Por Gustavo Sleman
“There’s an evil virus that’s threatening mankind”.
Em livre tradução, a frase que abre a música “Virus”, do Iron Maiden, quer dizer algo como “há um vírus maligno ameaçando a humanidade”. Parece bem atual, não? Mas na verdade a canção foi lançada em 1996, como single da coletânea Best of the Beast.
A compilação chegou às lojas em uma época de mudanças para a banda. Os fãs ainda se adaptavam ao novo vocalista, Blaze Bayley, que substituiu Bruce Dickinson. Recheado de hits, faixas ao vivo e demos de uma época anterior ao sucesso internacional do grupo, o álbum que celebrava os 21 anos de carreira da Donzela, rapidamente se tornou item de colecionador, já que continua fora de circulação em 2020.
A gente sabe que a “Era Bayley” durou pouco e que até hoje é alvo de diferentes opiniões. Há quem ame e há quem odeie, mas é bem verdade que “Virus” é considerado por muitos como um dos melhores trabalhos daquela época. E a música é cheia de curiosidades. Foi o primeiro single desde “Women in Uniform” (1980) a não aparecer em nenhum disco da discografia de estúdio do Maiden. Além disso, foi creditada a todos os integrantes da banda.
Apesar de nunca ter sido apresentada ao vivo pelo conjunto, “Virus” se tornou uma das queridinhas de Blaze em sua carreira solo. Mas apesar do título, a música não possui nenhuma relação com doenças ou a atual pandemia da covid-19, mas sim a um diferente tipo de vírus: aquele espalhado pela imprensa, haters e crítica especializada. É o que garante o próprio cantor.
Em entrevista exclusiva ao TMDQA!, Blaze, que está lançando um novo álbum (Live in Czech, de 2020), falou um pouco mais sobre os bastidores da criação da música e sobre seu trabalho mais recente. O carinho pelo Brasil, claro, não ficou de fora.
Disseram até mesmo que o Maiden devia parar
TMDQA!: Como e quando surgiu a ideia de escrever “Virus”? Havia algo específico na cabeça da banda durante a composição?
Blaze: A imprensa e as revistas britânicas na época diziam que o Iron Maiden não era mais relevante, que já não era tão bom assim. Disseram até mesmo que o Maiden devia parar. Eles eram falsos e traíras tentando convencer os fãs a parar de ouvir o Maiden. Eles eram como um vírus do Metal. Os fãs nunca desistiram do Maiden. O vírus da letra é sobre essa situação. Os fãs são mais importantes do que os jornalistas.
TMDQA!: A música fala muito sobre traição, ciúme e ódio que levam à perdição. Você acredita que durante esta pandemia, além de exemplos de unidade, ainda vemos pessoas traiçoeiras tentando tirar proveito da situação?
Blaze: Há pessoas egoístas e más neste mundo. Sempre haverá. A melhor coisa que podemos fazer é evitá-los e tentar cuidar uns dos outros.
Os jornalistas contam mentiras!
TMDQA!: Você acredita que a “elite de duas caras”, como citado na música, é mais visível em momentos de crise como este?
Blaze: Os jornalistas contam mentiras e fazem as coisas parecerem diferentes da forma como realmente são. Essas pessoas deveriam estar na prisão. Elas nos dividem. Eles abusam da nossa confiança. Eles mentem para nós. Coisas boas acontecem no mundo, mas eles não querem que saibamos sobre essas coisas. As forças das trevas usam as notícias falsas para manipular as nossas mentes e nos dividir.
TMDQA!: O vírus que a música fala é diferente do vírus que enfrentamos atualmente, no entanto, você acredita que há algum paralelo entre os dois?
Blaze: O vírus da covid-19 que enfrentamos agora é quase invisível. O vírus mental é o mesmo. Até que você possa olhar muito de perto, bem atentamente, para alguma situação, você não vai perceber os cínicos e traidores. Mas podemos ser infectados com ideias e atitudes negativas e devemos tentar curar a nós mesmos e uns aos outros. Se não fizermos isso, a paixão e o amor pela música verdadeira e pelos artistas genuínos vão morrer. O nosso mundo vai acabar se tornando uma masmorra escura e sem graça.
TMDQA!: Blaze, você está lançando um novo álbum, certo? Você pode falar um pouco sobre ele e seu relacionamento com os fãs brasileiros?
Blaze: Meu último álbum, Live in Czech. Há também um DVD do show. Eu queria gravar em um local onde eu poderia estar muito perto dos meus fãs. Além disso, a acústica e o equipamento de som são muito bons nesse local. Estou muito satisfeito com o resultado. Meus fãs são minha energia, e minha vida. É a paixão e crença de meus fãs que me fazem continuar a vida como artista. Adoro me apresentar no Brasil. Desejo a todos os que estão lá o melhor nestes tempos difíceis. As lembranças da minha turnê pelo Brasil em janeiro me ajudar a enfrentar esta escuridão.