O Black Flag está muito próximo de finalmente estrear no Brasil com um show pra lá de esperado por aqui.
Hoje com uma formação que consiste em Mike Vallely (vocais), Greg Ginn (guitarra), Joseph Noval (baixo) e Isaias Gil (bateria), o grupo continua relembrando a época de ouro do Punk e, também, levando o estilo a uma nova geração.
Com seu último disco lançado em 2013, o Black Flag ainda não tem planos de lançar novas músicas, mas a energia segue forte nas apresentações. Falamos sobre isso e vários outros assuntos com Vallely, também um skatista renomado, que bateu um papo com a gente no ano passado, antes do adiamento da data original do show.
Vale lembrar que o grupo toca neste domingo (8) no Carioca Club, em São Paulo, e os ingressos ainda estão à venda por aqui.
Confira nossa entrevista abaixo!
TMDQA! entrevista Mike Vallely, do Black Flag
TMDQA!: Oi, Mike, que bom falar com você. Então, para começar, me deixa te perguntar uma coisa. Você já esteve no Brasil ou essa será a sua primeira vez?
Mike Vallely: Ah, sim. Eu já estive no Brasil muitas vezes, mas para andar de skate.
TMDQA!: Que massa! E como foram suas experiências por aqui?
Mike: Ah, eu amo o Brasil, de verdade. A comunidade do skate por aí tem tanta energia e paixão, e seus skatistas sempre foram tão agradáveis e acolhedores comigo. Eu sempre me diverti muito.
TMDQA!: Que ótimo. Bem, essa é sua primeira vez por aqui com o Black Flag porque também é a primeira vez da banda no Brasil. Então, como estão suas expectativas para esse show?
Mike: Realmente, eu já toquei em várias bandas e nunca cheguei a ir ao Brasil com elas. A grande verdade é que eu tento não ter expectativas. Eu tento viver o momento. Mas o que eu sei é que a paixão dos skatistas brasileiros e o cenário musical brasileiro são muito fortes. Então só consigo imaginar que esse vai ser um show muito emocionante e cheio de energia.
TMDQA!: Tenho certeza que sim. Você é um homem de muitas faces — ou, devo dizer, muitos empregos. Então, além de andar de skate, cantar, atuar e jogar hóquei, o que mais você tem feito?
Mike: Meu foco principal, além do Black Flag, é a minha empresa de skate que eu administro com minha família na nossa casa, dentro da nossa garagem aqui em Long Beach, Califórnia. Esse é o meu foco principal. Ando de skate há muito tempo, mas comecei esta empresa há quatro anos e meio e, desde que comecei, dediquei a maior parte da minha energia à empresa, em vez de continuar sendo um skatista profissional. E eu tenho feito música o tempo todo. Então sim, meu foco principal agora é a empresa de skate e o Black Flag também.
TMDQA!: Você é um cara que se dedica bastante ao ativismo sobre os direitos dos animais e veganismo e, como em vários outros países, esses são tópicos que aqui no Brasil também têm ficado muito fortes com o passar do tempo. Mas diferente da política, eu sinto que eles ainda não estão tão infiltrados na mensagem que a música passa. Então, além de movimentos como o straight edge, você sente que a comunidade musical está mais aberta a discutir essas pautas hoje em dia?
Mike: Olha… Acho que a música serve como um ótimo canal para compartilhar ideias. Infelizmente, tanto as boas quanto as ruins. Mas na real eu nunca usei minha música para falar sobre as coisas nas quais acredito necessariamente. Prefiro usar a música como poesia e, se ela comunicar algo a outra pessoa, isso será feito de uma maneira onde eu não estarei forçando minha ideologia em alguém. Apenas dizendo que é isso que eu sinto. É nisso que acredito e estou compartilhando. E eu acho isso importante. Eu acho, também, que a comunidade musical e as pessoas no geral estão sim mais abertas a discutir essas pautas. Mas, para mim, isso não deve ser forçado.
Meu principal objetivo é compartilhar o amor pelo skate e pela música, e fazer os melhores shows possíveis onde as pessoas possam bater cabeça e se divertir, sem que eu tenha que passar uma mensagem.
TMDQA!: Ainda falando sobre conexões e mensagem, a comunidade do skate se afastou um pouco de estilos como punk e hardcore nos últimos anos — pelo menos em sua maioria, eu creio. Como você enxerga essa mudança?
Mike: Sim, isso aconteceu. Eu acho que quando algo se torna muito popular, seja a música ou o skate, isso acaba se afastando um pouco de suas raízes. Então eu creio que o punk e o hardcore não sejam mais a primeira escolha de novos skatistas, e tudo bem. Você encontra pessoas que fazem seu próprio caminho e suas próprias coisas. Não dá para pensar que o que é legal para nós será legal para todos. Não estou aqui para dizer que alguém está fazendo algo de errado, isso não é da minha conta. E, você sabe, as coisas mudaram, elas mudam o tempo todo. Eu tenho não me preocupar tanto com isso, e sim apenas compartilhar meus valores e gostos sem acusar alguém ou apontar o dedo, sabe?
TMDQA!: E agora, falando sobre o Black Flag, você está a frente da banda desde 2013 e também fez alguns shows 10 anos antes. Me conta um pouco sobre seu começo no grupo e, à época, como o convite surgiu?
Mike: Bem, estou ligado ao Black Flag desde 2003, mas nunca houve um convite formal nessa época. Durante esse tempo, Greg e eu nos tornamos amigos e eu acabei cantando em alguns shows da banda. A conversa surgiu com o passar dos anos, outros caras passaram pelo vocal também e eu era apenas o manager do grupo. Acabou acontecendo naturalmente.
TMDQA!: Há algum plano para lançar um disco novo com a banda?
Mike: Bem, Greg e eu temos conversado sobre gravar algumas músicas e usar canções que já estão gravadas. Mas agora temos muitos shows, muitos outros planos que impossibilitam isso, mas a ideia está sempre ali. Mas não, não há um plano imediato para gravar um disco ou nada do tipo.
TMDQA!: Neste ano (a entrevista foi feita em 2019), o Dead Kennedys cancelou shows no Brasil por conta de uma polêmica política. Não tenho certeza se você ficou sabendo disso, mas a história toda envolveu um pôster que criticava o governo e várias discussões. Isso, é claro, trouxe à tona discussões acaloradas sobre a presença da política na música. Você pensa que, em tempos como este, as bandas realmente precisam se posicionar ou é melhor não misturar as coisas?
Mike: Bem, não quero dizer o que os outros deveriam fazer. Bandas que estão envolvidas em algo político sempre vão fazer algum tipo de posicionamento. É da conta deles compartilhar, se assim quiserem. Não tenho a mínima noção do que acontece na política do Brasil, e também não tenho interesse na política nos Estados Unidos. Eu me preocupo com as pessoas e me preocupo com relacionamentos, em fazer conexões, em compartilhar uma boa vida para inspirar outras vidas. E às vezes a política pode ser tão divisória e apenas deixar as pessoas com raiva das outras.
Portanto, não tenho nenhum interesse pessoal em me envolver com nada político ou usar minha música para isso. Há várias outras coisas que prefiro passar através da poesia. Prefiro a união das pessoas do que sua divisão.
TMDQA!: Como já falamos nessa conversa, você tem várias funções tanto pessoais quanto profissionais. Como tem sido para você, como pai, conciliar a vida na estrada com a família?
Mike: Bem, eu tenho feito isso de uma forma ou de outra durante toda a minha vida adulta. Comecei a andar de skate profissionalmente aos 16 anos. Portanto, isso sempre fez parte da minha vida e sempre fez parte da minha vida familiar. Então é difícil, mas também é apenas parte de quem eu sou e parte de quem somos como uma família. É muito trabalho e há vários tipos de pressão nisso, mas esse é quem eu sou. Não estou exatamente correndo atrás de nada, então me sinto confortável.
TMDQA!: Nessa sua vinda ao Brasil, podemos esperar algo também relacionado ao skate?
Mike: Não, não tenho outros planos porque não dá tempo. Como você sabe, além de cantar no Black Flag eu também gerencio a banda. Então meu foco é em fazer essa turnê do melhor jeito possível. Nem sei qual vai ser minha agenda quando chegar aí. Então, caso alguém queira me conhecer, sugiro que vá ao show se divertir com a gente! (risos)
TMDQA!: É isso aí! Bem, o nome do nosso site é Tenho Mais Discos Que Amigos e preciso te perguntar… qual disco você considera como sendo seu melhor amigo?
Mike: Não sei se tenho mais discos que amigos, porque tive a oportunidade muito abençoada de ter viajado pelo mundo a maior parte da minha vida e conhecer pessoas de todo o mundo. E realmente considero todo skatista um amigo que ainda não conheci. Mas sim, eu também tenho muitos discos e não tenho um amigo favorito, nem um disco favorito.
Eu meio que abraço todos os momentos, todos os discos que ouço ou todas as pessoas, quero dizer, eu tento fazer disso o momento em que estou vivendo.