Cultura

Meme do caixão: criador do serviço em funerais fala sobre repercussão e gratidão

Empresário ganês que criou o serviço com carregadores de caixões e coreografias em funerais explica a origem deste tipo de cerimônia.

Carregadores de caixão em Gana
Foto: Reprodução / BBC

Você provavelmente já viu nas redes sociais ou recebeu em algum grupo de WhatsApp um vídeo em que carregadores de caixão em traje de pompa fazem uma coreografia durante um funeral, certo?

Nós já te contamos por aqui que esse hábito surgiu em Gana, na África, e que as imagens viralizaram na internet recentemente. É o meme do caixão!

O empresário Benjamin Aidoo, de 31 anos, dono da funerária que aparece prestando esse serviço nas imagens, deu uma entrevista ao jornal Folha de S. Paulo e contou que está achando ótimo ter virado um meme. “As pessoas estão usando minhas imagens para se divertir enquanto estão entediadas em casa,” afirmou, por telefone. Ele revelou também que tem recebido muitas ligações, e-mails e pedidos de entrevistas para explicar exatamente qual a origem daquele vídeo.

E a história é que, em 2007, Aidoo abriu sua própria empresa depois de trabalhar por três anos no ramo funerário, pois enxergou uma oportunidade num país em que velórios e enterros podem durar vários dias. Além disso, ele ainda pensou numa forma de ressignificar o momento triste de uma despedida.

O ganês diz que é dele a ideia de oferecer dança, coreografias e figurinos como um serviço, mas uma reportagem do jornal americano The Washington Post, de 1997, já citava um ritual como esse. Antes dessa animação toda num velório, a tradição em Gana era uma cerimônia apenas com os pallbearers, que são os carregadores de caixão.

Hoje Aidoo tem cerca de cem funcionários divididos em equipes de sete pessoas: seis para carregarem o caixão e uma para liderar o grupo, como se fosse o maestro. Se o defunto for uma mulher, normalmente a empresa manda uma líder feminina para o evento. Há muito treino dos funcionários para que não ocorram falhas e gafes durante a cerimônia. “Se o caixão cair é uma desgraça para nós e para nossa marca,” avalia Aidoo.

Segundo ele, as coreografias são inspiradas em danças tradicionais e a trilha é de canções com tambores, tudo para fazer com que as pessoas sorriam ao invés de chorar. A música eletrônica dos vídeos recentes não é original e só foi acrescentada em edição para alavancar o meme, como te explicamos nessa matéria.

O meme do caixão

A ideia de Aidoo de transformar um momento tão triste de partida em algo mais alegre tem relação com gratidão.

Imagine que você é meu pai e por causa de você me transformei num advogado ou numa pessoa importante na sociedade. Se você se vai, eu tenho que festejar o que você fez por mim.

Ele conta também que o serviço dá mais segurança às famílias, já que antes os familiares dos falecidos bebiam muito durante os dias de funeral e, na hora de carregarem o caixão até o cemitério, faziam coisas inapropriadas.

Outras funerárias também oferecem esse pacote em Gana atualmente e é preciso desembolsar mais de mil reais para ter a cerimônia mais luxuosa, que é caracterizada principalmente pelo figurino dos pallbearers.

A Folha conseguiu o valor de cada pacote do serviço na empresa de Aidoo. O mais em conta é o com traje escocês, que sai por cerca de 800 cedi, a moeda local. No Brasil isso custaria em média 715 reais. O traje de marinheiro faz subir o custo do ritual para 805 reais e, por fim, um velório com carregadores de caixões todos de uniforme branco custaria 1.070 reais. Porém, avisa Aidoo, o valor é negociável, para famílias mais pobres também conseguirem contratar.

Ele contou também que pretende chamar os pallbearers com suas danças e trajes característicos para o velório de sua mãe e, inclusive, já a avisou sobre a decisão. “Ela ficou muito feliz. Estaremos dançando,” revelou. E ainda deixou um pedido para seu próprio funeral: uma semana de festa antes de lhe enterrarem.