No ano passado o incrível Vinnie Paul, um dos fundadores do Pantera, irmão de Dimebag Darrell e membro fundador do HELLYEAH, nos deixou cedo demais.
Depois de um período de luto complicado, o HELLYEAH retomou as atividades neste ano e finalizou o álbum Welcome Home. O sexto álbum de estúdio do que começou como um supergrupo mostra quanto a banda cresceu e se desenvolveu no projeto principal dos músicos presentes.
Com diversas homenagens a Vinnie, o disco tem uma forte carga emocional e representa um dos passos mais difíceis na carreira do HELLYEAH. Felizmente a decisão de seguir em frente e finalizar Welcome Home mostrou ao mundo as últimas linhas de bateria gravadas por Vinnie – que chegou a ouvir algumas das canções prontas, como a pedrada “333”, que abre o disco.
Atualmente com Roy Mayorga (Stone Sour) assumindo as baquetas ao vivo, a banda é formada por Chad Gray (Mudvayne) nos vocais, Tom Maxwell (Nothingface) e Christian Brady (Magna-Fi, Überschall) nas guitarras e Kyle Sanders (Skrew, Bloodsimple, MonstrO, irmão de Troy Sanders, do Mastodon) no baixo.
Mesmo em turnê pelos Estados Unidos, Tom nos atendeu por telefone para um papo que incluiu várias histórias sensacionais de Vinnie, além de vários detalhes sobre o processo mais difícil da carreira dos americanos. Confira a seguir!
Entrevista com Tom Maxwell (HELLYEAH)
TMDQA!: Oi, Tom, como você está?
Tom Maxwell: Eu estou ótimo, cara, final de turnê, pronto pra ir pra casa! E você?
TMDQA!: Tudo certo por aqui também! A primeira coisa que eu gostaria de perguntar é sobre o novo disco, Welcome Home. Vi você falando que havia um certo grau de incerteza enquanto gravavam o disco. Olhando hoje, você acha que valeu a pena deixar essas ideias novas fluírem e assumir esse risco?
TM: Sim, com certeza, cara. Nós tínhamos que finalizar o que tínhamos começado, eu sei que o Vinnie iria querer que finalizássemos o disco, sabe? Ele era muito apaixonado por essa banda, pela música, e estava muito empolgado com o novo material que estávamos fazendo. Como disse algumas vezes antes, nós tivemos sorte o suficiente de ter suas baterias finalizadas, então eu acho que teria sido um desserviço e acho que teria sido uma pena se tivéssemos só deixado pra lá. Então, sim, acho que valeu muito a pena.
Evolução do HELLYEAH
TMDQA!: Bom, houve muitas mudanças na sonoridade do HELLYEAH nos últimos anos. Você acha que até hoje vocês continuam evoluindo como banda e, se sim – e eu acho que sim – você pode nos contar mais sobre esse processo?
TM: Sim, com certeza. Para mim é sempre sobre evoluir e expandir, assumir riscos, sair da sua zona de conforto. É aí que você sabe que está chegando em algum lugar. Quando você consegue olhar e ver que é algo passional, que é arte e não apenas canções. Você pode escrever dez músicas em um dia, não significa que alguma delas vai significar algo, sabe? Para mim, é sobre estar sempre evoluindo e não se fechar em apenas um estilo, ou em um estado mental. A música pra mim é o espaço sideral, cara, tem tanta coisa pra explorar. No fim das contas, se a música é boa e você está feliz com ela, então é um sucesso.
Carga emocional da perda de Vinnie Paul
TMDQA!: O disco novo alterna entre momentos bem pesados como “333” e “Oh My God” e algumas faixas mais lentas como “Welcome Home” e “Skyy and Water”, mas, pra mim, soa bem carregado emocionalmente como um todo. Eu sei que a maior parte estava pronta quando Vinnie faleceu, mas você acha que essas músicas ainda carregam algum peso dessas emoções?
TM: Eu acho que sim. Acho que liricamente o Chad vai pra todo lugar, ele escreve para os machucados do mundo, em suma. Mas, musicalmente, com certeza. Tipo, é um livro bem aberto, está ali para cada um interpretar e se sentir de qualquer forma que seja quando ouvir o disco, mas, sabe, apesar das músicas pesadas serem bem cruas e pesadas, essas outras como “Welcome Home” e “Skyy and Water” também têm essa mentalidade pesada. E acho que isso ocorre porque foi um disco difícil de finalizar, nada foi normal nessa gravação, ou nesse lançamento, ou nos ensaios, ou na turnê. É tudo muito diferente agora, mas respondendo sua pergunta, sim, eu acho que está tudo ali, sabe? Nós fizemos nosso melhor para finalizar. Acho que muito vem de termos juntado forças para finalizar essas músicas e isso transparece.
Tributos a Vinnie Paul e entrada de Roy Mayorga
TMDQA!: Eu infelizmente ainda não vi um show dessa turnê, mas eu vi que vocês têm feito uma bela homenagem ao Vinnie toda noite, inclusive tocando algumas músicas do Pantera. Como tem sido para vocês fazer isso e como tem sido a reação da plateia?
TM: Cara, surpreendentemente tem sido incrível, principalmente por conta da plateia, dos fãs. Eles nos apoiam muito, são muito amáveis e, sabe, tem sido uma estrada difícil. Nós estamos fechando a segunda perna desta turnê e a primeira foi especialmente complicada. A gente não entrava em turnê há quase dois anos, então havia muita ansiedade e eu me acostumei tanto com estar em casa que sair de casa foi uma grande montanha-russa de emoções. Quanto mais velho eu fico, mais difícil vai ficando e agora, sem o Vince [Vinnie], tudo mudou muito. Toda a dinâmica mudou. E ter o Roy, cara…
TMDQA!: Eu ia te perguntar exatamente isso. Como tem sido estar com o Roy?
TM: A gente não poderia ter pedido por uma pessoa melhor para fazer isso conosco, cara. Ele não é apenas um grande amigo, e um amigo de longa data, mas ele é um puta baterista do caralho! Ele bate forte pra caramba, e está fazendo um trabalho fantástico. Ele toca essas músicas como se ele as tivesse escrito, então tem sido ótimo.
Histórias e lembranças de Vinnie Paul
TMDQA!: Eu tenho certeza que muita gente vai lembrar do Vinnie pelo músico incrível que foi. Mas já vi você e os outros membros do HELLYEAH dizendo quão incrível ele era enquanto pessoa. O que você pode contar sobre este lado dele?
TM: Ah, cara, sabe… ele era o Vinnie Paul. Ele era uma lenda viva. Ele vai ser lembrado como um dos maiores bateristas do mundo, sem dúvidas, mas ele ainda era um cara normal, sabe? Ele era bem extrovertido, bem sociável, era a alegria da porra da festa. Ele tinha um carisma tão bom e era um cara muito caridoso.
Eu te digo, cara, ele sempre colocava todos os outros antes de si mesmo. Em um ponto quase preocupante, sabe? Eu nunca esqueço de uma vez que estávamos em turnê com uma banda… acho que era Holy Grail o nome, e arrombaram a van dos caras. E o computador do guitarrista foi roubado, e ele ficou tão arrasado porque tinha todas as suas fotos, várias informações e coisas privadas. No dia seguinte, o Vinnie foi lá e comprou um MacBook pra ele, sabe? Ele só tentava consertar as coisas do melhor jeito que podia, mesmo sabendo que não poderia recuperar o que [o cara] tinha perdido.
Ele é o tipo de cara que levaria 25 pessoas pra jantar. E esse era o jeito dele, sabe? Virava pra mim e falava “Tom, a gente vai comer um churrasco hoje. Chame a banda, a equipe, todo mundo. É por minha conta.” Ele nunca hesitou com nada disso, ele era esse cara.
Ele era muito alegre, tinha um senso de humor fantástico. Na real, isso é o que eu mais sinto falta dele. Ele tinha uma risada, cara, que só de você ouvir você ria junto. Uma daquelas coisas que te entretém, sabe? E ele era ótimo nisso também. Ele entretinha as pessoas como um baita baterista, mas fora do palco também. Ele abria sua casa pra qualquer um, cozinhava pra qualquer um. Ele era legal pra caralho, cara. Eu sinto falta demais dele.
Legado de Vinnie e futuro do HELLYEAH
TMDQA!: Vocês têm feito um trabalho sensacional de preservar o legado do Vinnie, inclusive doando parte dos lucros de shows para uma Associação que cuida de doenças cardíacas. Acho que isso tudo reflete muito como vocês estão se posicionando diante de tudo que aconteceu, né?
TM: Sim, cara. Sinto que se há algo que aprendemos é que o tempo é precioso e a nossa saúde é tão preciosa quanto. E conforme vamos ficando mais velhos, nós precisamos cuidar de nós mesmos, porra. Estar em turnê e estar na indústria musical é realmente um esporte de jovens, e conforme vamos ficando mais velhos precisamos manter em mente que não temos mais 20 anos. Precisamos cuidar dos nossos corpos, cara. E eu realmente quero estar por aqui por muito tempo, eu tenho mulher e filho em casa que dependem de mim, que me amam. E eu preciso honrar isso fazendo a coisa certa, e não ficar levando vantagem pelo estilo de vida [de rockstar]. Não dá pra ficar fazendo escolhas ruins. No fim do dia, o tempo é precioso.
TMDQA!: Com certeza, cara! Inclusive, sobre isso também, eu sinto que a comunidade do metal tem abraçado cada vez mais essas mudanças positivas e tem estado cada vez mais unida. A sensação é como se as pessoas estivessem tentando empurrar o metal de volta para o underground, mas a comunidade parece determinada a não deixar isso acontecer.
TM: Sempre foi assim, cara! A comunidade do rock, do metal, ela sempre teve suas costas na parede. E isso acaba sendo uma das coisas que a torna tão querida, porque é algo que nós sempre vamos ter. Nós sabemos que essas canções, que essa música já nos fez sair de tempos difíceis, nos deu boas memórias e eu acho que ninguém nunca vai tirá-la do seu lugar. Tudo tem fases e todo mundo tem seu tempo, seu ciclo de vida, dentro do que é considerado pop ou da moda e tudo mais, mas a nossa comunidade tem sido forte pra caralho desde que, sei lá, o Slayer lançou o Show No Mercy (1983). Sempre esteve ali e eu acho que nunca vai deixar de estar, acho que estaremos sempre lado a lado porque é uma puta família.
Quando você vê uma pessoa andando na rua com uma camiseta do Slayer, você fala tipo “Aí sim, cara, Slayer é foda!”. Ninguém faz isso nos outros gêneros. Ninguém te para na rua pra falar “Aí sim, camiseta da Cardi B, hein!”. Vamos guardar isso pra gente, isso é nosso!
TMDQA!: É cara, e é o que você falou, né? É como uma família. Você os ajuda com a sua música, e eles te ajudam quando acontece algo complicado, como a perda de um ente querido que rolou com vocês, e vocês precisam voltar pra estrada. Enfim, muito obrigado pelo seu tempo, espero que vocês venham pro Brasil logo!
TM: Estamos trabalhando nisso! Muito obrigado pelo papo e se cuide!