Por Fernando Branco
No dia 25 de julho de 1988 o Red Hot Chili Peppers “morreu” pela primeira vez. Hillel Slovak – o cara que ensinou Flea a tocar as primeiras notas no contrabaixo e convenceu Anthony Kiedis que ele podia ser o frontman de uma banda de rock – perdeu a briga com a heroína. Ali a banda não existia mais: Kiedis se isolou no México, tentando um reabilitação forçada, enquanto Jack Irons não aguentou o peso emocional e se afastou. Coube a um moleque de 18 anos, que nunca havia tocado em uma banda, dar nova vida ao quarteto.
A formação clássica da banda, com Flea, Kiedis, Chad Smith na bateria e John Frusciante, entregou dois discos que somavam a crueza do punk/funk que ditaram os caminhos dos primeiros álbuns a uma sutileza melódica e (quase) inocente, que apareceram muito em conta da sensibilidade e influência criativa daquele garoto.
No dia 7 de Maio de 1992 os Chili Peppers “morreram” de novo. O garoto de 18, que cresceu idolatrando Hillel Slovak, tinha virado o guitarrista de uma das maiores bandas do mundo e, assim como seu primeiro ídolo, escolheu as drogas e entrou numa espiral de bad trips que até hoje é uma mistério o fato dele ter saído vivo dali.
John Frusciante e o Red Hot Chili Peppers
A banda ressuscitou então com Dave Navarro, mas viveu quase que em universo paralelo do qual muitos fãs até hoje tem uma certa reticência em apontar as qualidades – mesmo que tenha durado só um minuto.
No dia 3 de abril de 1998, quando Navarro confirmou na MTV que havia deixado o grupo, os Chili Peppers “morreram” pela terceira vez – e parecia um fim definitivo – a não ser que Kiedis concordasse com uma ideia, na época um tanto quanto impensável, de Flea: “O único cheio da gente continuar de verdade é trazendo John de volta,” teria dito o baixista.
Frusciante voltou para a banda com 28 anos e aquele garoto que não deu conta de tocar guitarra em uma das maiores bandas do mundo transformou novamente o Red Hot Chili Peppers em um dos maiores grupos do planeta.
A partir dali, os caras entraram naquela que talvez seja sua fase mais prolífica criativamente: 10 anos, 3 discos, milhões de álbuns vendidos e o topo do mundo que a banda havia deixado lá em 1992.
No dia 17 de Dezembro de 2009 o Chili Peppers morreu pela quarta vez. Depois de tudo que esses caras já viveram, como continuar sem Frusciante, que abdicou do status de rock star para se dedicar aos sintetizadores e ao experimentalismo que assustou a muitos, mas surpreendeu os poucos que conheciam a essência e prioridades de um guitarrista que deixou de ser guitarrista? O que seria da banda com Josh Klinghoffer? Conseguiria o aprendiz superar o mestre? Talvez não, mas quem prestou atenção nos 10 anos em que ele esteve na banda viu (e ouviu) que tinha coisa boa ali na “quinta vida” do grupo.
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Ontem, 15 de Dezembro de 2019, praticamente uma década depois, os Chili Peppers não morreram. Por enquanto, ninguém sabe exatamente o que e como aconteceu, mas o fato é que Frusciante voltou para dar uma nova vida à banda que, mesmo com aquela energia de sempre, parecia destinada a um final pouco inspirado se comparado aos bons tempos.
Bons tempos que vieram e se foram, mas tiveram sempre um denominador comum: John Frusciante.