O Metronomy é um dos grupos indie/eletrônico mais consagrados dos anos 2000 e continua mostrando sua relevância nos dias de hoje.
Este ano a banda lançou seu sexto disco de estúdio, intitulado Metronomy Forever. Na época, conversamos com o vocalista Joseph Mount sobre a nova fase da banda. E foram necessários apenas alguns meses de espera para que o fã brasileiro tivesse a oportunidade de presenciar esse novo momento ao vivo.
Com passagens por São Paulo, Curitiba, Rio de Janeiro e Porto Alegre, o Metronomy fez sua quinta vinda ao Brasil. Tivemos a oportunidade de contemplar o show que aconteceu no Rio de Janeiro na última quarta (11), na casa de shows Sacadura 154, na área central da cidade. Algumas horas antes da apresentação, tivemos a oportunidade de conversar novamente com Joe.
Confira o nosso papo exclusivo logo abaixo:
“O que os fãs gostariam de ouvir?”
Joseph Mount: Nós tocamos durante cerca de uma hora e meia. Tocamos músicas de quase todos os nossos discos, já que não costumamos tocar muito do nosso disco de estreia. Acho que sempre trazemos à tona duas questões na hora de montar o repertório. A primeira é “O que gostamos de tocar?” e a segunda é “O que os fãs gostariam de ouvir?”. Quando você está ouvindo um álbum, obviamente você vai querer colocar a maioria das músicas desse lançamento. Mas pensar nisso já nos é algo estranho, já que temos seis álbuns.
TMDQA!: Turnês de discos específicos são boas para fazer as pessoas aprenderem as músicas novas com o calor do ao vivo. É como fazê-las contemplar uma nova experiência.
Joseph: Sim! Nós tocamos também canções antigas que os fãs tenham interesse em ouvir. Mas a questão principal é que, quando você está lidando com uma banda como o Metronomy, que já tem seis álbuns, passamos a entender que não somos capazes de agradar a todos. O bom é que vamos tocar mais vezes aqui, e cada vez terá uma setlist diferente. Da última vez que viemos, a nossa narrativa foi diferente. Isso também é uma forma de encorajar as pessoas a continuarem indo aos nossos shows.
TMDQA!: Como vocês, enquanto banda, conciliam a escolha das músicas? Existe algum posicionamento como “Vamos tocar essa música porque eu gosto e me sinto mais confortável”?
Joseph: Na verdade, não pensamos muito sobre o que queremos. Apenas tentamos imaginar como ficaria melhor dependendo do momento. Da última vez que viemos, tentamos tocar, tentamos explorar um lado mais funk. Desta vez, no entanto, estamos apenas tocando aquilo que sentimos que mais foi significativo para a banda ao longo dos últimos 14 anos. Pensamos também naquilo que imaginamos que as pessoas vão querer escutar.
TMDQA!: Vocês fizeram a passagem de som há pouco, e ainda temos cerca de três horas até o início do show. Como vocês costumam se preparar para uma apresentação ao vivo? Existe algum tipo de ritual?
Joseph: Nós ficamos juntos. Conversamos, bebemos… Não existe necessariamente um “ritual”. Acho que, já que fazemos isso há um bom tempo, nós nos sentimos bem confortáveis. Quando vamos tocar em lugares como este, ficamos um pouco mais ansiosos, porque é um público diferente, que não vemos há anos. Ficamos mais nervosos que o normal, acho. Mas nossa experiência com o público brasileiro sempre foi muito boa!
“Sempre ficamos muito felizes em vir”
TMDQA!: Por falar em público, as pessoas do mundo inteiro costumam falar bem dos fãs brasileiros. Costumam dizer que temos uma recepção calorosa. Vocês também nos veem assim? É a sua quinta vez no Brasil, certo? Acredito que já tenham alguma opinião formada sobre isso.
Joseph: É interessante pensar no cenário de bandas vindo para o Brasil nos anos 90 e comparar com a situação de outras épocas. Eu sinto que, quando viemos pela primeira vez, fazíamos parte de uma nova estrutura. É um novo grupo de músicos que estava vindo, e foi incrível. Não sei em relação à minha geração de bandas, mas sei que todo mundo que eu conheço e que vem para cá fica impressionados. Falam que o público brasileiro tem muita energia, dão muito afeto e se mostram muito felizes. Não sabemos se todas as bandas têm a mesma visão, mas nós amamos o Brasil. Sempre ficamos muito felizes em vir.
TMDQA!: Você se lembra de algum episódio específico que confirme essa receptividade dos brasileiros? Já se depararam com algum fã doido ou algo do tipo?
Joseph: Não (risos). Temos um grupo muito legal de fãs, mas não tem nenhum que seja muito louco. É legal porque, quando viemos para o Brasil, somos abordados ocasionalmente. Em São Paulo, por exemplo, estávamos andando pela cidade e tirando fotos com pessoas, mas não são doidos.
TMDQA!: E como estão aproveitando o seu tempo livre aqui no Brasil?
Joseph: Tentamos achar restaurantes, e às vezes fazemos uma espécie de “excursão arquitetônica”, reparando nas construções locais.
TMDQA!: Já foram ao Cristo Redentor?
Joseph: Não sei. O que é isto?
TMDQA!: É aquele Jesus Cristo gigante com os braços abertos.
Joseph: Ah, sim! Eu nunca cheguei a ir lá, mas o resto da banda já foi (risos). Eles sempre exploram a cidade e os vários lugares. Agora, com ferramentas como o Instagram, ficou mais fácil conhecer os lugares. Por lá, podemos pedir indicações de restaurantes e de outros estabelecimentos para ir.
TMDQA!: E sobre a música brasileira? O que você conhece e do que você gosta?
Joseph: Não sou muito bom em nomear artistas (risos), mas na época em que começamos a tocar a CSS [Cansei de Ser Sexy] era bastante popular. Existia esse cena mais jovem que era incrível. Mas vivi um pouco da música brasileira na pele. A bateria foi meu primeiro instrumento. Fiz um curso de jazz sobre percussão, e lá estudávamos ritmos e instrumentos que são originais do Brasil. Esse conhecimento faz parte da minha musicalidade.
TMDQA!: Você tem alguma opinião formada sobre o samba e o famoso funk carioca?
Joseph: Na Inglaterra, samba virou uma coisa meio mal vista, por conta de bandas locais ruins (risos). O espírito original do samba, no entanto, é brilhante! Eu gosto do funk também. Não sei muito sobre, mas acho maneiro.
Três discos para escutar pelo resto da vida
TMDQA!: O título do nosso site tem a ver com a relação íntima, quase amistosa, que uma pessoa pode ter a música. Acreditamos no poder do álbum. Vocês também acreditam? Existe na indústria um forte movimento em favor do foco na divulgação através de singles. É como se isso desconstruísse também a ideia da construção da narrativa de um disco.
Joseph: É importante lembrar que, pelo menos nos últimos 30 ou 40 anos, muitos lançaram ótimos álbuns e muitos lançaram álbuns ruins, com uma ou duas músicas boas. Não é exatamente uma novidade. Alguns tipos de artista sempre se concentraram no lançamento de singles. Esta é a preocupação deles. Ao mesmo tempo, existem aqueles que se concentram em álbuns. Não precisa ser necessariamente construir uma narrativa, contanto que tenha significado para o artista. Eu, por exemplo, preciso de pelo menos umas quatro ou cinco músicas para entender o que vai sair depois. Álbuns são muito bons por sua criatividade, por criarem esse ecossistema. Para mim, isso é muito importante. Artistas como Taylor Swift, Ed Sheeran, Rosalía e Billie Eilish estão todos fazendo discos, sabe? Eu preciso aceitar que algumas pessoas ligam para isso, enquanto outras, não.
TMDQA!: Ainda aproveitando o nome do site, gostaria de te fazer uma pergunta final. Se você fosse para uma ilha distante e só pudesse levar apenas três discos para escutar durante o resto de sua vida, quais seriam?
Joseph: Eu escolheria Songs in the Key of Life, do Stevie Wonder. Também acho que possivelmente escolheria o Discovery, do Daft Punk. Para fechar, levaria também o Speakerboxxx/The Love Below, do Outkast.
TMDQA!: Alguma consideração final?
Joseph: Eu queria enfatizar o quanto adoramos estar aqui. Queremos voltar o máximo de vezes possível. Inclusive, eu pretendo voltar para o Ano Novo. A ideia é estar aqui no Rio para a virada. Apenas por diversão mesmo!