Uma das vozes mais marcantes do Pop nos últimos anos, a noruguesa AURORA está seguindo por novas direções em um novo trabalho que, claro, virá muito inspirado pelo isolamento social e pela necessidade de conforto em meio à pandemia cada vez mais arrasadora.
Antes trabalhando sob uma perspectiva de vanguarda em seu ótimo último disco, que foi divido em duas partes, AURORA está abraçando uma sonoridade que remete a tempos mais tranquilos nos quais o amor reinava no novo single “Exist for Love”, que vê os elementos eletrônicos de canções como “Animal” abrindo espaço para uma pegada intimista e cheia de classe.
Isso não quer dizer, no entanto, que a cantora esteja se distanciando de suas origens. Os elementos artísticos e conceituais continuam muito presentes, em especial no clipe que, segundo ela própria, mostra uma metáfora para o nascimento de sua feminilidade e a necessidade de conexão que tanto nos aflige atualmente.
A pegada dançante que a consagrou, no entanto, abre espaço para uma versão reflexiva de AURORA e, em conversa exclusiva ao TMDQA!, ela promete expandir sua própria visão de mundo em um novo disco que certamente terá passagem pelo Brasil — afinal, ela revela se sentir acolhida por nós e conta muito de sua experiência por aqui com um sorriso no rosto. Confira o papo na íntegra abaixo!
Entrevista com AURORA
TMDQA!: Oi, Aurora! Como você está? Já saíram da quarentena por aí?
AURORA: [com voz de robô] “Essa reunião está sendo gravada”. [risos] Olá! Eu estou bem, e por aí? Já estamos fora da quarentena sim, o que é bom, mas ainda há recomendações para manter o distanciamento social e ficar em casa se possível, então pouca coisa mudou.
TMDQA!: [risos] Bom, eu queria começar falando sobre o novo single, “Exist for Love”. Me parece que mais do que nunca você se expôs para o público, um lado de você que seus fãs talvez ainda não tivessem visto. Foi difícil fazer isso? Como você se sentiu?
AURORA: Pra falar a verdade, eu me senti muito bem, porque pareceu muito certo. Você sempre pensa, no começo de cada capítulo… [pausa] Desculpa, tinha um mosquito se afogando em uma gota d’água aqui, precisava tirá-lo dali. [risos] Mas, enfim, no começo de cada álbum eu sento e penso o que eu quero fazer, como isso vai soar e parecer. E principalmente eu me pergunto do que o mundo precisa agora, musicalmente. E essa foi a primeira vez que eu realmente senti que o mundo precisa de um coração! E o mundo precisa de vulnerabilidade e se sentir próximo, se sentir tocado, porque estamos todos separados. Então eu senti que agora era a hora certa de me abrir e escrever sobre algo que todos nós precisamos e queremos, que todos somos capazes de ter: o amor. Só pareceu certo. E o álbum é sobre um monte de coisas, e vai ser muito diferente de tudo que eu já fiz. “Exist for Love” é só o começo!
TMDQA!: E esse novo álbum ainda é um grande segredo ou você pode compartilhar algo com a gente?
AURORA: É tudo um grande segredo. [risos] Eu só posso dar uma pequena dica, que é o fato de ser muito inspirado pela história da humanidade. [risos]
Novo álbum
TMDQA!: [risos] Tudo bem! Seguiremos ansiosos por aqui. Eu queria te perguntar algo nesse sentido mesmo, porque a música nova em alguns momentos realmente parece uma balada de amor de um passado distante… Isso é bem diferente do que você costuma fazer. De onde veio a inspiração pra isso? O disco todo vai ter essa sonoridade?
AURORA: Elas são todas inspiradas pela história. Faz 100 anos que estivemos nos anos 1920, e tanta coisa aconteceu na história humana desde então. Fizemos tanta coisa errada e tanta coisa certa. E eu fui inspirada muito por isso, tanto nas histórias que conto quanto na música. Então tudo vai soar um pouco velho e um pouco novo; um pouco bem e um pouco mal; um pouco claro e um pouco escuro. Eu estou muito empolgada para ser todas essas coisas, sabe? E “Exist for Love” soa um pouco velha porque eu fui muito inspirada pelo fato de querer lembrar as pessoas sobre o que é o amor, e eu estava pensando nisso: todas as pessoas, sentando sozinhas, e os idosos não podem ser visitados pelos seus netos por conta do vírus… Eu fiquei pensando em quantas avós e avôs nós perdemos agora por conta do vírus, e eu fiquei pensando em casais que estão passando por períodos de dificuldade com suas crianças… Eu só quis fazer uma música que pudesse lembrar as pessoas o porquê delas terem se apaixonado. Às vezes a gente só precisa ser lembrado de como foi aquele primeiro amor e de que nós vivemos essa experiência. Sei lá, acho que eu só queria lembrar as pessoa de quão bonito isso é.
TMDQA!: Que legal! E, bom, o vídeo que acompanha a canção é outro exemplo de quanto você se abriu pra fazer esse single. Como surgiu essa ideia do clipe? Foi algo que veio desse período de isolamento?
AURORA: Veio de antes. Mas foi por conta do isolamento que eu percebi que agora era o momento de mostrar às pessoas esse capítulo da minha vida, porque ele encaixa perfeitamente com o que o mundo está passando agora emocionalmente e politicamente, com tudo que está acontecendo. Então eu soube que agora era a hora de mostrar ao mundo, mas eu comecei a escrever essa música em 2017. Ela foi inspirada por ter vivido pela primeira vez um amor tão puro e tão bonito que era digno de uma música.
TMDQA!: Na letra da música, inclusive, você fala uma coisa que me chamou muita atenção. Tem um trecho que diz que você “não pode imaginar como é estar proibida de amar”, e bom, você sempre foi muito vocal sobre suas opiniões políticas e olhando para o mundo atual, com muitos líderes conservadores por aí, muita gente ainda é proibida de amar do seu próprio jeito. É sobre isso que você canta ou foi algo mais pessoal?
AURORA: É um pouco dos dois. Eu só pensei que se eu pudesse mostrar em uma música quão bonito é o amor e quão divino ele é, se eu pudesse lembrar as pessoas do que se trata o amor, então como alguém poderia recusar que alguém tivesse esse direito? Não faz nenhum sentido — para nós, é claro. Porque o amor é a única, eu acho, a única coisa pura que temos. É a única coisa que somos capazes de fazer que não é ruim, é só boa e gentil e bela. Eu realmente acredito que o mundo será um lugar melhor quando todos puderem mostrar seu amor e ser amor, porque é o que nos torna belos. É o que faz a humanidade bela: o fato de sermos capazes de amar e sermos amados de volta. Então é muito importante para mim falar sobre isso o quanto eu puder, repetidas e repetidas vezes, e eu nunca vou parar até que todas as pessoas possam amar.
TMDQA!: E o amor vem de formas tão diferentes, sempre.
AURORA: Sim! É isso.
Passagens pelo Brasil
TMDQA!: Bom, você já esteve no Brasil algumas vezes…
AURORA: Eu amo o Brasil!
TMDQA!: [risos] A gente te ama também! Em uma dessas passagens por aqui, você respondeu perguntas dos fãs e teve uma frase sua que me marcou muito, que foi quando você falou que o mundo estava prestes a explodir…
AURORA: [risos] Bom, é… É estranho como a gente realmente vê o que importa nesses momentos, né? Quanto a gente precisa de amor, de conexões. Quão pouco a gente consegue fazer sem… Tipo, o vírus não se importa se você é negro ou branco, se você é uma mulher ou um homem, se você é gay ou heterossexual, ele só ataca todos nós. Então nós todos estamos finalmente do mesmo lado contra alguma coisa. E é triste que a gente precise de um vírus pra isso, né? E também que a saúde pública deve ser algo do interesse de todos, porque a saúde é pública. E é triste que teve que acontecer um vírus para que a gente aprenda — eu espero que a gente aprenda! — que nós temos que… O mundo tem que mudar! Eu espero que seja mais rápido do que a gente imagina, mas eu amo escrever sobre o mundo nas minhas músicas. Eu amo fazer perguntas, sabe? E talvez achar algumas respostas, mas grande parte das perguntas eu não tenho a resposta. E eu sei que a música pode ajudar.
TMDQA!: Não tenho dúvidas disso! Como eu falei um pouco antes, você veio muitas vezes pra cá em pouco tempo de carreira — e a gente não está reclamando disso, por favor. [risos] O que tem de tão especial aqui que te faz querer voltar sempre? Você já está com saudades?
AURORA: Sim! Sim, sim, sim! Eu amo o Brasil, eu amo os meus fãs daí. Eu amo a abertura de vocês, a cultural emocional. E a comida, e o tanto que vocês compartilham a cultura com as comidas, a cerveja, com todo mundo… Parece que a sociedade que vocês construíram é baseada em conexão, emoções, é uma comunidade. Aqui na Noruega é tudo muito isolado. É quase como se o vírus não fizesse muita diferença nesse sentido, porque nós já ficamos assim mesmo. [risos] Então eu sinto que aqui na Noruega nós temos muito a aprender com o Brasil, por exemplo. Temos muito a aprender sobre abertura, emoções, vulnerabilidade. E sobre ser quem você é!
Sério, no Brasil, grande parte dos meus fãs é como eu: eles são um pouco estranhos e um pouco malucos. A gente é super colorido! E eles agem como eles são, e aqui na Noruega todo mundo me acha muito estranha. Porque quase ninguém aqui é assim! Mas no Brasil eu me sinto em casa. Eu não sou — e digo isso não em um sentido ruim — eu sinto que não sou especial por aí, eu sou só uma no meio de vários, sabe? Como se fôssemos todos um só, e eu amo isso.
TMDQA!: Entendo demais! A gente tem isso mesmo, e pode ter certeza que ficaremos muito felizes de te receber nas próximas vezes com o mesmo calor e carinho de sempre. Por fim, queria te fazer uma pergunta que tenho feito a todos os artistas durante essa quarentena: que disco tem sido seu melhor amigo para aguentar esse período?
AURORA: Desculpa pela resposta chata, mas é o meu mesmo. [risos] O que eu ainda não escrevi!
TMDQA!: [risos] Essa não é uma resposta chata!
AURORA: [risos] Mas pior que é sério. Quando eu estou escrevendo um álbum, eu não consigo ouvir música. É tipo… Parece que estraga os meus pensamentos. Eu não posso ter outras músicas atrapalhando as minhas, sabe? Então, o disco que tem me feito companhia é o que eu irei lançar! [risos]
TMDQA!: A gente mal pode esperar pra isso! Bom, o nosso tempo acabou e eu só queria agradecer pela conversa e dizer que espero te ver logo por esses lados. Até a próxima!
AURORA: Ah, eu que agradeço! Você é muito doce! [em português] Obrigada! Tchau!