Plot twist é um dos termos gringos não traduzidos mais comuns nos textos e análises de cinema por aqui, mas será que todo mundo sabe o que ele significa? Essa é uma ferramenta utilizada por muitos e muitos diretores e roteiristas por aí, mas a chance de dar errado é grande.
Começando pela definição do que é o plot twist, ela pode ser uma tradução literal mesmo: virada no roteiro. Toda a história dá a entender que está caminhando para um desfecho e… surpresa! Não era bem aquilo e a trama toma um novo rumo.
Mas isso é bom, não é? É gostoso assistir a um filme ou série que te surpreenda e não seja previsível. Mas é aí que mora o perigo. Na ânsia de construir um plot twist incrível, são muitas as produções que escorregam e acabam subestimando a capacidade do espectador de descobrir o que está a caminho (fazer com que toda a história fosse um sonho de algum personagem, por exemplo).
Como saber, então, quando um plot twist é bom? Primeiro, o filme não pode assumir que o público não vai entender a história. Na verdade, é essencial que o espectador compre a ideia e embarque na onda do que está sendo mostrado ali. Se nós já estivermos esperando que algo aconteça para mudar o rumo da narrativa, o impacto vai ser mínimo.
E mesmo que seja possível antever o twist, se for bem escrito, ele dá a sensação de recompensa à audiência. Descobrir o final seria um prêmio nesses casos. Quando é simples demais, porém, o sentimento é de perda de tempo.
Game of Thrones é um exemplo perfeito dos dois casos, diga-se de passagem.
A partir daqui, daremos spoilers de alguns filmes. Nenhum deles é recente, mas esteja avisado.
Um dos mestres das viradas de roteiro é (ou era?) M. Night Shyamalan, que explodiu mentes com o incrível O Sexto Sentido (1999). Descobrir que Bruce Willis era um dos espíritos que apenas o jovem Haley Joel Osment via praticamente nos obrigou a assistir ao filme de novo, para saber se era possível aquilo ser verdade mesmo.
Mas o próprio Shyamalan caiu na armadilha dos twists e se viu na missão de apostar sempre nesse recurso para tentar dar uma ar inovador às suas obras. E quem tenta muitas vezes, claro, tem mais chance de errar. A Dama na Água (2006) e Fim dos Tempos (2008) estão aí para provar isso.
Os plot twists passaram a ser mais populares por volta dos anos 70, com a influência de alguns filmes noir feitos até ali e, claro, com um empurrão de Alfred Hitchcock – sempre ele. Várias formas de subverter os roteiros passaram a ser experimentadas, como reter informações do público, dar dicas falsas do que pode acontecer ou sugerir outras de forma ambígua.
Por isso, não importa apenas a forma como o plot twist é revelado, mas, também, como ele é construído. Clube da Luta (1999) faz isso muito bem, ao criar um conflito ascendente entre o narrador anônimo (Edward Norton) e Tyler Durden (Brad Pitt). Eles serem tão opostos entre si e o fato de o protagonista não ter nome eram dicas de como seria o desfecho, mas não é nada previsível descobrir que eles são a mesma pessoa.
Outro plot twist que ficou guardado na memória é o de Os Infiltrados (2008), de Martin Scorsese. A estratégia aqui foi um pouco diferente: criar um elo entre os personagens e o público. Há uma tendência natural da audiência “torcer” para o mocinho, ainda mais quando o policial infiltrado na máfia é Leonardo DiCaprio.
Mas o desapego do roteiro com seus protagonistas ficou bastante disfarçado na tensão criada desde o início. Quando Billy (o personagem de Leo) morre com um tiro na testa, no terceiro ato, passam a vir surpresas atrás de surpresas e o ritmo fica frenético. Se eles foram capazes disso, o que mais vem por aí???
Já que estamos na fase de jogar spoilers na cara sem pudores, aí vão alguns dos melhores da história:
Planeta dos Macacos (1968): o astronauta George Taylor (Charlton Heston) desembarcou em um planeta dominado por macacos mas, no fim das contas, descobriria que foi parar na Terra, seu planeta de origem, no futuro. Super inovador e até hoje relevante.
Star Wars: Episódio V – O Império Contra-Ataca (1980): depois de muito enfrentar Darth Vader, ver um bocado de gente querida morrer e quase ser convencido a ir para o Lado Negro, Luke Skywalker descobriu que o vilão, na verdade, era seu pai. Hoje não parece tão impactante porque todo mundo já sabe disso, mas imagina a surpresa lá atrás, em 1980, quando havia apenas dois Star Wars lançados?
Os Outros (2001): o mistério por trás da mansão onde a protagonista Grace (Nicole Kidman) vive com seus filhos é muito bom. Eles não podem sair da casa, que é assombrada por espíritos, porque têm que esperar o pai voltar da II Guerra. Mas a ficha eventualmente cai e, depois de muito sofrer com as aparições, eles descobrem que são, na verdade, espíritos também!
Oldboy (2003): além de ser uma obra-prima de ação, com direito a um plano sequência de 4 minutos de pancadaria comendo solta, o filme do coreano Pak Chan-wook é um soco no estômago. O protagonista vivia uma implacável jornada de vingança contra o homem que o prendeu por 15 anos, enquanto tentava encontrar a filha. Eis que a mulher que estava ajudando ele desde o início, com uma crescente tensão sexual que chegaria a se consumar… era a própria filha! E tudo era um plano de vingança contra ele, na verdade. Que loucura…
Recentemente, um diretor que tem usado muito bem os plot twists é Jordan Peele. Corra! e Nós apresentaram viradas interessantes e criaram grande expectativa sobre os próximos trabalhos dele. Tomara que continue bem e erre menos que Shyamalan, não é mesmo?