Em entrevista exclusiva, Júnior Groovador abre o jogo: "O que me deixa mais feliz é meu pai tendo orgulho de mim"

Júnior Groovador mostrou toda sua humildade e simpatia em um papo exclusivo com o TMDQA! sobre seu passado roqueiro, família e, claro, Rock in Rio. Leia!

Júnior Groovador no camarim do Rock In Rio
Foto: Reprodução / Instagram

Músico, baixista e dançarino. É assim que se define Júnior Groovador, uma das sensações da música brasileira nos últimos tempos. “Descoberto” por Jack Black, ator hollywoodiano e líder do Tenacious D, o incrível músico brasileiro viu a oportunidade dos sonhos quando foi convidado para participar do show dos caras no Rock in Rio.

O que levou Groovador ao Palco Mundo foi um vídeo tocando uma versão “groovada” de “Smells Like Teen Spirit”, do Nirvana. No entanto, se engana quem acha que o sucesso foi da noite para o dia. O potiguar já está na batalha há quase 20 anos e viveu muitos altos e baixos.

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Júnior nos atendeu por telefone para uma conversa “alto astral”, cheia de simpatia e bom humor. Com a simplicidade e humildade características, respondeu tudo que perguntamos e muito mais. O papo é longo, mas recheado de boas histórias do passado, presente e futuro de um dos músicos mais irreverentes do Brasil.

Confira na íntegra logo abaixo!

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Entrevista com Júnior Groovador

TMDQA!: A energia que você passa quando você toca é inigualável. Você sempre diz que quer passar essa energia “alto astral” para o público, e isso parece ser muito natural pra você, como se você também estivesse sentindo isso. É por aí?

Júnior Groovador: É, exatamente. Disse tudo! É passar para o público algo motivacional. Por mais que a música seja algo que não seja tão forte, que não traga tantas expectativas boas, você tem que trazer. Você tem que identificar isso. Eu faço a minha identidade musical própria e mostro pras pessoas o meu lado diferenciado. A dança, a irreverência, o entretenimento. São coisas que eu alimento, que eu uso e coloco ao público.

TMDQA!: No show do Rock in Rio, você parecia muito à vontade, como se fosse a oportunidade que você estava esperando há anos.

JG: Qualquer adolescente roqueiro do Brasil sonha com Rock in Rio. Mas eu não imaginava uma proporção dessas. Eu vinha fazendo essas versões de rock e forró e sendo muito criticado. Alguns roqueiros falavam, ‘Acho legal, hilário sua irreverência, mas não fica legal fazer rock e forró’. Mas muita gente estava gostando, então segui a maioria. Continuei em frente.

TMDQA!: Esses dias mesmo você fez uma postagem no Instagram falando sobre esses preconceitos e dificuldades. Pra você que foi chamado de “burro” e “doido”, deve ter um gostinho muito bom…

JG: Acho que o que me deixa mais feliz é ver meu pai tendo orgulho de mim. Ele olhava pra mim como um vigilante [sua profissão ‘oficial’]. Hoje ele me vê como um artista, feliz. A maior felicidade que o Jack Black me trouxe foi a alegria de ver um pai assim, tendo orgulho do filho, da família. Ver que existe uma esperança, um talento na família. Deus podia colocar tantos baixistas que são “top” aqui no Brasil. Eu nunca fui incluso na lista, mas eu sempre tive determinação, foco e fé. Eu sabia que eu podia chegar a uma meta. Eu não esperava uma proporção dessas, mas eu esperava ser reconhecido, como eu cheguei a ser antes disso. Anos atrás eu participei de programas de TV. As portas se fecharam depois. Mas eu nunca desisti dos meus objetivos, nunca coloquei isso como derrota. Eu coloquei isso como lição de vida.

Festival MADA

TMDQA!: Outro dia trocamos uma ideia com o Jomardo, produtor do Festival MADA. Ele contou pra gente que te conhece desde os tempos de metaleiro…

JG: Jomardo é amigo do meu pai, me conhece desde criança. Quando eu tinha meus 15, 16 anos, começando a tocar contrabaixo, eu dizia a ele que um dia eu iria chegar ao Rock in Rio, teria condição pra isso. E ele dizia pra mim, ‘Vai ter condições nada!’. Aí, no festival MADA ele me abraçou e me disse, ‘Calei minha boca. Hoje eu que estou contratando você’. No mesmo dia que eu me apresentei no Rock in Rio, era como se você estivesse construindo uma casa. Aí você chega, deita e vê um monte de mensagens. E veio uma mensagem dele. ‘Lembra de mim? Lembra que eu te falei que não acreditava nos seus objetivos? Quebrei minha cara,’ ele disse.

TMDQA!: Deve ter sido bem diferente do Rock in Rio, por ter sido um show solo.

JG: O Jomardo me chamou e disse: ‘Quero que a atração seja você’. Então montei uma banda, uma turma que eu já tinha trabalhado. O cantor Diego Libra, uma equipe boa de músicos. Fizemos rock anos 80, 90, nacional e internacional, e fizemos o Nirvanasso!

TMDQA!: Como foi se apresentar por lá?

JG: Foi mais um sonho realizado. Eu sempre disse que queria tocar lá, e ele [Jomardo] dizia ‘Estude música, vai estudando’. E eu estudava, só que estudava do meu jeito. Eu nunca tive um amplificador. Pegava o baixo, encostava no guarda-roupa e pegava as músicas assim. Era tudo sofrível. Eu tinha baixo Tonante, Jennifer. Eram baixos emprestados de amigos do bairro.

Passado Roqueiro

TMDQA!: O que você tocava nessa época?

JG: Eu comecei a tirar “The Number of the Beast”, “Fear of the Dark” [ambas do Iron Maiden]. “Paranoid”, do Black Sabbath.

TMDQA!: Era o que você ouvia quando era mais novo?

JG: Sim, mas também gosto muito do Red Hot Chili Peppers. Uma influência muito grande também é o Flea.

TMDQA!: Como foi a transição do rock para o forró?

JG: As portas se fecharam no rock. O rock aqui [no Rio Grande do Norte] é muito fechado. Tem um único evento, que é o Festival MADA. O Jomardo é o único empresário que trabalha fazendo evento de rock. Não tinha como eu viver só disso, aí migrei para o forró e axé…

TMDQA!: E a mistura deu muito certo!

JG: [risos] Eu gosto, eu gosto!

Rock in Rio

TMDQA!: No Rock in Rio, teve uma hora que você subiu com a bandeira do Rio Grande do Norte. Sei que você tem outra paixão que é o Palmeiras. Não deu uma vontadezinha de levar uma bandeira do Alviverde também?

JG: Ah, claro que dá. Mas a gente tem que ir pela razão, não pela emoção. A bandeira do Palmeiras já foi muito exaltada em vários títulos. Ali era uma coisa pequena pro Palmeiras. Nenhum artista do Rio Grande do Norte chegou ao Palco Mundo do Rock in Rio. Então para um vigilante, que tem um amor pela música, levantar sua bandeira para identificar suas raízes e mostrar o amor que tem pelo estado… Sou norte-rio-grandense de raiz mesmo. Tenho muito amor pelo meu estado.

TMDQA!: Você sempre fala também sobre a sua carreira de vigilante. Como ficou no trabalho depois de tocar no Rock in Rio? As pessoas te reconhecem?

JG: Bastante. Muita foto, muito reconhecimento, muitos vídeos. Muita gente ficou feliz por eu ter levantado a bandeira, por ter orgulho da minha terra. Agora estou tendo muitas oportunidades musicais. Estou começando a fechar turnês em São Paulo, no Sudeste e Sul. O mercado da música se abriu e consigo ver, pelo menos um pouquinho, o Sol.

Encontro com Dave Grohl

TMDQA!: Você falou que o Flea era um dos seus ídolos e você também já disse que tinha camisa do Nirvana quando era mais novo. Já caiu a ficha que o Dave Grohl foi ver você tocar e que, menos de 1 semana depois de você tocar no Palco Mundo, o Flea tocou no mesmo lugar que você?

JG: [Risos] Tá processando ainda. Eu tinha uma camisa do Nirvana mesmo. Minha mãe batia muito de frente comigo por ser roqueiro, chegou até a rasgar a camisa! Saía muito, dava muito trabalho pra minha mãe, chegava tarde em casa… Mas você tocar pra ele [Dave Grohl], o baterista de “Smells Like Teen Spirit”… O cara me reconhecer, me dar um abraço, assistir ao meu show, o Jack Black dizendo ‘É ele aí, olha!’… Artistas internacionais que têm a sua história de anos de luta, de glória, a ficha não cai. Eu sou nordestino, sou batalhador, a gente fica sem acreditar. Mas aconteceu. Agora eu pretendo seguir adiante em busca de mais vitórias e vencer na vida.

TMDQA!: Deu uma esperança do Dave Grohl ir lá tocar com vocês ou você já sabia que não ia rolar?

JG: Deu uma esperança, mas acredito que ele quis me deixar à vontade. Me deixou ter esse momento. Ele me deu um abraço, explicou que ele saiu correndo do camarim pra assistir ao show do perto e, quando eu olhei pra trás, o vi rindo, batendo palma, como se fosse um jogo de futebol mesmo, um gol. Na hora eu não o reconheci, por incrível que pareça. Mas depois, quando eu olhei pra ele e pedi desculpa, ele levantou, me abraçou. Eu falei ‘No speak English’, o tradutor veio, aí ele ‘Amazing! Você é incrível’, segurou as duas mãos dele no meu rosto e olhou pra mim, disse ‘Amazing’ e tal. Fiquei muito feliz.

Músico, baixista e dançarino

TMDQA!: Queria falar com você sobre algo um pouquinho mais sério, também. Recentemente surgiram alegações de que a versão de “Smells Like Teen Spirit” seria de um canal de remixes no YouTube. Como você lidou com isso?

JG: Eu fui muito massacrado pelos fãs deles, dizendo que eu fui ladrão. Muito, muito mesmo. Ladrão e covarde são coisas que eu não sou. Isso atingiu bastante o meu lado emotivo, mas eu me ergui porque eu tenho caráter, tenho honestidade. Eu já fiz tudo e dou tudo pela música, não mereço ser taxado como ladrão, oportunista. Eu luto há 19 anos para vencer na vida. Não tenho nada contra ninguém, cada um tem seu espaço de vencer na vida. Eles têm a luta deles e eu peço a Deus que traga dias de glória pra eles também.

TMDQA!: Te perguntei isso porque, de toda forma, você hoje em dia não é só um baixista. Sua arte já transcendeu a música, tem toda a performance que vai muito além. Você concorda?

JG: Eu tento ser esse baixista que quer vencer na vida. Eu não me considero um criador de nada, um produtor musical. Eu sou apenas o Júnior Groovador, que quer vencer na vida e dar uma alegria que o mundo precisa. O mundo precisa de uma música diferenciada, alegre.

TMDQA!: E isso você faz bem demais!

JG: Eu faço de tudo pra ser assim. Eu não me considero um maestro. Não me considero um músico a ser analisado por faculdade nenhuma. Até porque eu não me identifiquei a ponto de me formar em nenhuma universidade musical. A universidade pra mim é o povo, o público, o Brasil, o mundo. Essa é a minha educação, minha escola de música.

TMDQA!: Você repete o tempo todo o bordão “vamos vencer na vida”, já virou quase um mantra. Por fim, queria saber: já dá pra dizer que venceu na vida?

JG: Não, não. Ainda não! [Risos] Eu acredito que dei uma subidinha, consigo ver uma partezinha do sol bronzeando o cabelo aí. Acredito que a gente precisa todo dia vencer na vida. Mas eu to com saúde, to em paz e já me considero vitorioso por isso.

TMDQA!: Legal demais! Que prazer gigantesco conversar contigo, Groovador. 

JG: Um prazer imenso falar com vocês! Vamos vencer na vida!

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