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Hayley Williams mostra Art Pop brilhante em um dos melhores discos do ano

Hayley Williams, vocalista do Paramore, se abriu ao mundo para dizer que ainda está aprendendo através de canções que unem passado e presente.

Hayley Williams - Petals For Armor

Há algum tempo os melhores trabalhos musicais tanto aqui quanto lá fora têm sido criados pelas mentes criativas de mulheres que estão saindo do óbvio ao disponibilizar grandes canções, EPs e discos.

Eu falei disso por aqui quando constatei de perto, ao vivo, e basta olhar para como o ano passado nos brindou com obras incríveis como os discos de Billie Eilish, Ariana Grande, Jamila Woods e Lana Del Rey, e esse ano temos trabalhos icônicos de nomes como Fiona Apple e Dua Lipa para saber que as novidades realmente revolucionárias têm vindo delas.

Pois nesse grupo de artistas está Hayley Williams, e hoje a carreira solo da vocalista do Paramore definitivamente deu um pontapé inicial com o pé direito.

Hayley Williams e o Paramore

Muita gente ainda associa a banda de Hayley, que completará 32 anos em Dezembro, ao movimento de pop/punk e emo que explodiu nos anos 2000.

É justo ligar o seu nome a trabalhos influentes que se conectaram com jovens do mundo todo, mas também é necessário, para fazer justiça, entender a sua evolução pessoal, profissional e musical para chegar até Petals For Armor, disco solo de estreia lançado hoje (08).

Em seus três primeiros discos, All We Know Is Falling (2005), Riot! (2007) e Brand New Eyes (2009), o Paramore mergulhou de cabeça nas influências do Pop Punk e ao mesmo tempo em que absorveu dessas fontes, criou um estilo bastante próprio.

Os vocais de Hayley aliados a riffs que iam além dos três acordes influenciaram uma geração inteira que viu ali, em clipes icônicos e performances memoráveis, um nome a seguir de perto.

Acontece que nos bastidores, a coisa toda vinha ruindo e isso teve as mais diversas influências no caminho da banda.

Mudanças de formação foram constantes, bem como as de sonoridade. Paramore (2013) já mostrou uma banda mais conectada a influências distintas como o post-rock, e após uma remodelagem completa veio After Laughter (2017) e a completa influência da new wave e sons mais eletrônicos.

O disco foi considerado um dos melhores da década, chegou a ser elogiado por Elton John e parecia colocar o Paramore de volta nos trilhos, em um lugar onde Hayley Williams poderia navegar tranquilamente aproveitando o sucesso.

Questões Pessoais e a Carreira Solo

Acontece que todo o entorno de After Laughter foi influenciado por assuntos duros e negativos. O próprio nome do disco, algo como “Após a Risada”, fala sobre aquele momento em que todos damos uma risada falsa ao cumprimentar/encontrar alguém e logo depois fechamos a cara.

Canções como “Fake Happy” também deixam bem claro que a temática do álbum refletia lugares sombrios e tudo isso culminou em uma pausa para a banda que quase, segundo a própria vocalista, acabou.

Em entrevistas, Hayley chegou a dizer que considerou “ter um emprego normal”, mas ao invés disso, resolveu misturar a fase “anos 80” do Paramore a questões pessoais e montou, então o Petals For Armor.

Petals For Armor

PFA é muito mais que um disco e nos apresentou um verdadeiro projeto de Williams.

Aqui, ela uniu as decepções amorosas, profissionais e pessoais em um caldeirão onde mostra que precisa desabafar e colocar tudo isso pra fora. E que, principalmente, ainda está em processo de cura.

O novo disco não irá mostrar uma pessoa plenamente resolvida, mas sim em (re)construção, através de canções onde fala sobre erros, desilusões e, ao que tudo indica, principalmente o fim do seu casamento com Chad Gilbert, guitarrista do New Found Glory.

A separação, inclusive, é estampada na capa já que Hayley optou por continuar os três quadrados pretos tatuados em sua mão para formar a metade de um coração. Antes, no lugar desses quadrados pintados, estavam as iniciais de Chad Everett Gilbert, ou C.E.G.

Tudo foi feito com muito cuidado e muitíssimo bom gosto: o entorno repleto de flores, os belíssimos vídeos e a forma como Williams foi disponibilizando as canções fizeram com que em pleno 2020, ano mais maluco da história recente, as atenções ainda conseguissem se direcionar ao seu trabalho.

É claro que isso tem muito a ver com o fato de que as canções aliam o moderno ao clássico e a voz de Hayley a instrumentações que alternam entre o pop e o minimalismo em momentos que parecem celebrar o encontro de Thom Yorke, Yeah Yeah Yeahs, Madonna e Yoko Ono.

Dividido em três partes, como se fosse lançado em três “EPs”, Petals For Armor agora constitui um álbum e, definitivamente, é um dos melhores do ano.

Ao disponibilizá-lo, a artista disse que aprendeu muito com o processo, afirmando:

Eu lutei com a minha raiva, venci a apatia, e senti o espectro completo da minha feminilidade. Meu coração teimoso amoleceu para expulsar os sentimentos podres e deixar que outros crescessem. Eu até me apaixonei (não profundamente), apesar do medo de que não há esperanças no amor.

Ainda assim, ela completa dizendo que continua sendo uma “fantástica bagunça”, e é preciso ressaltar: Hayley Williams pintou um quadro completo sobre a dificuldade de encontrar sanidade em um mundo onde relacionamentos são tão complexos.

Mais que isso, o completou e o lançou no meio da pandemia e de um momento onde todos devem se avaliar e reavaliar a forma como entendem o mundo e lidam com ele.

Fez tudo isso com um raro primor e de uma forma como, talvez, quem não acompanhasse a sua carreira nos últimos anos jamais esperasse.

Ao final das contas, Petals For Armor é descoberta: da artista, minha, tua e de quem mais embarcar no conceito. Se eu fosse você, não perderia essa oportunidade por nada.