Entrevistas

Mulheres na Música #2: Monique Dardenne, co-criadora do Women's Music Event e do WME Awards

A jornalista Fabiane Pereira entrevistou Monique Dardenna, uma das criadoras do Women's Music Event, que celebra as mulheres em várias áreas da música.

Foto por Mariana Smania
Foto por Mariana Smania

Por Fabiane Pereira

Foto por Mariana Smania

Minha segunda contribuição a esta coluna mensal sobre “Mulheres na Música”, apresenta aos leitores do TMDQA! a paulistana Monique Dardenne, co-criadora do Women’s Music Event (junto com a jornalista Claudia Assef) e do WME Awards (em parceria com Claudia e com a executiva Fátima Pissarra) – este último é uma premiação que celebra as mulheres em todo ecossistema da música – que este ano acontecerá dia 3 de dezembro, no Audio Club.

Monique cresceu cercada de discos de vinil, toca-discos e mixers, herança do pai DJ. Desde muito nova, o acompanhava em raves e circulava por outros eventos musicais. O interesse pelo mercado foi crescendo e, ao longo de sua carreira, Monique deixou sua marca em várias áreas, sempre no segmento musical.

Ainda na faculdade, Monique começou a trabalhar com música e seu primeiro emprego foi numa agência de booking e management. “Essa agência fazia parte do Festival de música eletrônica Tribe em 2007. Entrei como booker e marketing e, após 4 anos, saí como gerente comercial”, relembra.

Formada em Direito, Monique nunca exerceu a profissão porém o curso lhe deu uma boa base para análises e argumentos o que, certamente, explica sua capacidade em desenvolver contratos artísticos. Após sair da faculdade e do primeiro “trabalho oficial”, Monique abriu uma agência que a consolidou no mercado – à frente da Modular, trabalhou com grandes artistas como Snoop Dogg e Pitbull. Entre um projeto e outro, o currículo de Monique ia “crescendo e aparecendo”. Ela também foi a responsável por trazer e dirigir a WebTV inglesa Boiler Room no Brasil nos primeiros anos da empresa e, simultaneamente, continuava fazendo bookings e management de artistas nacionais e internacionais dos segmentos da música eletrônica e do rap. Foi num desses jobs, enquanto era Label Manager do selo Skol Music que Monique criou o WME junto da jornalista Claudia Assef.

O WME nasceu da necessidade de conhecer as mulheres do mercado. Um dia tive um click e parei pra pensar na quantidade de mulheres com as quais eu tinha trabalhado ao longo da minha carreira e não eram muitas. A maioria estava no back office, fazendo contratos e logística e senti a necessidade de ter mulheres na técnica, no palco, na produção. Então tudo começou a acontecer de um grupo que criei no Facebook chamado ‘Mulheres da Música’ que inicialmente tinha a intenção apenas de se conectar e fazer indicações. Quando esse grupo atingiu 400 mulheres em 2015, sentei com a Claudia para pensar em como fazer essas mulheres se conectarem fora do mundo virtual. Então pensamos em criar uma conferência, que se desdobrou num site de conteúdo em matérias e vídeos, um banco de profissionais e assim nasceu o Women’s Music Event. Depois da primeira edição da conferência, o universo foi muito feliz em nos conectar com a Fátima Pissarra, uma grande executiva do mercado mainstream que na época era a CEO da VEVO Brasil. Dessa junção nasceu o WME Awards.

Monique é uma mulher contemporânea, empática e com um portfólio interessantíssimo. Mesmo com esta bagagem, ela gosta de trabalhar em parceria e, preferencialmente, cercada por outras mulheres. Tanto no evento WME – que acontece sempre em março, mês das mulheres – quanto na premiação, a “mão de obra” é 100% feminina. “As participantes são mulheres diversas do mercado com muita expertise. Tentamos contemplar todas as
trabalhadoras do ecossistema da música e temas associados, além de convidar mulheres muito atuantes no mercado mainstream, independente e da periferia. Esse cross é muito importante pra nós, queremos representatividade de todos os lados,” pontua.

WME Awards 2019

Claudia Assef, Monique Dardenne e Fátima Pissarra
Foto por Mariana Smania

A terceira edição do WME Awards acontecerá dia 3 de dezembro, na cidade de São Paulo. Dezesseis categorias serão celebradas, entre elas cantoras, DJ’s, produtoras, radialistas, jornalistas musicais e outras. São cinco concorrentes em cada categoria, todas selecionadas através do voto de um júri 100% feminino.

Convidamos 150 mulheres do mercado da música do Brasil. São produtoras, curadoras, programadoras, managers, executivas… elas indicam as concorrentes nas 16 categorias do WME. As mais citadas entram nas 5 indicadas.

Apesar do avanço significativo nos últimos anos graças a diversas iniciativas femininas, ainda há uma longa caminhada para homens e mulheres terem as mesmas oportunidades no mercado da música. A respeito do enfrentamento diário do machismo entranhado na área, Monique acredita que, nós mulheres, estamos mais unidas.

A melhor maneira de responder ao machismo é dar as mãos umas para as outras, abrir caminhos e nos fortalecer mutuamente. Temos formação, agora precisamos de mais mulheres nas frentes de comando e tomadas de decisões para abrirem caminhos para outras. Estamos avançando e em breve (daqui uns anos…), esperamos que o Women’s Music Event se chame People’s Music Event e não precisaremos mais lutar por espaço. Só queremos largar do mesmo ponto de partida, e não dois passos atrás dos homens.

Cheia de projetos bem sucedidos que crescem aceleradamente e ganham cada vez mais prestígio, Monique planeja pra 2020 a realização de um festival em que as mulheres sejam as protagonistas dentro e fora do palco. Eu continuarei acompanhando e apoiando todas as iniciativas deste “mulherão da porra”.

Mulheres na Música

Pitty e Monique Dardenne
Pitty e Monique Dardenne

Apesar de parecer moderninho, o universo musical ainda é extremamente machista. Para se ter uma ideia, 97% das composições musicais continuam sendo de homens
cis e apenas 2% são produzidas por mulheres (leia mais aqui). Para evitar que no palco também haja mais homens que mulheres, Paula se preocupa em propor uma programação equilibrada entre os gêneros e este ano, pela primeira vez, o SummerStage conseguiu essa proporção, em grande parte, graças ao esforço da profissional. “Essa é a primeira temporada do festival em que houve um investimento de grande porte para a renovação do espaço no Central Park. Desde o início da temporada 2019 existia uma grande expectativa de que essa seria uma temporada histórica. Este ano, todos os shows foram bem sucedidos, a noite brasileira foi esgotadíssima e tivemos um equilibro de artistas masculinos e femininos no festival, em parceria com a KeyChange. Esse foi um marco muito importante pra nós, que
direcionou as nossas escolhas porque reconhecemos a desigualdade de gênero globalmente nos festivais e a importância de dar o exemplo. Temas atuais e ligados a questões sociais como esse são sempre parte crucial da linha de curadoria e do impacto que buscamos levar ao contexto cultural da cidade”.

LEIA TAMBÉM: Mulheres na Música #1 – Paula Abreu, diretora de programação do SummerStage

Não existe fórmula. Para mudar a realidade do mercado da música, precisaremos arregaçar as mangas. Mulheres, uni-vos!