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Resenha: Norah Jones retoma sonoridade sofisticada em "Pick Me Up Off The Floor"

Leia a resenha do Tenho Mais Discos Que Amigos! sobre "Pick Me Up Off The Floor", novo álbum de Norah Jones lançado essa semana.

Norah Jones - Pick Me Up Off The Floor

Por Nathália Pandeló Corrêa

Norah Jones sempre foi uma ótima trilha para dias cinzentos, mas a cantora americana pode ter feito mais que isso em Pick Me Up Off The Floor, seu oitavo disco solo de estúdio. Uma melancolia sofisticada guia o trabalho, que mescla suas raízes jazz com uma linguagem pop minimalista em canções onde reflete sobre solidões, abandonos e recomeços. Ou seja, tudo a ver com o isolamento social que tantos vivenciam hoje, embora Jones estivesse colecionando essas canções já ao longo dos últimos anos.

“A vida como conhecemos acabou”, canta Norah em “This Life”. Em “Hurts to be alone”, oscila entre uma visão mais ou menos pessimista sobre o estar só. Não que Pick Me Up Off The Floor seja um disco triste – ele parece mais um conforto em meio à tormenta. A combinação classuda de piano e baixo se destaca, como sempre, no trabalho de uma artista que soube transitar por diferentes estilos do cancioneiro americano, mas retornando sempre ao seu porto seguro: um jazz de linguagem pop, um pop jazzístico.

Depois do estrondoso sucesso de Don’t Know Why, incursões no country em Feels Like Home e Foreverly (com Billie Joe Armstrong, do Green Day), flertes com o rock em duetos inicialmente improváveis e discos mais coloridos como em Little Broken Hearts e The Fall, Jones retornou a uma zona de conforto que ela domina como ninguém. Daí vieram os discos mais recentes, Day Breaks e Begin Again. Pick Me Up Off The Floor é uma progressão lógica desse mundo – tanto que a tracklist foi formada de sobras de gravações de Norah Jones nos últimos anos.

Mas entre o cello de “How I Weep”, o violino de “Were You Watching” e o violãozinho de “I’m Alive” – esta última, parceria com Jeff Tweedy (Wilco) – quem brilha mesmo é o vocal aveludado de Jones e o seu piano, sempre afiado. Todas essas faixas já haviam sido lançadas como singles e representam bem essa ideia de precisar se reerguer presente no título do disco. Elas costuram uma identidade com as demais canções que dificilmente seria atingida caso fossem aproveitadas as elogiadas músicas que Norah vinha lançando nos últimos meses. Em mais uma prova de versatilidade, ela foi de duetos com Rodrigo Amarante em “I Forgot” e “Falling”, a “I’ll Be Gone”, com Mavis Staples, passando pela exuberância de Tarriona Tank Ball, da ótima banda Tank & The Bangas, em “Playing Along” e “Take It Away”.

Embora o funk e o soul dessas faixas “descartadas” apareça em momentos de Pick Me Up Off The Floor, o novo trabalho sabe trazer, ao mesmo tempo, o contraste de momentos de intensa instrumentação e um minimalismo calculado – como em “Heaven Above”, que encerra o disco. O resultado é um álbum coeso e surpreendente nos momentos certos, e sem dúvidas o lançamento mais encorpado de Jones desde o ótimo Little Broken Hearts.