Quem nunca ficou babando no pôster de turnê de seu artista favorito? A gente sim, e inclusive curtimos colecionar a versão física destas artes. Por isso, foi uma baita surpresa descobrir que vários dos pôsteres que amamos nos últimos anos tiveram as mãos de um… brasileiro!
Rodrigo Trabbold, que mora em Los Angeles desde 2015, é o diretor de arte da agência americana Global Tour Creatives. Para você ter uma ideia da influência dos caras, a empresa — e Rodrigo, diretamente — estiveram por trás de artes para os shows comemorativos do blink-182, de turnê recente do Jonas Brothers, turnês de Wu-Tang Clan, Third Eye Blind, Janet Jackson, Snoop Dogg, Eagles, Sublime With Rome e mais. Dá uma olhada no site deles.
Nós conversamos com Rodrigo para saber mais dos bastidores desse ramo, do quanto os artistas colocam a mão na massa pelas artes e mais detalhes. Confira nosso papo logo após a imagem.
TMDQA!: Como e quando você começou a trabalhar com pôsteres envolvendo música, especificamente?
Rodrigo: Eu sempre trabalhei com publicidade e vim morar em Los Angeles em 2015 para fazer uma pós na UCLA; foi aí que descobri o mundo do design de entretenimento. Tive aulas com um professor que trabalha fazendo pôsteres para filmes e me apaixonei por essa área, até então nova para mim. Comecei a construir um portfólio mais voltado para o entretenimento, com artes pra filmes, bandas e capas de discos, e acabei sendo contratado pela empresa que trabalho até hoje, a Global Tour Creatives (GTC). Na GTC nós fazemos artes para turnês de artistas de todos os tipos, mas 90% são do ramo musical.
TMDQA!: Quais são os passos desde que você recebe a ideia do artista/gravadora/agência até colocar o pôster na rua para divulgar shows e turnês?
Rodrigo: O processo varia muito, mas sempre começa com o briefing do artista com um tema ou ideia para a turnê. Com base no briefing recebido, eu primeiro pesquiso sobre o artista e a sua linguagem visual, e a partir dessa pesquisa desenvolvo alguns conceitos no papel para ter uma ideia do que pode ou não funcionar com as imagens recebidas. Com alguns conceitos mais elaborados, eu começo então a desenvolver no computador a arte principal da turnê ou show. Normalmente apresentamos de 3-5 opções para cada cliente. Depois que o conceito é escolhido e aprovado, nós desenvolvemos todo o material da turnê baseado nele — desde outdoors, telas de LCD em transportes públicos, pôsteres, flyers, anúncios em revistas, até merchandise.
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TMDQA!: É comum os artistas se envolverem com o processo artístico? O que você acha da participação deles para o resultado final?
Rodrigo: Não é tão comum assim, mas acontece. Alguns artistas colocam a mão na massa mesmo; já tivemos cantores de alto escalão no nosso escritório trabalhando literalmente ao lado da equipe e colaborando passo a passo. Alguns até se aventuram no Photoshop. Alguns artistas são mais abertos a ideias e estilos e a colaboração flui bem; outros já não são tão abertos e gostam das coisas do seu jeito, o que acaba dificultando o processo criativo e a liberdade que temos. Independentemente do processo, trabalhamos com o cliente para acomodar pedidos, mas sem perder a integridade criativa do projeto — e o resultado final é sempre algo que temos orgulho de ter criado.
TMDQA!: Quais são os trabalhos dos quais você mais se orgulha e por quê?
Rodrigo: Meus trabalhos favoritos acabam sendo os que faço para bandas/artistas que eu mais gosto; é muito gratificante poder trabalhar com uma banda que influenciou a sua vida de algum jeito, e mais ainda quando o trabalho é aprovado e vai para as ruas. Até porque, inconscientemente, acho que acabo me interessando por bandas que tem um approach visual diferenciado.
O trampo que mais curti fazer foi a turnê do blink-182 do ano passado, onde eles tocaram Enema of the State por completo em seus shows — um dos meus álbuns favoritos de todos os tempos. A arte foi 100% inspirada na capa do álbum, mas com uma pegada visual mais artística e abstrata.
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TMDQA!: O mundo está passando por uma séria crise no entretenimento por conta do Coronavírus e, claro, isso afeta shows e turnês como as que você divulga com as suas artes. Como tem sido o impacto da pandemia para você?
Rodrigo: Sem dúvida esses são tempos difíceis para todo o mundo e mais ainda para indústrias como a nossa, que dependem fortemente do público e da proximidade física. Fomos bastante afetados com todas as turnês e shows sendo adiados ou cancelados, e já fizemos muitas mudanças e anúncios de novas datas, mas grande parte das turnês maiores foram colocadas em espera até termos um OK dos governos para podermos anunciar novas datas.
Ao meu ver, o mundo vai sempre precisar de entretenimento e, em tempos como o que agora estamos vivendo, a importância da cultura fica ainda mais evidente. Portanto, não acredito que a indústria esteja em perigo, apenas em momento de crise e transformação. Podemos acabar tendo que mudar e nos adaptar a novos padrões de convivência coletiva, mas ainda é difícil saber como e quando isso acontecerá.
Por Tony Aiex e Stephanie Hahne