Resenha: Morrissey se reencontra musicalmente em "I Am Not a Dog on a Chain"

Em meio a polêmicas políticas, Morrissey foca na música e "I Am Not a Dog on a Chain" entra na lista de seus melhores trabalhos solo. Leia resenha completa!

Morrissey – Capa – I Am Not A Dog On a Chain.jpg
Morrissey – Capa – I Am Not A Dog On a Chain.jpg

Em meio a tantas polêmicas políticas, Morrissey resolveu finalmente fazer o que faz de melhor: música. O vocalista que ganhou fama com o The Smiths segue carreira solo desde 1988, e depois de alguns anos com trabalhos pouco chamativos parece ter se reencontrado em I Am Not a Dog on a Chain — pelo menos musicalmente.

Lançado no último dia 20 de Março e sucedendo o álbum de covers California Son (2019), o novo disco traz algumas das melhores músicas de Moz nos últimos anos. Em questão de melodias, o britânico foge do marasmo que o abraçava há anos e traz mais características modernas sem perder os traços característicos de sua voz.

Isso fica bem evidente na faixa de abertura “Jim Jim Falls” e na excelente “Once I Saw the River Clean”, um dos melhores momentos do disco ao misturar com precisão a sonoridade que mais remete ao Smiths com elementos eletrônicos dignos do auge da new wave, além de timbres bem escolhidos de guitarra e baixo que permeiam o disco como um todo.

Vale destacar também a burlesca “The Truth About Ruth”, que pelo menos por algum tempo reativa todo o charme que marcou a carreira de Morrissey. Ainda que isso acabe fazendo o disco não soar tão conciso, a variedade de influências é notável: a faixa citada logo acima, por exemplo, é sucedida por “The Secret of Music” com sua vibe bem rock alternativo dos anos 90 e uma belíssima linha de baixo.

Letras

Sem medo de defender suas visões pessoais nas letras, Morrissey acaba soando como alguém que faz questão de se reafirmar a todo momento.

O próprio título do álbum — “Eu Não Sou Um Cachorro em Uma Corrente”, em tradução livre — já mostra a necessidade do artista de se mostrar “livre” do controle de seus supostos inimigos, como a imprensa e a sociedade. Versos como “Eu uso meu próprio cérebro / Posso desligar a conversa / Eu sou inteligente demais para ser roubado”, infelizmente, soam como alguém que luta desesperadamente para se manter relevante pelos motivos errados.

Aliás, esse é apenas um exemplo. No geral, Moz parece aquela clássica pessoa que se acha “sincera” e se vê quase como herói por “falar a verdade”, sendo que em boa parte do tempo está apenas emitindo opiniões controversas (e muitas vezes preconceituosas) pelo simples motivo de se estabelecer como “anti-sistema”.

Dito isso, enquanto Johnny Marr vem deixando bem claro que a possibilidade de uma reunião do Smiths é quase nulaI Am Not a Dog on a Chain é uma ótima forma de manter o apreço pelo músico Morrissey enquanto a pessoa Morrissey parece cada vez mais distante daquele ídolo que um dia foi admirado por tantos de nós.

Morrissey – I Am Not a Dog on a Chain