Quando se fala de melhor guitarrista do mundo, vários nomes surgem à mente. Jimi Hendrix, com certeza. Jimmy Page, talvez? Até mesmo Eric Clapton, ou Slash para alguns. Mas quase nunca se ouve falar de Danny Gatton.
Em 1989, a revista americana Guitar Player lançou uma edição que se tornaria histórica. “Os Grandes Desconhecidos”, estampava a edição de Março daquele ano, que trazia o guitarrista de meia idade com pouco ou nenhum apelo visual.
Na descrição, no entanto, a publicação justificou sua escolha com uma pergunta: “ele foi chamado de Melhor Guitarrista Desconhecido do Mundo, mas qual guitarrista famoso poderia tocar mais do que ele?”. A edição veio acompanhada de uma evidência: um disquete com uma gravação da instrumental “Nitpickin'”, lançada postumamente na coletânea Unfinished Business (2004).
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Apesar de soar majoritariamente como um rockabilly, Gatton desenvolveu uma habilidade nunca antes vista de transicionar entre gêneros. Na própria “Nitpickin'”, por exemplo, é possível observar isso na marca de 1:35 quando a guitarra muda completamente de estilo.
Como conta a revista Classic Rock, Danny era o cara que poderia suavemente trocar a afinação de sua guitarra enquanto tocava. Era o cara que imitava o som de um órgão Hammond com apenas sua Fender Telecaster e um amplificador antigo Fender Super Reverb. Era o cara que poderia usar qualquer coisa, de uma garrafa de cerveja a um crânio humano, para fazer slide com sua guitarra e soar perfeitamente.
Reconhecimento de Danny Gatton
Os primeiros passos de reconhecimento de Danny Gatton vieram com suas apresentações ao lado de Robert Gordon, lenda do rockabilly. Apesar de Gordon geralmente manter seu guitarrista em uma “coleira”, fazendo ele se manter sempre ao script, um show histórico gerou uma gravação intitulada “Cruisin'” que mostra o potencial absurdo de Gatton.
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Demorou, mas Gatton eventualmente chegou a uma grande gravadora. Seu disco de estreia foi American Music, em 1975, e só em 1991 a Elektra o assinou. Naquele ano, ele lançou o álbum 88 Elmira St, que virou uma espécie de lenda entre pessoas do ramo.
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Prova disso é que depois do foco no rockabilly em 88 Elmira St, ele apostou no Rock em 1993 com Cruisin’ Deuces.
Ele explicou que foi “terrível” fechar esse acordo, porque ele “toca tantas coisas diferentes”. A crítica à cultura da época, que colocava artistas em bolhas muito específicas, veio logo em seguida:
Eles dizem que você precisa ser caracterizado em uma só coisa. Por quê? Tem mais de uma cor na natureza. Tem mais de uma estação na rádio. Nem todo mundo ouve uma coisa só o tempo todo.
Legado de Danny Gatton
Em 1994, infelizmente, Danny tirou sua própria vida aos 49 anos de idade. Relatos dizem que ele estava lutando contra a depressão há anos, e o que ficou foi um dos legados mais injustiçados da música.
Em anos recentes, Steve Vai deu um depoimento emocionante sobre o guitarrista:
Danny Gatton era o guitarrista dos guitarristas, aclamado tanto pela ‘Rolling Stone’ quanto pela ‘Guitar Player’ como o melhor guitarrista desconhecido de qualquer lugar. Sua lenda só cresceu desde seu suicídio precoce em 1994, juntamente à apreciação por sua velocidade de deixar cego, seu pulo entre gêneros sem nenhum esforço, técnica impecável, e apetite insaciável por novas invenções e soluções de problemas. Danny Gatton chega mais perto do que qualquer outro de ser o maior guitarrista que já viveu.
Ele ainda deu aulas de guitarra para Joe Bonamassa, que viria a se tornar outra lenda do instrumento. Danny Gatton ainda deixou um legado incrível ao mostrar que a técnica é apenas uma ferramenta para ser bom em seu instrumento, e brincou com os limites dos gêneros musicais.
Abaixo, você pode ver um trailer (em inglês) sobre o documentário The Humbler, que conta sua história. Por lá, nomes como o astro do country Vince Gill e o guitarrista e inventor Les Paul aparecem com depoimentos sobre Gatton.