros originais, Allan Dias, Roberto Borges, Yuri Costa, Gabriel de Sousa e Ricardo Guilherme Lins, o grupo ainda contou com a colaboração de todo um cenário da música experimental cearense, com nomes como clau aniz, Eros Augustus, Ayla Lemos, Breno Baptista e Y.A.O fazendo participações no álbum.
Lançado por um selo especializado em música experimental no Ceará, o Mercúrio Música, O Cão de Toda Noite é – ouso dizer – o álbum mais vanguardista do Brasil em 2019, renovando o modo de trabalhar esse som conhecido por guitarradas etéreas e arrastadas e abrindo novas possibilidades de união de elementos, instrumentos e experimentações.
Ouça o álbum no player abaixo e tire as suas próprias conclusões: