Leo Bianchini (5 a Seco) prepara disco solo autobiográfico com influências étnicas

Leo Bianchini fala com exclusividade ao TMDQA! sobre seu primeiro disco solo e reflete sobre mercado da música durante e pós-pandemia.

Fotos: Reprodução/Instagram
Fotos: Reprodução/Instagram

Em junho de 2018 eu estava parado na Alexanderplatz, uma praça no centro de Berlim na Alemanha, assistindo a uma apresentação de rua. Uma banda com quatro integrantes tocava um som experimental e reunia ali cerca de 50 pessoas, fora as que, mesmo só de passagem pelo local, também apreciavam sua música.

Três dessas pessoas éramos eu e mais dois amigos. Mas também estava ali Leo Bianchini, que na época eu conhecia por seu trabalho no 5 a Seco.

Depois de alguns momentos de timidez e dúvida, decidi ir falar com ele, que ficou surpreso com a minha abordagem. “Até aqui?”, brincou a pessoa que estava o acompanhando, sobre ele ter sido reconhecido tão longe do Brasil.

Naquele momento, a banda ainda não tinha divulgado sua pausa nas atividades. Leo tampouco tinha dado o passo inicial para sua carreira solo, mas segundo ele, nesta entrevista exclusiva ao TMDQA!, essa “força latente” sempre existiu.

Em projetos coletivos, Leo Bianchini já lançou seis trabalhos. E ele se diz muito feliz e representado por esses álbuns, divulgados pelo 5 a Seco e também pelo Projeto Risco, que virou Mundrungo e agora Lab Decomposição. Mas ele adianta que a nova etapa também não deixa de ser coletiva, afinal, ele sempre conta com a colaboração de alguns parceiros nas empreitadas.

Em seu disco solo, inicialmente anunciado para setembro, mas que pode atrasar um pouco por causa da fase atual de distanciamento social para combater o novo coronavírus, Leo promete uma autobiografia.

É um disco muito sincero. Sou eu ali, sem filtro ou amarra do início ao fim. Sinto que vai ser fácil pro público perceber quem sou eu, e quais as minhas características musicais e inquietações

O projeto está recebendo apoio dos fãs, que podem contribuir com valores a partir de 20 reais e ter em troca algumas recompensas como nome nos créditos de agradecimento, os discos físicos já lançados pelo artista, caderninho com a arte do trabalho, audição exclusiva do material, ingresso para show intimista de lançamento do álbum e até curso de violão. Contribua e leia mais sobre as recompensas aqui.

Leo Bianchini

Nós publicamos aqui no TMDQA! a primeira faixa já divulgada por Leo Bianchini, “Tum Tum”. Nesta versão acústica postada no YouTube, ele canta sobre o sentimento por alguém: “eu sinto assim um pulso sem fim de cada batucada do peito do meu amor”, diz a letra, que por diversas vezes relaciona as batidas do coração às batidas de tambores.

Isso, talvez, seja reflexo das pesquisas de Leo sobre o universo da música étnica, que ele tem ouvido e tocado bastante recentemente. Ele diz que as canções tradicionais árabe e africana têm sido bem relevantes para suas criações.

A segunda faixa inédita, “Ser Será”, sai nesta quarta-feira, dia 13, às 20h, no YouTube e também no IGTV de Leo.

(continua depois do vídeo)

Perguntei para Leo se essa fase de ficar em casa isolado também vai impactar na construção das letras do disco, mas ele revela que tudo foi produzido antes das medidas de segurança recomendadas pela Organização Mundial da Saúde.

Hoje Leo mora em Portugal e está em fase de articulação para o lançamento do material. “Tenho mantido contato virtual e feito bastante coisa em parceria com as pessoas mesmo nessa fase, o que tem sido fundamental pra manter a saúde mental”, revela. Porém, ele já garante também que novas histórias estão surgindo e que, certamente, novos projetos com influência desse momento também aparecerão.

Sinto que a questão não é tecnicamente o perigo do vírus, mas sim a capacidade colaborativa da humanidade em lidar com adversidades

Leo diz que adoraria que esse momento servisse para revermos o padrão destrutivo no qual o mundo está estruturado, mas ainda acha que o egoísmo sempre vai acabar falando mais alto. “Mas claro, toda crise também é um estímulo para mudanças positivas como, por exemplo, a pauta da renda básica universal, que é algo que deve ser mantido”, diz.

O mercado da música

Na última semana, o mercado da música começou a dar os primeiros passos para contornar a crise que o atingiu em cheio. A Live Nation, por exemplo, uma das maiores produtoras de eventos do mundo, trouxe à público algumas propostas e possibilidades para shows voltarem a ser marcados ainda este ano. Saiba aqui.

Isso vai exatamente de encontro ao que Leo nos respondeu sobre a forma de consumir música durante esta pandemia. Para ele, tanto o mercado quanto o público se adaptam rapidamente à novos modelos, e reinventar padrões para manter a roda girando não é o maior problema, mas sim as mesmas pessoas continuarem dominando o mercado. “A não democratização dos espaços e oportunidades segue sendo a tônica”, reflete.

Leo Bianchini diz que espera para um futuro próximo que o mundo perceba que não há saída para nenhuma calamidade pública (ou pessoal) sem a cooperação entre as pessoas e que é preciso reconquistar a confiança no próximo. “É isso que eu espero, mais no sentido de querer do que o que acho que vai acontecer”, lamenta.

Aliás, falando em confiança, valeu a pena ter confiado na sugestão que ele me deu lá em Berlim. O tradicional salsichão alemão que comprei igual ao que ele estava comendo quando nos falamos é realmente muito bom!

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