Música

Pete Townshend esclarece fala polêmica sobre Keith Moon e John Entwistle

Depois de dar "graças a Deus" pela morte de seus ex-companheiros, Pete Townshend esclareceu a situação e explicou que "o amor tem várias facetas". Entenda!

Pete Townshend, do The Who
Foto via Wikimedia Commons

“Pete! Pelo amor de Deus dá um jeito nisso!”

É assim que Pete Townshend inicia um texto em seu Facebook para esclarecer a polêmica entrevista que deu recentemente. Em papo com a Rolling Stone, ele foi questionado sobre sentir saudades da época retratada em fotos antigas da banda.

Como te contamos por aqui, ele acabou dizendo que dava “graças a Deus” pela morte dos ex-companheiros Keith Moon John Entwistle. A declaração, naturalmente, veio como um choque já que pouco se fala sobre problemas internos do The Who.

Usando seu Facebook, Townshend resolveu esclarecer essa e outras afirmações, já que também deixou claro que “era difícil pra caralho tocar com eles” e que sua “disciplina musical” e “eficiência musical como um ritmista” seguraram a banda.

Por lá, ele fez um longo texto explicando os pontos positivos e negativos da relação com Moon e Entwistle. Pete mostrou que, como qualquer outro ser humano, tinha bons e maus momentos na convivência com os companheiros. Citando que “o amor tem várias facetas”, ele justificou que estava sendo irônico de seu “próprio jeito inglês” na entrevista.

Os fãs pareceram satisfeitos com a explicação e alguns chegaram até a afirmar que nem precisava. Claro, muita gente colocou essa na conta da Rolling Stone, apontando sensacionalismo na manchete; o guitarrista, no entanto, deixou bem claro que o que foi publicado foi exatamente o que ele disse.

Confira a seguir a nota na íntegra, via Facebook, e nossa tradução.

Esclarecimento de Pete Townshend

https://www.facebook.com/OfficialPeteTownshend/posts/1725209417609383

Minha entrevista com a Rolling Stone. Manchete: ‘Pete Townshend dá “graças a Deus” que Moon, John Entwistle estão mortos; era difícil para caralho tocar com eles’.

Isso foi dito como parte de uma entrevista em resposta a uma série de questões sobre a história do Who, os primeiros dias e como é hoje.

PETE! PELO AMOR DE DEUS DÁ UM JEITO NISSO!

Ninguém nunca poderá saber quanto eu sinto falta de Keith e John, como pessoas, como amigos e como músicos. A alquimia que dividíamos no estúdio não está no novo álbum, e sempre parece errado tentar invocá-la sem eles, mas eu suponho que nós sempre estaremos tentados a tentar. Até hoje eu estou bravo com Keith e John por terem morrido. Às vezes é visível. É egoísta, mas é como eu me sinto.

Mas eu sou sinceramente grato por ter tido essa segunda e terceira encarnações como um membro do que ainda ousamos chamar de The Who – primeiro depois do falecimento de Keith, e depois novamente após o falecimento de John. Eu realmente agradeço a Deus por isso, mas eu estava sendo irônico do meu próprio jeito inglês ao sugerir que é algo que eu sou grato por. Eu posso ser grato por ser livre como músico e escritor, mas triste por ter perdido velhos amigos. Parece irônico mesmo, e também me deixa bravo. Mais ao fim da vida da minha mãe Betty ela me deixava louco, e houve um grande senso de alívio quando ela finalmente faleceu, mas eu sinto muito a fala dela. O amor tem muitas facetas.

Eu entendo que vários fãs do Who de longa data ficarão machucados pela forma que parece ser uma manchete. Eu só espero que eles me conheçam o suficiente para saber que eu falo a verdade o máximo que posso, mas eu também falo os dois lados e o lado positivo está faltando nas manchetes.

Escrever para o Roger, e me apresentar com ele, é mais fácil do que nos primeiros dias com a velha banda de quatro pessoas. Muitos de vocês me ouviram dizer que trabalhar com o Roger esses dias pode ser complicado, e desafiador, mas que ultimamente eu acho “fácil”. John e Keith eram tão excêntricos e individuais enquanto músicos. Eles literalmente ocupavam tanto espaço musical e sonoro. Como um guitarrista, eu nunca aprendi a fritar porque nunca tive espaço para isso. No “Live at Leeds” e em bootlegs dessa época você pode me ouvir várias vezes parar de tocar para passear, parcialmente para que eu pudesse pensar!

O lado positivo com Keith e John era que na turnê e no estúdio nós nos divertíamos tanto. Tocar com eles era difícil, mas tanto Roger quanto eu passamos muito tempo dobrados em alegria e risadas mesmo quando poderíamos ter nos beneficiado de uma vida mais quieta algumas vezes. Era um caos.

Aos familiar de Keith e John, especialmente Chris Entwistle e Mandy Moon [filhos de John e Keith, respectivamente], eu peço desculpas pelas manchetes – e por ter descuidadamente falado as palavras que foram usadas – mas nos últimos três meses eu tenho feito tantas entrevistas que estou perdendo foco e paciência. Eu me perdoo. Eu espero que eles possam me perdoar também. Eu amava seus pais e ainda amo.

Roger perdeu a cabeça em uma coletiva de imprensa em Wembley sobre o Brexit. Eu achei preocupante, mas entendi. Nós podemos ser rock stars mas também somos humanos. Roger e eu não mudamos muito através dos anos, mas nós amamos e gostamos um do outro atualmente. É doloroso imaginar como as coisas estariam se fosse permitido a John e Keith envelhecerem, se tornarem mais generosos e mais sábios. The Who poderia ter crescido musicalmente, ou possivelmente apenas ter andado em círculos. Mas eu lhes garanto que teríamos aprofundado nosso amor um pelo outro enquanto seres humanos e colegas.

Como músicos? Quem sabe?