Exclusivo: conversamos com Thiê Rock, a voz do "Puro Rock and Roll" brasileiro

Hey, rockers! Conversamos com Thiê Rock, do Lion Heart, sobre o icônico vídeo que viralizou, carreira e, claro, sobre o show do Dia 11, Dia 11, Dia 11!

Thiê Rock
Reprodução/YouTube

Hey, rockers!

Se essa frase tem voz e entonação na sua cabeça, você provavelmente já conhece o Thiê Rock. Se não, chegou a hora de conhecer uma das figuras mais carismáticas do Rock brasileiro e, sem dúvidas, uma das sensações mais virais da internet nos últimos dias.

Isso porque um vídeo gravado em 2015 (disponível abaixo), para promover um show que celebrava 13 anos de carreira de sua banda Lion Heart, ganhou os holofotes em pleno 2020 depois de algumas postagens no Twitter que tiravam sarro da pegada Puro Rock and Roll que o vocalista tem em seu jeito de falar e agir.

Mas é claro que 13 anos de carreira não é brincadeira pra ninguém — aliás, a banda já está chegando à maioridade, estando próxima a completar 18 anos de existência e preparando o lançamento de seu novo álbum, O Ferro do Escorpião, ainda para 2020.

Com muito bom humor e seriedade quando preciso, Thiê nos atendeu por telefone para uma conversa que demorou mais do que o esperado; sintoma de um bom papo liderado por seu carisma que transborda nas composições e, claro, na atitude que está causando bons sorrisos em tanta gente por aí. Confira abaixo!

Entrevista com Thiê Rock

TMDQA!: Fala, Thiê! Um prazer enorme estar falando com você hoje, e obrigado por nos atender de última hora. Imagino que a vida esteja uma loucura por aí!

Thiê Rock: O prazer é meu! Realmente é uma coisa meio repentina essa situação que deu uma viralizada no Twitter, mas a gente sempre tem que arranjar a nossa agenda pra atender todo mundo.

TMDQA!: Eu queria começar esclarecendo uma coisa de uma vez por todas com você, porque vi vários relatos diferentes disso. Qual é o contexto desse vídeo, em que ano ele foi gravado?

Thiê: Foi um vídeo de Dezembro de 2015! Era uma chamada pra um show em um bar chamado Saloon — que infelizmente nem existe mais. Muita gente fala que queria conhecer, mas é uma pena. Ele fechou nem faz muito tempo, aliás, mas enfim. Foi muito curioso ter viralizado por agora, quero ver o desdobramento de tudo isso aí, por enquanto estou achando tudo engraçado. [risos]

TMDQA!: Te perguntei da data porque, na época do vídeo, vocês estavam celebrando 13 anos de carreira na Lion Heart. Então, agora, já são 18 anos de estrada! Eu me lembro, inclusive, de ter visto a matéria sobre a banda na MTV (que também foi um “viral” nos padrões da época) e que deixou muita gente na dúvida sobre a banda ser séria ou “de brincadeira”. E agora, com esse vídeo, a reação é meio parecida. Com todo esse período de carreira nas costas, como você enxerga isso?

Thiê: Cara, o que acontece é que, pra mim, o Rock and Roll é uma coisa divertida. O toque de humor faz parte, pelo menos do Rock and Roll que eu cresci gostando; se a gente for até o início do gênero, com Jerry Lee LewisChuck BerryLittle RichardElvis Presley… tinha um toque de humor, brincadeira, aquele visual exagerado, umas dancinhas. E isso se desdobrou, se você pega um KISS, um Twisted SisterMötley Crüe, etc., até o Van Halen, essa coisa da diversão é presente no Rock and Roll. Claro, existem bandas que seguiram por um caminho um pouco mais sério — tipo o U2 —, mas o Rock and Roll é liberdade. Não existe aquilo de ter só uma determinada linha e todo mundo seguir. Você faz o Rock and Roll do seu jeito, do seu estilo.

Pra mim, uma banda séria é uma banda que quer fazer música, gravar disco, lançar trabalho e ter uma carreira. Essa é a seriedade que existe pra mim. Pô, você passa o dia todo trabalhando e estressado ali com o trânsito, com seus problemas, aí você chega em casa e quer ter um bom momento, sabe? Abrir uma cerveja e ouvir um Rock and Roll, ter um momento de felicidade se desvencilhando dos problemas da vida. Então, pra mim, só chegar ali e despejar um monte de problema sério, uma coisa meio ranzinza, não funciona. Eu sinto que não ajudo muito a pessoa a ter um momento de alegria dentro desse mundo caótico que vivemos. Mas, claro, cada um faz do seu jeito — música existe para brincar e fazer aquilo que o coração manda.

TMDQA!: E na verdade esse foi basicamente o seu discurso ali naquela entrevista pra MTV, né. De dizer que vocês iam tirar a depressão do Rock, que não ia mais ter tristeza no Rock.

Thiê: Cara, quando a gente gravou aquilo, a gente era novo. Foi em 2003, a gente só tinha uma demo lançada; éramos inexperientes, eu falei ali de um jeito meio sisudo, até eu olhando hoje em dia dou algumas risadas. [risos] Mas faz parte! A gente era novo, era moleque, aparecendo na MTV. Na época era o sonho, cara! Igual os nossos ídolos, a gente via lá o Guns N’ Roses, o Metallica, o Aerosmith, e de repente a gente estava lá. Era legal pra caramba! Mas foi aquela coisa do exagero juvenil, sabe? Agora, a gente nunca vai deixar de ter essa pegada um pouco divertida, de ter um lance pra cima, leve, que ajude a pessoa a ter um momento de descontração, mais leve.

E essa coisa do meme, a gente sempre leva na boa. Muita gente tem o primeiro contato com a banda dessa forma, e depois começa a curtir mais. Quando você vê, a pessoa tá em todos os seus shows, compra seus discos, camisetas. Mandam mensagens de apoio, e isso tudo é muito engrandecedor, então eu levo tudo na boa — claro, dentro dos limites do respeito.

O Puro Rock and Roll e novo disco da Lion Heart

TMDQA!: Então, pra você, o Puro Rock and Roll a que você se refere no vídeo que viralizou é essa atitude mais leve, essa coisa de levar alegria?

Thiê: Cara, como eu disse, o início do Rock and Roll teve muito disso, desses exageros. Mas eu também não quero ser a pessoa que diz que o Rock and Roll tem que ser só isso; eu acho que o que eu posso dizer é que a maioria do Rock que me atrai é nessa veia, e é por isso que eu tenho vontade de fazer dessa forma.

Eu diria que quando eu ouço algo nessa pegada, pra mim, é o Puríssimo Rock and Roll! Mas é claro que o lance de contestação existe, tá presente. Você pode contestar um padrão repressor de uma sociedade em tudo, desde a forma que você atua em um clipe até a roupa que você usa, seus trejeitos, tudo isso é contestador, mesmo que você esteja falando sobre uma diversão, uma noitada, uma bebedeira. Tudo isso faz com que a gente se pergunte “pô, será que o padrão repressor de uma sociedade em geral não me permite ter um momento de extravasar tudo aquilo que eu tenho dentro de mim?”. Você não precisa estar fazendo uma letra detonando o governo ou coisa assim pra ser contestador na música. Você quebra padrões de inúmeras formas.

TMDQA!: E falando nessa parte séria, sei que vocês têm disco novo vindo aí. Como vocês estão pensando em conciliar essas coisas e usar isso a favor do lançamento?

Thiê: Sim, a gente acabou de gravar um CD chamado O Ferro do Escorpião, que vai sair pelos selos Kaotic Records e Tales From the Pit Records. A gente tá muito orgulhoso desse produto, que foi feito com um produtor excelente aqui do Rio, o Celo [Oliveira], que trabalha demais no Rock and Roll daqui. E já lançamos o primeiro single, “Rock Vai Rolar”, que foi um pequeno indício do que vem por aí no novo CD.

Infelizmente essa questão da pandemia deixou tudo mais moroso. Até processo de gráfica tá mais difícil, tudo está mais devagar, mas o nosso objetivo é que venha ali por volta de Julho, Agosto. Só que com tudo isso, preferimos nesse momento não dar uma data super precisa, mas a ideia é por agora já fazer uma pré-venda, pra aproveitarmos o momento e pra galera comprar com um desconto. Assim que a gente liberar eu aviso pra todo mundo!

Repercussão do meme

TMDQA!: Cara, vou te falar que resolvi fazer essa entrevista por conta da Lívia, que fez um vídeo te imitando que também viralizou no Twitter. Eu já tinha visto o original e adorado, mas o dela chegou até você e ela relatou que você levou tudo muito na boa, e pensei que as pessoas precisavam conhecer o Thiê Rock e o trabalho sério da Lion Heart…

Thiê: Eu achei o maior barato o vídeo que ela fez! Ficou muito igualzinho, eu acho que ela deve ter ensaiado muito. [risos] Nem eu conseguiria fazer igual, pô! Claro que não! Ela deve ter dedicado boas horas da vida dela pra isso, e a repercussão disso foi tão gostosa que viralizou porque vários outros canais quando viram acharam o maior barato e divulgaram aquilo. E aí foi efeito cascata, né. Com o pessoal do Choque de Cultura ali compartilhando e tal…

TMDQA!: E na verdade era uma relação que você já tinha ali com o pessoal da TV Quase, né? De quando vocês participaram do Antepenúltimo Programa do Mundo e depois você voltou no Choque de Cultura.

Thiê: Sim! Na verdade, o pessoal da TV Quase veio do Espírito Santo, e a gente da Lion tocava lá em tipo 2004, 2005, e eles frequentavam o nosso show. Eles tinham a revista deles e entrevistavam a gente na época, faziam matéria e tudo mais. Então desde aquele momento eles já conhecem o nosso trabalho, e de vez em quando nos convidam quando surge algum tema ou algo que eles achem que pode se encaixar. A gente foi lá no Antepenúltimo Programa do Mundo, eu voltei agora na cobertura do Oscar… enfim, é uma galera que eu adoro e que sempre que eles convidam, eu prontamente tento encaixar na agenda porque sempre é o maior barato, diversão pra caramba, e a repercussão é sempre ótima!

E cara, o engraçado dessa repercussão do Twitter é que eu fui obrigado a voltar pra lá. Eu não usava desde 2012, e de repente agora o jogo virou pra lá. E o público do Twitter é muito jovem, tem muito pré-adolescente! E quando essa galera gosta de algo, eles gostam com muito fervor. [risos] E eu acho o maior barato. A gente estava acostumado com um público um pouquinho mais velho, e é bem legal poder fazer parte da vida deles pelo menos durante esse tempo — daqui a pouco vem outra bomba no Twitter, mas só de saber que eles estão ouvindo minha música um pouquinho é muito reconfortante pra mim.

Mas é muita coisa, é muita rede social! Agora que eu estou de home office até que tá dando certo, mas preciso ver como vai ser no dia-a-dia, afinal eu não vivo só pra música, também sou editor de livros e às vezes o tempo fica escasso.

Momento atual do Rock

TMDQA!: Antes de finalizar, queria te perguntar sobre o momento do Rock por aqui. Dentro da sua perspectiva de alguém apaixonado pelo gênero, como você enxerga hoje o momento do Rock no Brasil? Acha que há espaço pro gênero continuar crescendo, que têm surgido boas bandas, ou o Rock realmente perdeu espaço pra outros gêneros?

Thiê: Eu acho que o que acontece é que faz um tempinho que a gente não vê, pelo menos aqui no Rock nacional, aquelas bandas novas que vão pra TV e vendem milhões. De repente, o cenário musical mudou nesse sentido. Eu acredito que o Rock and Roll nunca vai morrer — mas às vezes ele volta por um tempo pro underground, e fica ali só pra quem procura, até que aconteça um fenômeno ou outro.

Mas a gente está aí há 18 anos. Quem quer, quem gosta de Rock and Roll, vai atrás. E hoje em dia está muito mais fácil; na minha época a gente conhecia muito menos, porque a grana não dava, já que tudo envolvia comprar disco. Hoje em dia você pega um Spotify e tem tudo que você quer ali, está tudo mais acessível. Mas ao mesmo tempo são poucas as bandas que assinam com uma gravadora, pegam uma grana e saem para aquelas turnês em estádio, sabe? Muitas bandas antigas ainda sobrevivem dessa forma, mas poucas bandas mais novas conseguem entrar no circuito com essa magnitude.

Enfim, eu vejo assim: espaço existe. Antigamente, você ficava sonhando muito que uma grande gravadora te pegasse, então era a cultura da fita demo, de caprichar no envelope, pra que eles te enxergassem como a bola da vez. Hoje em dia é com você. Você tem que lidar com o público, divulgar, produzir. E há tecnologia pra isso atualmente, com a questão dos home studios.

A gente vê poucos rockstars na mídia atualmente, mas ao mesmo tempo vemos muitas bandas surgindo e divulgando seu som nas plataformas, no streaming. Eu vejo uma proliferação muito grande de bandas novas, sons novos, músicas legais novas, só que o público tem que ir atrás e a banda tem que meter a cara. As máquinas estão aí, está mais fácil fazer som e divulgar som, o difícil é você conseguir monetizar a ponto de viver daquilo. Essa coisa de gravadora te deixar milionário e te colocar pra tocar em estádio enquanto você está só fazendo a sua música sem se preocupar com nada… Eu acho que esse tempo acabou.

O famigerado show do Dia 11, Dia 11, Dia 11

TMDQA!: Concordo plenamente! E, bom, pra fechar, não poderia deixar de te perguntar — como foi o show do Dia 11, Dia 11, Dia 11? Foi do caralho mesmo?

Thiê: [risos] Foi demais! Me diverti demais. O Saloon era um lugar que eu tinha um super carinho, toquei várias vezes lá. É uma pena que fechou, mas se não tivesse fechado antes provavelmente fecharia agora porque com essa pandemia os bares e restaurantes estão passando realmente por muitas dificuldades, não têm como abrir e as contas continuam chegando.

Mas, enfim, aquele dia foi ótimo. Foi o Puro Rock and Roll! [risos] As bandas, os DJs, o clima, a festa foi maravilhosa. Eu vi muitos recados do tipo, “Poxa, eu tô com vontade de ir em uma festa que já foi há anos!” [risos] É uma pena que não viralizou na época, porque de repente poderia ter até gerado um público pra casa, fidelizado uma galera e ajudado a se manter de pé, enfim. Mas que foi bom, foi bom! E quem foi com certeza se lembra e se divertiu pra caramba.

TMDQA!: Bom, sempre é tempo de fazer outra quando acabar essa pandemia pra celebrar a maioridade da banda agora!

Thiê: Com certeza, o objetivo é esse! A gente deu uma certa sorte no sentido de termos conseguido fechar o CD, fazer a sessão de fotos e o videoclipe antes da pandemia. Então ficamos com um pacote bem legal pra soltar nesse tempo, não ficou tudo estagnado. A gente consegue continuar caminhando enquanto está tudo parado porque é só questão de distribuir, mas a repercussão de tudo isso seria genial e maravilhosa podendo fazer os shows, podendo girar.

Então claro que a gente fica chateado por isso — não vou nem entrar em méritos de economia e de saúde, porque isso é terrível pra todo mundo obviamente — mas falando só em termos de música e no nosso caso da Lion, é óbvio que a gente tá morrendo de saudades do palco e de estar lá com as pessoas. Eu tenho fé que vamos passar por tudo isso apesar de todas as barreiras por aí e serão shows ainda mais inesquecíveis que esse do dia 11 porque tudo que tá acumulado durante esse tempo vai explodir ali!

TMDQA!: Com certeza! Thiê, muito obrigado pelo seu tempo e desejo de coração que toda essa repercussão continue sendo positiva e trazendo frutos pra você e pra banda. Tudo de melhor pra você, até a próxima, e fica à vontade pra deixar um recado pro pessoal!

Thiê: Olha, quem tiver ficado com a curiosidade aguçada para conhecer a banda vai ter essa chance logo mais e vai poder viver essa experiência do nosso show assim que possível. Tenho certeza que esse sentimento acumulado de todo mundo vai explodir em vários shows com clima festivo, divertido, pra cima e pra celebrar a vida, de superar esse momento difícil!

Um super beijo e um super abraço pra você, pra toda a equipe do site e pra todos que acompanham, e espero que a gente possa fazer outras em breve quando o Brasil e o mundo estiverem em uma situação melhor!