TMDQA! entrevista: AMESLARI transporta sonoridade oitentista para os tempos atuais em "City Stories"

AMESLARI surge como um belo nome da música brasileira ao condensar influências oitentistas com atualidades em disco de estreia. Veja entrevista exclusiva!

AMESLARI
Foto por Rafael Vilas Boas

A música oitentista virou quase um fetiche daqueles mais saudosistas que acham que “música boa era no meu tempo”. Felizmente, alguns artistas estão provando que é possível recontextualizar essa sonoridade e um deles é AMESLARI.

Natural de Ribeirão Preto, interior de São Paulo, o jovem de 22 anos acaba de lançar seu primeiro disco de forma independente. City Stories mostra a mistura entre as influências antigas como Elton John e Prince e as mais atuais e diversas, como os japoneses do RADWIMPS e os franceses do M83.

Recentemente, o músico tem divulgado vídeos de uma performance sensacional no Theatro Pedro II, em sua cidade natal. Os registros fazem parte do show Neon Loveque marcou o lançamento do álbum — ou “livro de contos”, como o próprio artista define, já que todas as músicas trazem histórias que podem ou não estar conectadas (segundo ele, cabe ao ouvinte definir).

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Em um papo exclusivo, disponível a seguir, AMESLARI nos contou mais sobre as influências que inspiraram essa sonoridade tão mista e deu alguns detalhes sobre a produção do trabalho.

Confira!

Entrevista com AMESLARI

TMDQA!: Primeiramente, gostaria de parabenizar pelo City Stories. É bem difícil atuar em uma sonoridade que já foi tão explorada e conseguir adicionar novos elementos a ela. Fugir do clichê foi um desafio pra você ou isso veio naturalmente?

AMESLARI: Obrigado! Acho que veio naturalmente porque as músicas vieram muito naturalmente e desde que eu defini na minha cabeça como elas deveriam soar elas não mudaram nada, fora um detalhe ou outro.

TMDQA!: Você é grande fã do Rush e, recentemente, perdemos o Neil Peart. Além de baterista, Neil era um grande compositor também, né? Você sente que teve influência dele nas letras do City Stories?

AMESLARI: O Neil era um poeta fantástico. “The Garden”, do “Clockwork Angels”, de 2012, pra mim é uma obra-prima. Ele diz em um dos documentários do Rush que as letras dele são um reflexo do tempo dele e do tempo que ele observa, então acho que pensando nesse sentido dá pra dizer que ele tem alguma influência sim.

Influências e a música oitentista

TMDQA!: Sobre influências, em músicas como “Start” é bem possível ver a mistura de Rush com Radwimps que você cita. Juntar referências tão distintas é algo que tem um mérito muito grande, pra mim. Além disso, a música dos anos 80 tem várias vertentes, e o seu disco parece trazer um pouquinho de cada com uma roupagem mais moderna. Como você enxerga o processo de condensar todas essas coisas e criar algo novo com sua identidade?

AMESLARI: Ótima pergunta! Acho que como eu ouço muita coisa diferente eu sempre acabo absorvendo isso tudo. Assim, na hora de compor, essas influências aparecem de uma forma ou de outra. Acho que ser eclético assim é uma grande mostra da minha identidade enquanto fã de música.

TMDQA!: Quando se fala de música oitentista, muita gente se prende a um saudosismo do tipo “a música boa acabou ali”. Você acha que incorporar essas influências mais recentes como The Killers e M83 pode ajudar a provar que essas pessoas estão equivocadas?

AMESLARI: Sim! Sempre digo que música nova boa existe e muito, basta saber onde procurar. Além das que você citou, artistas como o Tame Impala e bandas como Keane, Els Amics de les Arts (banda catalã que eu adoro) e outras tantas mostram bem essa questão de até ter a nostalgia de lembrar da “alegria dos tempos atrás” (como diria o grande Paulinho da Viola), mas de sempre olhar pra frente e ter o pensamento moderno.

“Mirrorball” e produção do disco

TMDQA!: Sobre o novo single “Mirrorball”, me chamou atenção o power pop do instrumental junto à letra reflexiva e até crítica da sociedade em alguns pontos. Fiquei curioso para saber como é o processo de composição: costuma começar com o instrumental ou com a letra? Uma coisa influencia a outra, pra você?

AMESLARI: Varia muito, na verdade. Algumas músicas começam com a letra, outras com a melodia, outras com um riff de teclado… “Mirrorball” eu costumo brincar que eu “tropecei” nela, porque o riff da introdução só veio. Muitas vezes o nome vem primeiro, por incrível que pareça – no City Stories tem várias que foram assim.

TMDQA!: Acredito que a maior parte do trabalho tenha sido gravada com equipamentos analógicos, certo? Acha que isso ajuda a traduzir a sonoridade que você busca?

AMESLARI: Na verdade só usamos pré-amps analógicos na captação e o restante do processo foi todo feito digitalmente (incluindo mix e master). A sonoridade ficou exatamente como eu queria, independente de o processo ter sido feito digitalmente ou não.

TMDQA!: Por outro lado, a produção do disco é moderna e bem feita. A escolha de gravar dessa forma mais atual foi intencional ou você tinha/tem vontade de gravar de uma maneira mais “retrô” no futuro?

AMESLARI: Obrigado! Quem sabe no futuro não gravo algo como o Foo Fighters fez no Wasting Light? [risos] seria divertido!