TTNG: em entrevista ao TMDQA!, Tim Collis fala sobre composições, cena, show no Brasil e mais

O TTNG toca em São Paulo e, em papo com o Tenho Mais Discos Que Amigos!, soubemos mais sobre a lendária banda de math rock. Veja a entrevista!

TTNG
Foto por Isaac Carrillo

O TTNG (ex-This Town Needs Guns) é, ao lado do American Football, um dos pioneiros da fusão do math rock com o emo. E a boa notícia é que a banda britânica chega às nossas terras pela primeira vez neste dia 16 de Janeiro, com show único em São Paulo.

Atualmente formada pelos irmãos Tim Chris Collis (guitarra e baixo, respectivamente) e Henry Tremain (vocais e baixo), o grupo já teve 7 outros integrantes desde sua concepção. Recentemente, inclusive, uma turnê histórica comemorou 10 anos do aclamado disco Animals e viu o ex-vocalista e guitarrista Stuart Smith voltando a tocar com os caras.

Além das mudanças de membros, vale ressaltar a alteração do nome ocorrida em 2013. “This Town Needs Guns” era um nome irônico na cidade natal da banda (Oxford, no Reino Unido) devido à baixa quantidade de armas; com a saída do underground, a coisa deixou de ser tão claramente irônica e eles acharam por bem abreviar para a sigla.

Nessa primeira passagem por aqui, o trio promete um show bem especial. Apesar do último trabalho de inéditas ter sido Disappointment Island (2016), o TTNG não está mais preocupado em fazer uma “turnê de divulgação” e prometeu caprichar no repertório.

Quem nos contou isso foi o próprio Tim Collis, em uma conversa exclusiva por e-mail que revelou ainda mais detalhes sobre o sentimento de vir ao Brasil após 16 anos de carreira e sobre todo o movimento que eles ajudaram a difundir. Confira o papo a seguir e garanta seus ingressos por aqui!

Entrevista com Tim Collis (TTNG)

TMDQA!: Olá! Primeiramente, muito obrigado pelo seu tempo! Tenho que começar com a pergunta óbvia: quão empolgados vocês estão para a primeira vez no Brasil?

Tim Collis: Muito empolgados! É um lugar que queríamos tocar por muito tempo e nunca tínhamos conseguido fazer funcionar. Estamos cientes de que há uma cena crescente de gêneros alternativos/math e estamos honrados pelo convite para tocar em São Paulo. É difícil saber o que esperar, mas pelo que vimos e ouvimos nas redes sociais temos certeza que todo mundo vai ser muito legal e que vão nos receber muito bem.

TMDQA!: Como você mesmo disse, aqui no Brasil temos visto uma nova vida da cena alternativa/math e parece que mais e mais pessoas estão entrando em contato com os pioneiros como vocês e o American Football. Eu sinto que talvez seja até por isso que vocês só estão vindo pra cá agora. Você tem percebido algo assim? Tipo um auge tardio do gênero que vocês ajudaram a desenvolver?

TC: É difícil de dizer, na verdade. Eu acho que sempre houve um interesse global e uma grande quantidade de fãs de bandas como o American Football, o toe [saiba mais sobre os japoneses aqui] e possivelmente o TTNG, que podem ser consideradas algumas das bandas de “math” mais antigas. Acontece que esses fãs estavam em pequenos aglomerados espalhados pelo mundo e talvez, assim como em outros lugares, demorou um certo tempo para uma quantidade grande o suficiente de interesse surgir e criar oportunidades para bandas como o TTNG virem fazer shows.

Eu acho que o desejo dos fãs por bandas como a nossa virem tocar sempre esteve presente, mas agora houve um revival e assim há possivelmente mais pessoas se interessando. Isso gera uma demanda maior e um potencial para que os shows sejam organizados. De toda forma, é legal ser considerado um pioneiro do gênero (independente de como as pessoas queiram nos categorizar) e ter a oportunidade de visitar novos lugares.

Processo de composição

TMDQA!: As músicas de vocês são muito técnicas, mas ao mesmo tempo muito melódicas. Vocês sentem que tocar math rock, um gênero com elevado grau de complexidade, ajuda a ser mais criativo e inovador nas composições ou você acha que acaba criando uma espécie de restrição aos lugares que podem ser acessados musicalmente?

TC: Eu acho que pode funcionar das duas formas, na verdade. Como músico, você pode se tornar proficiente em seus instrumentos e tocar de uma forma talvez mais técnica que pode abrir diversas possibilidades no sentido de onde você pode levar as músicas, então pode ajudar na criatividade. Também pode virar uma característica que os ouvintes podem associar ao som da banda, podendo ser útil em termos de referenciar outras músicas. Ao mesmo tempo, se você está sempre focado em, por exemplo, tocar as coisas mais difíceis, rápidas e complexas que você puder, isso pode resultar em músicas soando parecidas. É algo que eu já ouvi sobre o TTNG e outras bandas do gênero, e é totalmente justo.

Tocar música complexa pode ser potencialmente restritivo, já que pode se apresentar como um desafio maior aos ouvintes e algumas pessoas podem não desejar ser desafiadas quando estão ouvindo música, o que é compreensível. [Música] não é algo que deve necessariamente envolver um investimento de tempo para poder curtir. Por outro lado, é isso que talvez faça um gênero como o “math rock” mais interessante para algumas pessoas. Esse desafio de ter que realmente tirar um tempo com as músicas/discos e criar um entendimento da banda baseado em um nível mais profundo de escuta, talvez.

Eu imagino que seja por isso que tantos músicos são fãs de bandas dentro desses tipos de gêneros. Eu diria que pelo menos 50% das pessoas que frequentam nossos shows são músicos e estão em bandas que são técnicas, de alguma forma, ou similares à nossa de vários jeitos.

TMDQA!: Curiosamente, eu conheci vocês quando estava fuçando compassos complexos na Wikipedia e esbarrei na canção “26 Is Dancier Than 4”. Então, queria perguntar sobre esses tempos complexos: é algo que vem naturalmente enquanto vocês compõem ou é algo que vocês geralmente decidem “ah, vamos usar esse compasso” ou algo assim?

TC: É algo totalmente não planejado (e muitas vezes não compreendido!). Pra falar a verdade, dependendo de como você conta os compassos de muitas das nossas músicas, elas podem acabar estando em compassos bem simples. Frequentemente no passado enquanto escrevíamos, nós começaríamos com um riff de guitarra e aí trabalhávamos baixo e guitarra em cima disso, até colocar os vocais. Não havia nenhuma intenção real de alguma seção ser particularmente complexa ou em algum tempo bizarro — é algo que se manifesta naturalmente.

Animals Acoustic, turnê com Stuart Smith e Brasil

TMDQA!: Recentemente, vocês comemoraram os 10 anos do Animals com algumas coisas bem especiais. Entre elas esteve o Animals Acoustic, uma versão acústica do disco feita de uma maneira bem especial. Pode me contar um pouco mais sobre como foi ter o Nate Kinsella (American Football, Joan of Arc) contribuindo nesse processo com lindos arranjos?

TC: Foi incrível e um verdadeiro privilégio ter alguém com a capacidade do Nate disposto a arranjar e arrumar algumas das faixas com o fantástico Mivos Quartet. Nate é certamente um dos músicos mais talentosos que já conhecemos em nossas viagens e foi um verdadeiro prazer ter feito turnês com ele e trabalhado em um disco com ele. Inclusive, para quem não estiver familiarizado com sua carreira solo, eu recomendo demais conferir sua música sob o nome Birthmark.

TMDQA!: Outra coisa feita para a comemoração foi uma turnê com o Stuart Smith, ex-integrante da banda. Como foi isso? Quão especial foi essa turnê?

TC: Foi incrivelmente especial e por vários motivos provavelmente uma das nossas melhores turnês até hoje. Foi ótimo poder voltar a tocar e passar um tempo com o Stu (e outros membros antigos) para os shows do Animals no Reino Unido e nos EUA e os shows foram todos um sucesso. Nós tivemos algumas apresentações esgotadas e o público foi sensacional em todos os lugares que estivemos — super entusiasmados e nos apoiando. Foram shows realmente muito bons para receber essa energia da plateia e foi uma turnê muito memorável.

TMDQA!: Legal! Muito obrigado por nos atender. Por fim, queria saber sobre os planos do show por aqui. Já que essa é a primeira passagem do TTNG no Brasil, podemos esperar um setlist que englobe mais fases da banda ou vai ser um show ainda focado na divulgação do Disappointment Island?

TC: Na verdade, como o Disappointment Island já tem alguns anos, esse não vai ser um show da turnê desse álbum especificamente. Estamos pensando em tocar uma mistura de canções de todos os discos e esperamos incluir algumas das favoritas ali. Então sim, vai com certeza ser um setlist que engloba mais fases. Nós não nos importamos muito com o que vamos tocar, só estamos muito felizes de ter a oportunidades para tocar para um Brasilhão de pessoas! Agradeço pelas perguntas, e espero te ver em breve!