Dinho Ouro Preto é um dos maiores nomes do Rock brasileiro e construiu sua carreira sempre tendo um olhar crítico sob a política.
Em nova entrevista à Folha de S. Paulo, o vocalista do Capital Inicial foi bem explícito no assunto. Comentando sobre a crise de coronavírus, que o afetou diretamente pois se apresentou para 5 mil pessoas em um cruzeiro recentemente (“É o meu trabalho, tive que ir”) antes de cancelar sua agenda de shows até Maio, ele se mostrou preocupado com a atuação do Governo Federal.
Segundo ele, a tarefa de conter a COVID-19 cair nas mãos de “um sujeito que nega a ciência, que vive em conflito com tudo e com todos” é bem alarmante:
Vejo ele [Bolsonaro] cercado por terraplanistas. O meu pai [Afonso de Celso Ouro-Preto, que foi embaixador] era um dos maiores intelectuais que conheço. Era da turma do [Rubens] Ricupero. Homens que passaram a vida inteira lendo. E agora vemos a apologia da ignorância. Não sei como verbalizar o suficiente o quanto eu me oponho a isso.
A insatisfação de Dinho é tão grande que ele conta que já pensou em se “jogar na fogueira”:
Às vezes sinto uma coceira para me jogar na fogueira. Mas a coceira vem e vai [risos]. Onde eu poderia me jogar? No Congresso? Eu ia acabar tendo menos voz ali do que eu tenho aqui fora.
Dinho Ouro Preto e futuro na música
Falando sobre os próximos planos do Capital Inicial, Dinho comentou que “está todo mundo exaurido”. Para ele, a ideia agora é fazer “projetos pontuais” e “tocar muito menos” com a banda, enquanto também investe em sua carreira solo.
O cantor ainda elogiou as bandas da nova geração no Brasil, nomeando Scalene, Supercombo, Zimbra e Ego Kill Talent como alguns dos bons expoentes. Ele também pediu para as pessoas pararem com os discursos de saudosismo e de que o Rock perdeu espaço:
Quando ouço as pessoas se queixarem de que há menos espaço, me vem à cabeça as nossas origens. Naquele momento, quando tudo começou, não havia espaço algum. Nenhuma rádio tocava rock, os shows gringos não vinham para o Brasil, a infraestrutura era primária. No entanto, desse ‘pouco’ nasceu essa cena tão fértil, sabe?
Por fim, Dinho valorizou a democratização do acesso à cultura e “permitiu” que todo mundo ouça o que bem quiser. Perguntado sobre a predominância de gêneros como o sertanejo e o funk, o cantor pede para que não haja “ressentimento” dos fãs de Rock:
As pessoas estão preferindo isso. Ótimo. Acho que não devia gerar ressentimento em quem não faz parte desse tipo de música. Pode-se argumentar que é um empoderamento do gosto popular. Por ser streaming, que não custa dinheiro. Na época da MPB, do rock, os discos custavam caro e talvez fosse meio estabelecido pela classe média branca. É possível ver por esse lado também: que pela primeira vez, em que é irrelevante o custo do consumo, está prevalecendo o gosto popular. Nesse sentido, ainda é uma coisa mais democrática e justa. E que ouça-se. Não tem problema nenhum.
Você pode ler a entrevista completa no site da Folha de S. Paulo.