30 anos de carreira fizeram do Pearl Jam uma banda mais forte, coesa e segura do que quer.
Como um dos principais nomes do Rock And Roll no planeta, o grupo liderado por Eddie Vedder carrega a pesada responsabilidade de ainda estar aqui em uma realidade que assola Seattle e seus ídolos com mortes, suicídios e tragédias.
Transmitindo a imagem de que seus integrantes entendem, respeitam e vivem cada momento pessoal, a banda coloca toda a energia possível quando se reúne para turnês em shows que chegam a durar quase três horas e têm seus integrantes todos com mais de 50 anos de idade; alguns com quase 60.
Desde o último disco de inéditas do Pearl Jam passaram-se sete anos, o mundo perdeu Chris Cornell, tornou-se polarizado e passou a enfrentar algumas das crises políticas e sociais mais profundas de sua história, e era chegada a hora de falar sobre isso.
Pearl Jam – Gigaton
Nasceu então Gigaton, o décimo primeiro disco de estúdio do Pearl Jam que, mesmo com todo planejamento do mundo e um período imenso de espera, acabou surgindo no meio do caos.
Ninguém previu que no dia 27 de Março de 2020 o mundo estaria no meio da pandemia do Coronavírus, com números assustadores vindo da Europa e explodindo nos Estados Unidos, e, muito menos, imaginou que justamente Seattle seria uma das cidades mais afetadas pela COVID-19.
O Pearl Jam teve que suspender shows, se isolar como o resto do mundo e cancelar ações incríveis que faria com o disco na íntegra no cinema, mas uma coisa não se perdeu: a essência de Gigaton é que precisamos entender o mundo em que vivemos, respeitá-lo e passarmos a ter uma visão diferente em relação a tudo que nos cerca.
Musicalmente, o álbum é uma viagem intensa por estilos, gêneros e instrumentais que influenciaram os músicos da banda e há muito tempo eles não acertavam tanto na hora de imprimir os traços de cada um às canções.
A abertura com “Who Ever Said” é como um cartão de visitas pra dizer que a sonoridade familiar do Pearl Jam está te convidando para uma viagem única e a sequência de “Superblood Wolfmoon”, “Dance Of The Clairvoyants” e “Quick Escape” é logo de cara um dos pontos altos do álbum.
A primeira como uma ode ao Punk dos Anos 80, a segunda e melhor do disco como uma celebração do rock alternativo e nomes como Talking Heads e a terceira com uma bateria que bate como um martelo trazendo referências a Queen, Freddie Mercury, Kerouac e um passeio “por lugares que Trump ainda não tenha fodido”.
“Alright” surge como a primeira balada do álbum e tem trechos que parecem cair como uma luva em tempos de isolamento, falando sobre como “está tudo bem” em ficar sozinho e se encontrar através da batida do próprio coração.
A metade do álbum chega com “Seven O’Clock” e, de forma emblemática, ao único ponto em que a banda parece ter escorregado em Gigaton: uma música com mais de 6 minutos que segue com o ritmo morno da balada anterior poderia ter ficado como uma sobra de estúdio ou o lado B de algum single, tornando o disco mais compacto, direto e rápido.
Ao todo, ele tem 57 minutos de duração e se ao invés das 12 canções contasse com 8 ou 10, transformaria-se no formato que mais tem chamado a atenção nos últimos anos, os álbuns curtos entre 30 e 35 minutos.
A sequência final, por exemplo, conta com “Comes Then Goes”, “Retrograde” e “River Cross”, e todas têm execuções belíssimas de instrumentais da banda e vocais marcantes de Vedder, mas a trinca final poderia ter sido substituída por apenas uma das faixas com as outras se tornando lançamentos posteriores/paralelos.
Se tivéssemos por exemplo a bela “Buckle Up”, que chega a nos lembrar de bandas emo/math como American Football, encerrando as atividades antes de “Retrograde”, o disco teria uma sequência incrível e um final emblemático.
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Gigaton é o melhor disco do Pearl Jam nas últimas duas décadas e uma adição interessantíssima na briga com os primeiros 5 álbuns do grupo cujo período se encerra com o excelente Yield, de 1998.
Além disso, se conecta com o mundo em que vivemos hoje, passa mensagens de luta, esperança e autoconhecimento e mostra músicos amadurecidos que não tiveram medo de experimentar.
A frase “Quando o passado é o presente e o futuro não existe mais”, de “Dance of the Clairvoyants”, diz muito sobre tudo que envolve o álbum, que ficará marcado como um dos pontos mais altos de uma das bandas mais importantes de todos os tempos em um dos tempos mais bizarros da nossa história.
É história, sendo feita bem na nossa frente.