Star Wars: A Ascensão Skywalker recicla fórmulas e divide opiniões

A saga Skywalker chega ao fim com "Star Wars: A Ascensão Skywalker" e a Disney apostou em fórmulas recicladas e batidas para o longa. Leia nossa resenha!

Star Wars: Episódio IX
Reprodução/YouTube

Finalmente, a saga Skywalker chegou ao fim com a estreia de Star Wars: A Ascensão Skywalker – pelo menos por enquanto. O nono filme da franquia principal entrou nos cinemas neste dia 19 de Dezembro e trouxe o encerramento da nova trilogia, além de trazer uma conclusão à história original.

Acontece que, infelizmente, esse ar especial não chegou às telonas. Apostando em uma fórmula reciclada e vista anteriormente e tantos outros filmes, como o recente Vingadores: Ultimato, a Disney retirou qualquer tom de originalidade que acompanha a franquia há décadas e botou um ponto final dos mais genéricos possíveis na saga.

[SPOILERS A SEGUIR]

Quando O Despertar da Força apareceu em 2015, muitos criticaram a decisão de uma nova trilogia Star Wars. As críticas logo foram abafadas por um bom filme, que misturou elementos antigos com novos personagens que pareciam criar arcos de desenvolvimento interessantes para as obras subsequentes.

Em Os Últimos Jedi, que dividiu opiniões de forma polarizada, esse desenvolvimento se viu levemente confuso. Muito disso se deve à mudança de diretor – JJ Abrams dirigiu o primeiro, enquanto Rian Johnson assinou o segundo. A confusão aumentou de forma exponencial no terceiro episódio da nova trilogia, com o retorno de Abrams e uma sensação constante de que o diretor ignorou completamente tudo que aconteceu no longa anterior.

Personagens como Finn (John Boyega) veem seus arcos sendo reduzidos a funções banais; em uma cena, por exemplo, o ex-Stormtrooper vai ao encontro de Rey (Daisy Ridley) enquanto ela enfrenta Kylo Ren (Adam Driver) e sua participação na batalha se resume a gritar o nome da heroína desesperadamente. Pra quê?

Apelo aos fãs

Outro fator incômodo no último filme é o constante retorno de personagens sem qualquer explicação. Uma coisa é a aparição de Luke Skywalker (Mark Hamill) como a famosa “projeção da Força” – algo já estabelecido na franquia. Outra é recorrer ao Imperador Palpatine (Ian McDiarmid), sem qualquer contextualização, como inimigo maior mais uma vez. Da mesma forma, a inclusão de Lando Calrissian (Billy Dee Williams) abre um sorriso no fã de longa data, mas se vê altamente sem propósito ou contexto.

Além disso, a aparição de Han Solo (Harrison Ford) mostra que a gigante do entretenimento tentou apostar 100% no apelo aos fãs. Não apenas por isso: a cena da batalha final entre Rey e Palpatine é um dos poucos destaques positivos, pela poesia envolvida no confronto e por ela se recusar a abraçar o ódio para vencê-lo, mas ainda assim não foge do mesmo problema de todas as quase 2 horas e meia de duração.

Isso porque a Disney novamente aposta na fórmula de união e amizade como solução para todos os problemas; a aparição das vozes de todos os Jedi deveria ser um momento emocionante, mas acaba parecendo apenas uma reciclagem de Vingadores.

Primor técnico e John Williams fantástico

Nem tudo vem com um fator negativo em A Ascensão Skywalker. Como os dois antecessores, o primor técnico e visual da obra é impressionante e merece ser aclamado. Belos cenários são criados e a reaparição de lugares como Endor é feita de maneira sensacional.

É impossível deixar de citar também a cena que recria Luke e Leia (Carrie Fisher) jovens, mostrando até onde os recursos do maior estúdio do mundo pode chegar – ainda que, no meio de tamanho bombardeamento de nostalgia e resgates desnecessários, tenha sido apenas mais um momento.

Quem também está mais do que de parabéns é John Williams e toda a equipe de trabalho sonoro. Com um sound design invejável e com o icônico compositor trabalhando de forma irreparável o resgate aos temas mais famosos da série, como a “Marcha Imperial”, de maneiras sutis e sempre detalhistas.

Star Wars: A Ascensão… Skywalker?

O maior plot twist do filme é, sem dúvida, a revelação de Rey como uma integrante da família Palpatine. A sua reação, no entanto, é péssima e no sentido de fazer a personagem parecer uma garota mimada e irritada que não sabe lidar com os próprios problemas – ou seja, indo contra todo o seu desenvolvimento nos dois primeiros filmes da nova trilogia.

Com isso, tanto ela quanto seus novos companheiros parecem mais personagens de uma fanfic do que algo que saiu propriamente do universo Star Wars. Aliás, mesmo aqueles mais clássicos – como Luke e Lando – se vêem tão perdidos

Surpreendentemente, talvez o personagem cujo arco tenha sido mais bem explorado é Poe Dameron (Oscar Isaac). Depois de um papel “jogado” em O Despertar da Força, o piloto ganhou outro nível de protagonismo como General dessa vez e viu até as histórias de seu passado sendo exploradas.

Os plot twists, aliás, estão ali sabe-se lá com qual objetivo. Todos, exceto o falecimento de Leia, que já era naturalmente esperado, são revertidos. A suposta morte de Chewbacca (Joonas Suotamo) e o apagão de memória de C3-PO (Anthony Daniels) dão a sensação de serem apenas curvas que eventualmente retornam para o mesmo caminho inicial, sem qualquer contribuição significativa ou mudança na história.

Também sem qualquer contribuição está o inesperado e quase inaceitável beijo de Kylo e Rey. Depois de uma relação construída de forma poderosa na nova trilogia – chegando a ser reconhecida como uma “díade na Força” – é inacreditável que esta tenha sido a melhor forma que Abrams encontrou para concluir essa história.

O fim da trilogia e o que vem por aí

Mesmo com tanto espaço para mudar e crescer dentro da franquia – espaço que foi introduzido muito bem em O Despertar da Força, diga-se de passagem – a Disney acaba por mostrar sua verdadeira cara (que, para muitos, já estava visível) e deixa bem claro que a franquia Star Wars caminha para se tornar uma máquina de explorar os fãs, com pouca ou nenhuma preocupação com o legado da série.

Na última cena, onde Rey simplesmente se auto-proclama uma Skywalker (mesmo tendo, aparentemente, a bênção de Luke e Leia), temos o perfeito exemplo disso: a banalização de um nome tratado com tanto carinho por uma legião de fãs, transformado em uma simples escolha, como se qualquer um pudesse mexer no legado de uma história que marcou época.

Felizmente ou infelizmente, ainda tem muito mais coisa de Star Wars vindo por aí. Cada vez mais evidenciando que a ideia é arrancar o máximo de dinheiro possível através da franquia, a Disney promete um novo filme do universo e o serviço de streaming Disney+ terá as séries sobre Obi-Wan Kenobi, uma prequel de Rogue One e The Mandalorian.

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