Allie X é o nome artístico de Alexandra Ashley Hughes, cantora nascida em Oakville, no Canadá, e que tem sido um dos maiores fenômenos recentes do pop.
Allie deriva de Alexandra, e o X vem da variável matemática, representando sua caminhada constante para se conhecer. E, em um novo passo nesta trajetória, ela prepara o lançamento de seu novo álbum Cape God.
Até o momento, já foram quatro singles lançados: “Fresh Laundry”, “Rings a Bell”, “Regulars” e o mais recente, “Love Me Wrong”, com participação de Troye Sivan.
Juntando influências de vários gêneros variando do gótico à música típica dos EUA, Allie criou sua própria mistura. Se aproximando mais do que nunca de uma identidade própria, a cantora traz uma sonoridade misteriosa e obscura sem perder o apelo pop.
Apesar de sua carreira ter começado no meio dos anos 2000, o projeto sob o atual pseudônimo lhe rendeu apenas um disco de estúdio antes de Cape God, previsto para chegar em 21 de Fevereiro deste ano.
Muito simpática, Allie X nos atendeu por telefone para uma conversa bem-humorada e cheia de histórias. Ela entrou em detalhes sobre sua decisão de seguir a carreira artística, contou como foi ter Katy Perry como uma de suas primeiras fãs e relatou a recente turnê pela Europa ao lado da MARINA. Confira a seguir!
Entrevista com Allie X
TMDQA!: Oi, Allie! Obrigado por nos ceder um pouco do seu tempo! Estamos muito empolgados com o novo álbum, Cape God. Já foram quatro singles e todos eles soam tão diferentes entre si, mesmo estando todos meio conectados por esse som pop misterioso que permeia as canções. O que podemos esperar do restante?
Allie X: A mesma coisa! Eu acho que ele é muito dinâmico, há muita diferença entre as canções mas elas são todas conectadas conceitualmente e na direção sonora. Todo o disco tem essa pegada assombrosa, e ao mesmo tempo essa coisa meio nostálgica, um “Americana” meio gótico, enfim… Eu poderia seguir descrevendo por horas [risos].
TMDQA!: Sensacional! Estou ansioso pelo que vem por aí. Inclusive, queria falar sobre o novo single, “Love Me Wrong”. Pra mim, parece uma grande mistura de referências bem aplicadas com uma versão mais amadurecida dos seus trabalhos anteriores. Você enxerga assim também?
AX: Sim, eu acho que na verdade essa é uma ótima forma de descrever o disco como um todo. Parece uma versão mais enxuta de um MONTE de coisas que eu fiz e vivi e cresci, e sim, me parece maduro. É a coisa mais madura que eu já fiz.
TMDQA!: E é uma evolução constante do que você fez no passado, né.
AX: Sim! É muito doido, eu estou trabalhando no meu setlist para a turnê agora e eu ouço músicas antigas e fico… “Meu Deus, eu evoluí um bom bocado”.
TMDQA!: E com essa sonoridade nova tão especial, fiquei curioso para saber o que você mais tem ouvido, de onde vêm essas referências?
AX: Bom, esses artistas não necessariamente inspiraram esse disco, mas deixa eu olhar aqui no meu Spotify… Ah, eu amo a Little Simz, do Reino Unido! Ela é tão boa. Eu tenho ouvido muito a Björk e Cocteau Twins, também, e esse cara muito legal chamado Damien Jurado. Estou ouvindo muito o disco Visions of Us On the Land (2016), é incrível. Ah, e essa banda de post-punk da Irlanda chamada Fontaines D.C.!
TMDQA!: Eu adoro o Fontaines D.C.!
AX: Sim, eles são demais! Foi tão refrescante conhecê-los. Eu os descobri em uma playlist da NME, e eu fiquei tipo “Uau, isso é post-punk de verdade!”. Você não costuma ouvir isso atualmente!
Parceria com Troye Sivan
TMDQA!: Bom, o novo single tem a participação do Troye Sivan. Acho que trabalhar com ele não é nenhuma novidade pra você, já que você colaborou em várias canções do Troye, como “Bloom”. Mas quão diferente foi tê-lo como colaborador em uma música sua?
AX: Cara, a gente nem sabia que ia ser uma música minha quando a escrevemos. Isso foi bom, porque acho que se a gente soubesse desde o começo haveria uma pressão, uma noção pré-concebida de como deveria soar baseado em todo o resto que eu havia feito. A gente estava escrevendo de forma muito livre naquele dia, porque estávamos escrevendo para um filme e meio que só tentando adivinhar como ele seria, já que eles não mandaram nada além do roteiro.
A maior parte da letra é minha e uma boa quantia veio de como eu me sentia enquanto adolescente, que é o tema de Cape God. Então, quando o filme não aceitou a música, eu fiquei tipo “Ah, é minha então”. Porque eu amei e eu sabia que encaixaria perfeitamente nesse álbum.
TMDQA!: E você pode nos dizer em qual filme ela deveria estar?
AX: Ah, acho que sim. Na verdade, como o título é o mesmo em inglês e português, eu acho que é melhor só dizer que era para o filme que o Troye esteve mais recentemente. [risos]
Lugar certo na hora certa
TMDQA!: Queria voltar um pouco no passado agora, porque li recentemente que você saiu dos seus empregos “normais” há uns 5 anos para se dedicar exclusivamente à carreira de artista. Eu fiquei bem curioso para saber quão assustada você estava ao dar esse passo e se foi algo planejado ou algo mais “é agora ou nunca”.
AX: Cara, é uma boa pergunta. Não foi exatamente planejado. Eu estava muito quebrada, eu acho que eu nunca tive mais de 200 dólares na minha conta. Eu estava vivendo no meu cheque especial boa parte do tempo, e eu estava trabalhando em uma banda cover e dando aulas de canto, além de ocasionalmente fazer figuração em televisão… Era esse monte de coisas diferentes.
Eu acabei ganhando uma residência em um lugar chamado The Canadian Film Center, e durante esse programa com eles eu sugeri, “Vocês deviam nos levar para Los Angeles para a gente ter algumas reuniões”, e eles acabaram curtindo a ideia! [risos] Então eles nos levaram pra lá, e eu falei tipo, “Posso reembolsar essa passagem [de volta] pra ficar aqui por mais uma semana?”, e eles ficaram de boa com isso. Então, foi assim que eu cheguei lá.
Aí eu fiz algumas reuniões… bom, eu não fiz algumas reuniões, eu tentei fazer algumas reuniões mas ninguém me ligou de volta além de um lugar. E acabou sendo a empresa que me ofereceu um acordo que me levou a Los Angeles, que me deu um lugar para dormir que não fosse o chão. [risos] E eu escrevi algumas músicas, eles me curtiram. E… pois é, eles me arrumaram um visto para que eu pudesse morar lá.
Enfim, foi uma loucura. Para responder a parte importante da sua pergunta: eu tinha muita ansiedade e medo em torno disso, mas eu fui muito corajosa. Eu ainda sou assim. Eu só vou e faço. Eu tomo riscos. Então, sim, eu senti um pouco isso de “OK, essa é a sua chance. Você está assinando um contrato que talvez nem seja tão bom, mas de que outra forma você vai chegar a Los Angeles? Então vamos fazer isso”.
TMDQA!: Que história incrível!
AX: É, foi uma loucura como tudo aconteceu! Se você olhar para a minha história, eu fiquei tentando fazer música por anos em Toronto e nada estava acontecendo. E o timing foi muito bom. Foi bem na época que eu havia realmente entendido o meu som e o nome do projeto.
Tudo estava pronto para dar certo. Eu tinha umas três músicas que eu achava muito boas, “Prime”, “Catch” e uma outra chamada “Tongue Tied”. Foi como se eu tivesse chegado em LA no tempo certo, porque as pessoas estavam interessadas no que eu estava fazendo.
TMDQA!: Lugar certo na hora certa!
AX: Lugar certo na hora certa! [risos] E o que veio depois foi um monte de decepção, mas pelo menos me ajudou a começar. [risos]
Katy Perry e a chegada da fama
TMDQA!: E como você reagiu quando soube que a Katy Perry falou de “Catch” como seu hit da primavera?
AX: Putz, cara! Eu vou explicar assim: hoje em dia, se a Katy Perry twitasse sobre uma música minha, eu estaria tipo, “Ah, legal! Valeu Katy”. Na época? Foi tão… surreal. Tudo isso parecia tão distante da realidade. Eu morava em um apartamento minúsculo em Toronto… foi muito doido sair de lá e em questão de meses ter essa pessoa que era tão distante e fora da realidade e intocável… Eu diria que foi uma viagem. [risos] Uma coisa meio, “QUE? Beleza, legal!”. [risos]
E cara, quando a Katy falou isso, toda a imprensa veio atrás! A revista TIME, cara. Ninguém nunca tinha falado de mim antes na imprensa, então foi tudo uma loucura pra mim. Mas você meio que se acostuma com tudo, eu acho.
Turnê com MARINA e vinda ao Brasil
TMDQA!: Você acabou de terminar uma turnê pela Europa com a MARINA [ex-Marina and the Diamonds], né? E antes dela, foram algumas datas com a Charli XCX. Sei que esses shows foram como atração de abertura e não tenho dúvidas de que logo mais você será a atração principal, mas ainda assim, quão especiais foram essas apresentações?
AX: Foi a turnê perfeita pra mim na Europa! Porque eu nunca tinha feito minha própria turnê lá, então não parecia fazer sentido começar assim. Parecia mais inteligente fazer uma turnê com alguém que tivesse fãs em comum comigo.
E além disso, foi uma turnê muito legal. Ela [MARINA] é muito amável, toda a sua equipe é ótima e nos tratou super bem. Estávamos tocando em teatros grandes e bonitos… Foi muito cansativo, porque nós só tivemos um dia de folga em Londres e todos os outros dias sem show eram dias de viagem, então não dava pra descansar. Mas que bela turnê! E eu acho que eu ganhei vários fãs. Minha turnê recém-anunciada pela Europa está vendendo muito bem e eu acho que é por conta dessa passagem com a MARINA. Eu sou muito grata por ela ter me levado!
TMDQA!: Imagino que você também esteja acostumada a ouvir o “come to Brazil”…
AX: [risos] Sim! Mas é engraçado porque eu já estive mais do que a média dos artistas! Eu já fui ao Brasil três vezes! Duas para me apresentar e uma só pra visitar.
TMDQA!: E quando vai voltar com a turnê do Cape God?
AX: [risos] Eu quero muito fazer isso! Nada está confirmado, mas acho que vai dar certo. O Brasil e a Ásia são lugares bons pra mim.
TMDQA!: Venha logo! Bom, pra fechar: em português, o nome do site significa Tenho Mais Discos Que Amigos. Você tem mais discos que amigos?
AX: [risos] Deixa eu pensar! Bom, se contar os que eu tenho no meu computador, com certeza. Eu não tenho tanto amigos assim. [risos]
TMDQA!: [risos] Muito obrigado por seu tempo e pela simpatia, Allie! Te esperamos no Brasil. Quer deixar um recado para os fãs daqui?
AX: Eu que agradeço! Quero mandar um oi para os meus amados fãs brasileiros, eu mal posso esperar para vê-los novamente e cantar as músicas do Cape God para vocês. Até mais!