Entrevistas

Conversamos com Paulo Novaes sobre o EP "Protocolar (Vol.1)", feito em parceria com o compositor português Janeiro

Quebrando fronteiras geográficas e culturais, Paulo Novaes e Janeiro uniram forças e referências em novo EP conjunto, que ainda terá o volume dois.

Paulo Novaes
Foto: Reprodução / Instagram

A vivência em civilização parece nos impor limites ou, melhor dizendo, fronteiras. Essas fronteiras cercearam o ser humano não apenas geograficamente como também culturalmente. Estamos, por exemplo, muito distantes dos costumes dos japoneses. Os gregos têm um modo de viver muito diferente do modo de viver dos sul-africanos. Até países que teoricamente falam a mesma língua se estranham em vários aspectos, como os Estados Unidos e a Inglaterra. E por aí vai…

Mas talvez o mundo não estivesse preparado para a intensa revolução digital que vivemos diariamente. As novas possibilidades de recursos nos levaram para um cenário onde, através de cliques, conseguimos ter mais acesso a uma cultura diferente. Na teoria, o mundo já deixou de ter barreiras.

Na prática, no entanto, é outra história. Ainda vivemos cerceados, mesmo entendendo que não custa muito para fazer trocas com estrangeiros. Com isso, perdemos oportunidades incríveis, desde colaboração em pesquisas científicas até parcerias musicais. Existem artistas que estão na busca pela queda desses muros imaginários, como é o caso de Paulo Novaes.

Produtor e compositor musical, Paulo lançou recentemente o EP Protocolar (Vol.1), em parceria com o cantor português Janeiro. Relatando a urgência pela qual o mundo se move nos dias atuais, as 4 faixas sintetizam bem a união Brasil-Portugal, que já é em muito facilitada por conta de um idioma em comum.

 

“Eu estava cansado da vida em São Paulo”

O EP foi integralmente cantado e produzido pelos dois artistas, e tudo se deu de forma muito rápida. Isso conversa com a proposta do lançamento de quebrar o protocolo da necessidade de músicos ficarem presos em um mesmo projeto por meses ou até por anos. A ideia é quebrar diversas fronteiras.

Conversamos com Paulo sobre o registro e sobre o fortalecimento das relações musicais entre Brasil e Portugal, que de fato temos visto com maior frequência recentemente.

Confira abaixo:

TMDQA!: Estão se mostrando cada vez mais comuns as parcerias entre artistas brasileiros e artistas portugueses. Acredito que a facilidade maior se dê por conta da proximidade do idioma. Como nasceu a parceria entre você e Janeiro?

Paulo Novaes: Janeiro foi um dos primeiros músicos portugueses com quem eu me envolvi desde que eu cheguei em Portugal. A gente teve uma conexão muito profunda, bonita e sincera. Desde que a gente se conheceu, a gente fala que “temos que fazer um EP’. Ficamos jogando isso para o universo durante muito tempo, desde o fim de 2018. Então, fizemos uma primeira parceria no segundo semestre de 2018. Depois, fizemos outra e resolvemos gravar esse EP. Era um desejo profundo, que parece que nos conhecemos há muito mais tempo.

TMDQA!: O que mais te incentivou a explorar o mercado fonográfico português? Na sua opinião, o que devemos fazer para fortalecer ainda mais essa parceria e quebrar ainda mais essa barreira de localidade?

Paulo: Na verdade, não foi uma decisão muito pensada a minha ida à Portugal. Eu estava cansado da vida em São Paulo. Fiz jornalismo na PUC e trabalhei com comunicação por quase 5 anos, mas eu não aguentava mais essa rotina de deixar a música em segundo plano. Fui pra lá incentivado principalmente pelo Leo Middea, que já estava morando lá, e pelo meu primo Lucas Caram. Lá, me deparei com uma cena rica e efervescente em Lisboa, culturalmente falando.

Paulo Novaes e Janeiro
Paulo Novaes e Janeiro. Foto: Divulgação

Fazer música aqui e lá tem diferença, mas a maior é o público. Enquanto o público brasileiro é mais caloroso, o português é mais atento. Eles tem respeito e admiração profunda pela música brasileira e isso dá para sentir lá. Foi muito bom para mim, pois abrir novas portas em outro continente também foi bom para meu público no Brasil.

TMDQA!: Que outros nomes você recomendaria para ajudar os brasileiros a entender melhor o que está rolando na cena musical portuguesa?

Paulo: Além do Janeiro, que pra mim talvez seja o principal nome dessa nova cena portuguesa, tem também Tiago Nacarato, Salvador e Luisa Sobral… É muita gente! Também destaco a banda Capitão Fausto.

 

“Uma conversa entre um brasileiro e um português sobre essa onda do conservadorismo”

TMDQA!: A onda de conservadorismo que assola o mundo atualmente foi uma inspiração para a produção do EP. Como foi traçar paralelos entre Brasil e Portugal nesse aspecto?

Paulo: Esse avanço do conservadorismo é algo mundial, apesar de que em Portugal é um governo de esquerda, com portas super abertas. É um país que tem muitos avanços em vários sentidos. Mas a gente percebe que essa onda está viva em todos os lugares. É só ver pela política do mundo. Porém eu tenho uma visão mais otimista em relação ao futuro. Acredito que essa onda tem hora pra acabar, pois não se sustenta. E hoje em dia a resistência está bem fortalecida. O Janeiro ainda acha que vai demorar mais para passar. Eu acredito que, como diz o Criolo, “as pessoas não são más, elas só estão perdidas”.

TMDQA!: Uma das faixas do EP (“Protocolar, a Conversa”) se destoa do resto do álbum por ter pouco mais de 9 minutos de duração. Qual foi o objetivo daquela conversa e como que ela contribui para a narrativa do EP?

Paulo: Essa faixa foi uma conversa que o Janeiro teve a sagacidade de gravar enquanto conversávamos sobre o EP, que estava se desenhando naquele momento. No fim, é um resumo de tudo que estamos querendo dizer de um modo geral. É uma conversa entre um brasileiro e um português sobre essa onda do conservadorismo. Nossa ideia é a quebra do protocolo, então essa ideia de ter 9 minutos, também entra nisso. No final da conversa inclusive, começamos a compor “Viver e trabalhar”.

 

Produção musical e futuro

TMDQA!: Você produziu Vicentina, do Leo Middea, que é um ótimo álbum. Qual a principal diferença, ao seu ver, entre produzir um disco e assinar a autoria de um disco? Onde você se sente mais confortável?

Paulo: Vicentina foi um grande presente na minha vida. Foi a primeira grande produção que fiz de algo que não era meu. A principal diferença é entender o que o outro artista quer dizer e qual a estética que ele busca para aquela obra. Nesse trabalho, ele mandou todas as músicas que poderiam entrar no disco, falou qual a ideia, a gente escolheu junto o reportório, rearranjamos violão e voz… Foi um trabalho minucioso, que é justamente o trabalho do produtor. Você precisa entrar na onda do artista, ver o que ele quer dizer, e abrir mão da sua estética anterior.

TMDQA!: O que está por vir após o lançamento deste EP? Que spoilers você pode nos dar?

Paulo: Muitas coisas! Será meu ano mais produtivo no sentido de lançamentos. Em Março já lanço o primeiro single do meu novo trabalho e, em Abril, o segundo. Meu álbum terá muitas facetas, muitos clipes e outras novidades. Terá também três canções do Projeto Primo, com o Lucas e a Bruna Caram. Vou lançar um outro projeto chamado Músicas Perdidas, um projeto de arquivos com musicas minhas esquecidas no baú e muitas outras coisas! Tremo muitos shows pelo Brasil e pela Europa. Também vai ter Protocolar Volume 2! Vamos conversar bastante ainda!