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"Eu sou artista graças ao forró": em papo com o TMDQA!, Aretuza Lovi fala sobre nova fase e reconexão com as raízes

A incrível Aretuza Lovi contou com exclusividade ao TMDQA! mais detalhes sobre a nova fase da carreira, liderada pelo single "I Love You Corote". Confira!

Aretuza Lovi
Foto por Ernna Cost

Aretuza Lovi lançou o ótimo disco Mercadinho em 2018 e, desde então, falava-se que ela havia sido “esquecida no churrasco”. Nada disso: a drag queen estava trabalhando muito, e estamos começando a ver o resultado disso agora.

O primeiro single da nova fase é “I Love You Corote”, que mostra a artista de um jeito não visto antes. Embalada pelo forró eletrônico, a faixa traz uma reconexão com as raízes de Aretuza, que nasceu em Goiás mas morou tanto no Norte quanto no Nordeste do país e, segundo ela própria, trabalhou desde jovem com bandas de estilos típicos locais.

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Em um clipe “feito com muito carinho ao povo nortista e nordestino que sempre me recebeu de braços abertos”, Aretuza aproveita para homenagear sutilmente nomes da “cena” como a Companhia do Calypso e o Calcinha Preta, que aparecem em pôsteres no vídeo.

Além disso, o vídeo conta com participações de nomes como Wagner Santiago (BBB), Rafa Uccman, Lucas Guedes e Fernando Pagani (Tik Tok) — além, é claro, da drag queen em diversos takes glamurosos. Assista acima e confira nosso papo exclusivo com a cantora abaixo!

Entrevista com Aretuza Lovi

TMDQA!: Oi, Aretuza! Tudo bem? Queria começar te perguntando sobre a “I Love You Corote”, é claro. Essa música é bem diferente do que você costuma fazer, com essa pegada mais forró. Como foi pra você fazer isso? Fluiu naturalmente?

Aretuza Lovi: Super! Pra mim, o forró tem uma história muito importante e fundamental. Hoje eu sou artista graças às influências do forró, da musicalidade do Norte e Nordeste, do brega, do Calypso, do tecnobrega. Eu trabalhei com bandas do ritmo! Eu saí de casa pra fazer isso, pela minha paixão pelo forró. Eu sempre tive muita, muita vontade de fazer isso no meu som, mas a gente vem de um mercado pop muito forte que muitas vezes impõe: “tem que ser pop”.

A gente vive na cultura do cancelamento, né? Se não for o que eu quero escutar, cancelou, flopou. E cara, eu sou muito feliz com tudo que eu fiz até agora. Mas eu tô muito afim de fazer o que eu gosto de ouvir, a minha verdade, o que eu sinto vontade e eu vou fazer isso muito mais feliz. Chegou esse momento e eu tô muito feliz com a repercussão da música, com o jeito que está viralizando.

Influência do forró

TMDQA!: O forró sempre foi sua influência? Quando foi e como foi esse período em que você morou no Norte e Nordeste?

AL: Eu tinha 16 pra 17 anos quando saí de casa, larguei tudo pra trabalhar com música. Antes de sair de casa (e depois também) eu escutava muito Companhia do Calypso, Calcinha Preta. Eu ia em shows, ficava grudada no palco e pensando “nossa, meu Deus, são ícones”, sabe? São grandes espetáculos, e isso pra mim era motivador, era estarrecedor. Eu pensava “caramba, eu quero ser elas!”, sabe? Assim como a geração atual se inspira na gente, eu me inspirava e me inspiro muito nessas pessoas.

E eu quis trazer no clipe essas referências. Se você der uma passeada no clipe, é muito da minha história, do que eu vivi. Tem um ônibus porque eu trabalhei nas bandas de forró e eu viajava nesses ônibus! E também porque quando eu era adolescente esses ônibus passavam na minha cidade e era aquela loucura, todo mundo saía correndo pra tirar foto. O clipe é inspirado em uma das ex-cantoras da Companhia, a Mylla Karvalho, que pra mim é uma grande referência.

Hoje eu sou muito feliz por poder conversar com essas pessoas, manter amizade com essas pessoas. Ontem mesmo eu acordei com um áudio da cantora da Calcinha Preta que é minha amiga hoje e isso é muito incrível, a gente só finge costume mesmo. (risos)

Pressão da indústria musical

TMDQA!: Você falou um pouco sobre já, mas queria entender melhor como foi essa pressão pra repetir a fórmula de hit depois do sucesso incrível de “Joga Bunda”. Rolou um dilema de continuar investindo nisso pra bombar ou foi tranquilo pra você ir atrás da sua verdade, como você mesma falou?

AL: Olha, todas as minhas músicas, desde antes da primeira que bombou que foi “Catuaba”, eu sempre imprimi pelo menos um pouco do que eu vivi, da minha brasilidade. Por um momento a gente gourmetiza demais a parada e entra em um mercado pop que é muito forte aqui no Brasil, mas eu sempre tentei deixar um pouco da brasilidade… mas o pop gritava mais alto. Tanto “Catuaba” quanto “Joga Bunda” têm uma brasilidade que algumas outras músicas do pop não têm, mas eu me sentia um pouco sufocada em termos de pensar “nossa, eu tenho que gravar e lançar coisas que as pessoas querem, não o que eu quero”, sabe?

É o dilema da guerra do hit, hit, hit. Eu tenho que cantar um hit, tenho que lançar um hit. Até que eu pensei, “cara, eu não preciso lançar um hit, eu preciso lançar algo que vá me satisfazer, que pode agradar uma pessoa ou cem, mas se agradar uma passando a minha verdade vai ser muito mais incrível”. Então, cara, eu quero fazer o que eu gosto de ouvir! Eu escuto forró pra malhar, por que eu não vou gravar um forró? (risos)

Eu acho que quando você passa um lance com muito mais verdade, as pessoas acreditam nisso. E é isso que eu quero, que as pessoas acreditem na verdade que eu quero passar. Eu amo forró, é uma musicalidade incrível, e vai ter muito forrózão sim! (risos)

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Forró e cultura LGBT

TMDQA!: (risos) Adorei! Bom, e como você mesma já disse, o forró é um ritmo cheio de brasilidades, muito abraçado pelo “povão” como você definiu em algumas entrevistas passadas. Você acha que esse tipo de sonoridade sendo feita por uma drag queen é algo que ajuda a combater o preconceito que vocês sofrem?

AL: Super! Tem que ter drags e artistas LGBT em todos os lugares. Esse é o nosso papel: quebrar barreiras e entrar em lugares onde a gente não tinha espaço. Onde a gente podia ser chacota ou ser feita de palhaça, sabe? Mas eu te digo com muita convicção, por ter morado lá, nós somos muito aceitas no Nordeste e no Norte — por mais que as pessoas tenham esse pensamento de que há uma cultura de um homem bem machista.

As pessoas querem dançar, querem ser felizes. Eu te falo porque eu já fiz shows abertos no Norte e Nordeste, não só pro meu público mas para um público tradicional enorme e a galera estava ali dançando e curtindo, sabe? Então eu quero sim estar nos ritmos populares e levar o som popular e mostrar que a gente pode fazer tudo que a gente quiser porque música é música e música quebra qualquer tipo de barreira. Eu vejo essa galera tida como tradicional me recebendo de braços abertos e isso é muito satisfatório!

TMDQA!: Eu imagino! E no fim das contas você é uma pessoa fazendo música, trazendo alegria. É ótimo que as pessoas consigam entender isso…

AL: Sim! E a música é contagiante, sabe, vai deixar de dançar uma música daquela pessoa porque ela é alguma coisa? Pela sexualidade dela? Se você fechar os olhos, é só música. Se deixa levar e vai.

TMDQA!: E recentemente soubemos também que a Pabllo Vittar vai estar no lineup do próximo Coachella, nos EUA. Como você enxerga esse novo espaço que a cultura drag, especialmente brasileira, tem tido no mainstream?

AL: Eu acho revolucionário! Eu já conversei muito isso com as meninas. Quando eu comecei esse lance de gravar música, há uns 8 anos, não existia. E eu fui realmente a primeira a gravar música brasileira, em português, e a própria Pabllo falou “poxa, é verdade”. É muito revolucionário ver a cultura drag, principalmente brasileira, chegar em níveis tão altos, em termos de estar em grandes festivais, de inspirar uma geração, em termos de grandes produções e de fazer a diferença na nossa sociedade. Eu fico extremamente feliz. Eu estava conversando sobre o Coachella ontem e eu vou! Acredito que isso é tão necessário, porque a gente dá voz e inspira uma geração toda. E a gente valoriza muito a cultura drag de lá de fora, são artistas muito incríveis, mas a cena do Brasil é incrível.

Novo EP

TMDQA!: Você lançou o ótimo álbum Mercadinho em 2018, mas agora vai investir em um EP. Queria te perguntar sobre a decisão de fazer esse formato, o que te levou a isso? Foi uma questão da indústria mesmo?

AL: Assim, de cara eu queria fazer um álbum porque a gente têm músicas pra fazer mais de um álbum. Mas eu acho que o álbum é uma realização muito grande, e às vezes a gente grava muitas músicas que não são trabalhadas. E o EP é uma versão menor, que a gente vai trabalhando com carinho, com mais atenção. Como são menos faixas, são faixas extremamente selecionadas para trabalhar. Eu decidi lançar um EP com todas as faixas sendo muito pensadas e repensadas.

Eu pergunto a Deus, “Será que é isso que eu quero fazer? Me dê um caminho”. (risos) E eu fico muito feliz porque os meus produtores e a galera que compõe comigo me abraçaram neste novo momento. Eles ficaram tipo “Arê, é isso que a gente quer de você, a sua verdade”. E eles acreditam muito em mim e nas minhas maluquices — e sério, algumas coisas que eu vou fazer no EP, tem gente que me disse “eita, isso é maluquice, você tinha que lançar um funk ou um brega funk”. Não, eu não vou lançar um funk ou um brega funk, eu vou lançar o que eu quero. Então eu sou muito feliz de ter pessoas que acreditam em mim.

TMDQA!: Então pra esse EP a gente pode esperar coisas na linha da “I Love You Corote” pra mais diferente? (risos)

AL: (risos) Sim! Vai ser uma mistura muito doida! E eu tô muito feliz. Eu posso falar que eu estou viciada no meu próprio EP. Eu escuto todos os dias!

Parceria com Corote

TMDQA!: Já que você fez uma música se declarando para o Corote, eu queria saber qual seu sabor preferido…

AL: Blueberry, o azulzinho! O de pêssego eu gosto muito também. São muitos sabores, eu não consegui experimentar todos pra falar qual o meu de fato preferido, mas de todos que eu experimentei até agora o azulzinho, de blueberry, é o que faz o meu coração bater mais forte. (risos)

TMDQA!: E a Corote está perdendo uma ótima oportunidade de parceria, hein?

AL: Eles tomaram ciência disso! Porque realmente, algumas pessoas vinham falando “ah, você fez essa música pra ser um merchan”, e não é. Assim como foi com “Catuaba”, mas a Corote tomou ciência e estamos conversando. E o mais legal é que eu tive uma reunião e eu vejo pelo pouco que eu conversei com eles que é uma marca que acredita muito na diversidade. Eles são muito gratos à diversidade, que consome muito o produto deles. E essa é a coisa mais importante pra mim quando estou negociando com uma marca!

TMDQA!: Com certeza! Muito obrigado pelo seu tempo, Arê! Foi um prazer enorme conversar com você. Até a próxima!

AL: Eu que agradeço pela oportunidade! Até mais!