Algum tempo atrás (em Novembro, mais especificamente) conversamos com o jovem e excelente YUNGBLUD sobre suas influências, pretensões na música e expectativas com sua estreia no Brasil, que aconteceria no Lollapalooza Brasil e se aproximava cada vez mais.
Agora, alguns meses depois e no meio de uma pandemia, tudo virou de cabeça pra baixo — menos a disposição, vontade e bom humor de Dominic Harrison, que nos recebeu para mais um papo (dessa vez em vídeo) e contou mais sobre seu período de quarentena, além de ter narrado boa parte das mudanças que sua vida teve depois do lançamento do EP the underrated youth.
Bastante ativo na quarentena, Dominic já fez show virtual e até criou seu próprio programa dentro do isolamento, o YUNGBLUD Show. Por lá, além de algumas entrevistas e anúncios (como o de um novo single, por exemplo) o músico fez uma bela versão de “What I Got”, do Sublime, ao lado de seu amigo e colaborador Travis Barker (blink-182) e Machine Gun Kelly.
Representante de uma nova geração do emo/pop punk, Harrison tem muito a mostrar ao mundo e promete impressionar quem estiver disposto a conhecê-lo de verdade. Confira a entrevista logo a seguir para entrar um pouco mais em seu mundo estranho e cativante!
Entrevista com YUNGBLUD
TMDQA!: Oi, Dominic! A gente conversou há um tempo, alguns meses atrás, e o nosso principal assunto foi a sua apresentação no Lollapalooza Brasil que vinha se aproximando. Como as coisas mudaram de lá pra cá, né?
YUNGBLUD: Está tudo uma loucura!
TMDQA!: Você tem estado muito ativo nesse período de isolamento e tenho certeza que os fãs tem apreciado muito isso. Quão importante você acha que é para eles sentir que você está ao lado deles no meio de toda essa loucura?
YUNGBLUD: Eu posso dizer que esse é, na real, o único motivo por eu estar fazendo tudo isso. Porque eu queria que alguém estivesse do meu lado da mesma forma que eu estou do lado deles, entende? E com toda essa questão… cara, toda essa comunidade que a gente chama de YUNGBLUD é sobre pertencer a algum lugar. Todo o motivo de termos começado o YUNGBLUD Show e de estarmos tão ativos nas redes sociais é porque a minha vida, a minha oportunidade de me conectar com eles pessoalmente — de segurá-los, sentir seus cheiros, de tocá-los — foi tirada de mim, sabe? E isso não vai acontecer. Eu não vou deixar isso acontecer, independente do que aconteça com o mundo, ninguém vai tirar essa conexão que nós temos. Porque eu vou morrer! [risos] Eu não sei eles, mas eu vou ser egoísta nisso sim, se eu perder isso eu vou morrer! Então eu falei “foda-se, vamos fazer o YUNGBLUD Show, vamos fazer tudo” e está me ajudando muito, como está ajudando os fãs também. Nós sempre fomos uma comunidade e ajudamos uns aos outros. É sobre isso: nós vamos nos manter entrelaçados e nada pode destruir os nossos laços!
Parcerias com Dave Grohl, Chris Martin e Travis Barker
TMDQA!: E esse pensamento parece ecoar nos seus fãs, né? Eu estava assistindo à transmissão da versão de “Times Like These” que você participou e, sério, a grande maioria dos comentários era direcionado a você. Imagino que tenha sido algo estarrecedor pra você receber todo esse carinho, mesmo durante a quarentena e em um vídeo com tanta gente!
YUNGBLUD: Cara, eu estava num vídeo com o Dave Grohl e o Chris Martin! [risos] Eu estava tipo… “Quê?” Eu assistia aos vídeos desses caras no meu quarto, enquanto eu ficava sei lá, fazendo nada! Quando eu estava pronto pra só… chorar, sabe? E aí todos esses comentários falando de mim… “Quê?”.
TMDQA!: E além do Dave e do Chris, você também tem feito algumas coisas com o Travis Barker, né. Mais recentemente, vocês fizeram aquela cover sensacional de Sublime pro YUNGBLUD Show…
YUNGBLUD: Como eu te disse, cara, é um absurdo! O Travis esteve em um pôster na minha parede, sabe? Travis me viu fazer coisas muito safadinhas quando eu estava crescendo! [risos] Eu sempre falo pra ele: “você me viu fazer coisas terríveis, Seu Travis Barker”. E ele sempre ri, mas é isso, ele estava na parede do meu quarto. E acho que isso tudo é meio… sei lá, você conhece essas pessoas e eles são sempre exatamente aquilo que você espera ou algo que você vai odiar completamente. E, tipo, o Travis é um desses caras que é exatamente o que você espera — ele é maluco por música, ele é maluco pela cultura.
TMDQA!: E tendo uma base de fãs tão jovem, quão importante você acha que é o seu papel de colocar essa galera pra ouvir esses músicos que foram suas inspirações, tipo o Sublime, o Travis, enfim?
YUNGBLUD: É a coisa mais importante! É o que eu tento trazer sempre. Eu era obcecado pelo The Cure, pelo Joy Division, pelo Oasis, pelos Arctic Monkeys, pelo Sublime, Lady Gaga, Blondie, toda essa galera. E na sociedade moderna, onde o hip hop é a música dominante, eu quero trazer essas merdas de volta de algum jeito! E é tão engraçado porque todas as pessoas cínicas, esses punheteiros velhos fãs do The Cure e do Oasis ficam tipo… “Como você pode dizer isso?” Porque são novos tempos! Eu só quero trazer aquelas pessoas para uma nova geração, entende? Essa geração já teve seu The Cure, seu Oasis. Nós não temos isso! E eu amo descobrir essas coisas, eu amo quando as pessoas descobrem isso e eu amei quando eu descobri isso, foi um momento que mudou minha vida.
“Weird!” e novo álbum
TMDQA!: Bom, na última vez que nos falamos você havia acabado de lançar o EP the underrated youth. E agora você acabou de lançar o single “Weird!”, que já se mostra bem diferente do trabalho do EP. Sei que essa canção foi escrita recentemente, então você pode contar um pouco mais sobre as inspirações dela e como chegou ao resultado final?
YUNGBLUD: Com certeza! Essa música foi um catalisador da próxima fase do YUNGBLUD. Eu lancei meu primeiro álbum [21st Century Liability, de 2018] quando eu tinha 19 anos, e eu era tão puto com o mundo. Eu era tão puto com tudo que as pessoas me entendiam errado — e elas ainda me interpretam mal. Daí eu encontrei uma comunidade de pessoas que me entendem e me aceitam. Então como eu posso continuar puto? Eu escrevi esse álbum [previsto inicialmente para Agosto de 2020] sobre a vida, sobre o que eu senti — as situações estranhas, aquela coisa do “por que isso é tão estranho?”. A palavra estranho [“weird”, em inglês] ficou na minha cabeça, tudo era estranho, isso ficou se repetindo. Eu quase perdi minha mãe em um acidente de carro, eu me apaixonei, eu tive meu coração partido, nós ficamos famosos muito rapidamente, eu quebrei alguns ossos, eu transei (muito!), eu tentei coisas novas em relação à minha sexualidade, eu fui a tantos lugares diferentes e tudo isso ficou marinando no meu estômago e no meu coração. E aí eu escrevi essa música, e esse álbum, e é sobre um tempo estranho na minha vida — sobre experiências estranhas, perceber que “Porra, quer saber? Vai ficar tudo bem no final”.
E eu quero que as pessoas absorvam isso da música. Eu quero que as pessoas entendam que não importa quão estranhas, bizarras, fodidas ou malucas as coisas fiquem, eu quero que eles sintam que vai ficar tudo bem porque nós temos uns aos outros.
TMDQA!: Sensacional! Você disse que ainda se sente mal interpretado. O que você acha que as pessoas ainda não conseguem entender em você?
YUNGBLUD: Tem gente que ainda me enxerga só como “aquele garoto que usa maquiagem” e fica falando de política. “Ele é gay, ele é todo espalhafatoso, ele é maluco”, e eu fico tipo… Não! É tão difícil entender que eu sou quinze pessoas ao mesmo tempo? [risos] Todo mundo é! Todo ser humano é quinze pessoas ao mesmo tempo, o tempo todo. E é assim que a nova forma do mundo vai ser — tem que ser —, é a aceitação disso.
E muita gente não gosta dos meus fãs, porque a gente faz barulho. Nós somos barulhentos! A gente se permite ser barulhento e nós temos um orgulho do caralho disso. E só porque alguém que está no controle não gosta do fato de nós sermos barulhentos, eles vão tentar nos calar enquanto puderem. Bom, eles não podem nos calar por muito mais tempo porque nós estamos ficando grandes demais.
TMDQA!: Isso é demais.
YUNGBLUD: Você entende? Todas essas fórmulas que as pessoas tentam criar… você não consegue reduzir a humanidade a uma fórmula, cara. Não dá para formular seres humanos.
Vinda ao Brasil e show virtual
TMDQA!: Na última entrevista, você estava se preparando para vir ao Lollapalooza Brasil. Agora…
YUNGBLUD: Cara!!! Eu estou muito puto que não consegui ir ao Brasil! Eu quero estar no Brasil! Vocês são os filhos da mãe mais malucos do mundo! [risos] Eu… Cara, sério, me ouve. Assim que eu puder voar, eu vou pro Brasil. E eu provavelmente nunca vou sair daí!
TMDQA!: [risos] A gente mal pode esperar para te receber por aqui! E bom, logo que essa quarentena começou, você anunciou um show virtual que já serviu como uma espécie de compensação para quem estava ansioso para vê-lo, inclusive aqui no Brasil. Eu fiquei de cara com o horário que você tocou esse show: eram 7 da manhã em Los Angeles, onde você estava! Como foi tocar a essa hora e para uma casa sem ninguém na plateia?
YUNGBLUD: [risos] Foi simplesmente maluco. A questão, tipo, é que era tão cedo — porra, era cedo demais. A gente virou a noite e tomamos algumas cervejas então na verdade pra gente era tarde pra caramba. [risos] Mas, cara… eu conseguia sentir o barulho. Mesmo estando em completo silêncio. Eu tinha um projetor com todos os comentários e os fãs estavam simplesmente ficando malucos na seção de comentários. Eu conseguia sentir o barulho mesmo sem ouvir, eu sentia a energia que você sente em um show. Meu coração estava batendo forte, eu estava suado, respirando forte, eu senti a energia pra caralho.
TMDQA!: Que incrível, de verdade. Com todos esses projetos, o que a gente deve esperar daqui pra frente? Tem o novo álbum, vai ter mais YUNGBLUD Show, como vai ser?
YUNGBLUD: Com certeza vai ter mais YUNGBLUD Show e tem o novo álbum vindo aí. Por enquanto a gente está tentando fazer algum sentido de todas essas merdas que estão acontecendo e estamos só… rock and rolling! [risos]
TMDQA!: E, por fim, já que o nome do nosso site é Tenho Mais Discos Que Amigos, eu tenho feito essa mesma pergunta pra todos que entrevisto durante esse período de isolamento social: qual disco tem sido seu melhor amigo nessa quarentena?
YUNGBLUD: Nossa, eu com certeza tenho muito mais discos que amigos. [risos] E o disco que eu estou mais viciado nesse momento é o Disintegration, do The Cure. É definitivamente o meu melhor amigo nesse período e tem me feito seguir em frente.
TMDQA!: Que coincidência! Eu estou viciado em “Fascination Street”, estou ouvindo sem parar pelos últimos dias.
YUNGBLUD: Cara, eu estou completamente viciado nesse disco. As coisas tem estado tão malucas e… [pega o celular e mostra a capa do Disintegration] É assim que o mundo parece estar agora! Eu fico ouvindo e pensando nisso toda hora.
TMDQA!: Putz, é bem por aí mesmo. Dominic, muito obrigado pelo seu tempo e espero que a gente possa se ver em breve novamente — e com condições melhores da próxima vez!
YUNGBLUD: Fechou! Eu que agradeço! Vamos tomar umas cervejas no Brasil. [risos]