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The 1975 deixa rótulos de lado no ambicioso (e ótimo) "Notes on a Conditional Form"

Em "Notes on a Conditional Form", o The 1975 propõe uma viagem por diversas direções e mostra que rótulos ficaram no passado. Ouça agora e leia a resenha!

The 1975 - "Notes on a Conditional Form"

A grande maioria dos fãs do The 1975 faz parte de uma geração onde rótulos são deixados de lado e a experimentação é vista com bons olhos — talvez mais do que nunca. Em seu mais novo disco, a banda resolveu abraçar esse traço, e que bom que fez isso.

Notes on a Conditional Form acaba de ser lançado e o que surgiu como uma espécie de acompanhamento ao disco A Brief Inquiry Into Online Relationships (2018) ganhou vida própria na forma de um álbum de 22 músicas e quase 1 hora e meia de duração repleto de mudanças de direção.

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Isso já fica notável logo de cara, com a tríade que inicia o trabalho. A introdução traz uma música ambiente servindo de cama para um discurso de Greta Thunberg, e é seguida pela inesperada e quase anarcopunk “People”, que foi lançada como single. Logo depois, vem o interlúdio “The End (Music for Cars)”, que retoma a pegada minimalista da abertura mas, dessa vez, sem voz por cima.

Dali pra frente, as mudanças de direção seguem ainda mais bruscas. A única constância no disco, pra ser sincero, é a qualidade de grande parte das faixas que, ainda que sejam bastante desconexas entre si, se encaixam dentro de uma proposta maior e ambiciosa dentro de Notes on a Conditional Form.

Notes on a Conditional Form

A ambição, aliás, é uma das maiores qualidades da banda liderada por Matty Healy mas ao mesmo tempo parece ter saído um pouco de controle no aspecto lírico da obra.

Ainda que seja louvável o uso de sua plataforma para abordar temas extremamente relevantes como sexualidade e as complexidades mais palpáveis (porém pouco faladas) da vida, muitas vezes há um certo exagero e Healy dá um tratamento quase messiânico (e ocasionalmente meio martirizador) a si mesmo.

Nada disso apaga o brilho das belíssimas composições que permeiam o disco, em especial quando a banda resgata uma sonoridade folk tradicional americana e a redesenha de forma similar ao que o Bon Iver tem feito nos últimos anos; é o caso de canções como “Playing On My Mind” e “Jesus Christ 2005 God Bless America”, parceria com Phoebe Bridgers.

A sonoridade noventista é outra que é explorada de forma bem interessante pelo 1975 no disco. Em faixas como “Then Because She Goes” e principalmente “Me & You Together Song” isso fica escancarado, já que ambas parecem ter saído direto de uma boa e velha comédia romântica da época.

É inegável que o disco é, de certa forma, um teste de atenção. Se você desviar o olhar — ou o ouvido, no caso —, pode perder alguma das aventuras dos britânicos pelos tantos gêneros que, além dos citados, ainda incluem outros como a música eletrônica, o country (com uma pegada emo, se é que faz algum sentido), e até alguma coisinha do dub e do reggae. Isso deixa o ouvinte bastante curioso para ver o que será das apresentações ao vivo, com tantas pegadas a abordar.

Ainda assim, a má notícia para quem estava ansioso para o disco completo é que os singles divulgados anteriormente são, de longe, a melhor parte do trabalho. No entanto, um dos pontos altos entre as que não foram lançadas antes é a instrumental “Having No Head”, que começa ambiental e minimalista e transiciona para o eletrônico em uma das surpresas mais belas de Notes on a Conditional Form.

O fato é que o disco representa uma nova direção para o The 1975 — ou várias, na verdade — e mais do que estar tudo bem, isso mostra uma possível abertura de caminho para várias bandas explorarem cada vez mais em seus discos sem se preocupar com conceitos tão fechados, mantendo o foco em uma única coisa: fazer música boa.

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