Um vídeo do saudoso David Bowie criticando a MTV americana por não exibir clipes de artistas negros na década de 80 voltou a circular nas redes sociais recentemente após os protestos antirracistas que tomaram conta dos Estados Unidos inflamados pela morte de George Floyd.
Durante uma entrevista realizada em 1983 pelo VJ Mark Goodman, o icônico cantor praticamente inverteu os papeis e começou a entrevistar o representante do canal, revelando que na época percebeu, ao assistir à programação, que nomes da música que tinham a pele escura não estavam tendo seu devido espaço na programação:
Tenho visto a MTV ao longo dos últimos meses e é um empreendimento sólido. Mas estou espantado com o fato de darem tão pouco tempo na programação aos artistas negros. Por que?
A resposta do entrevistador ao questionamento tem bastantes idas e vindas, dando a entender que a MTV não fazia nenhum tipo de segmentação de horário por qualquer tipo de critério, falando que tratava-se de uma “percepção”.
Bowie ainda diz que só viu a aparição de músicos negros no canal em horários ruins, como a madrugada, e o VJ insiste em dizer que não há nenhum tipo de diretriz interna sobre como e quando certos artistas/bandas deveriam ser exibidos.
Em um ponto da conversa, ele chega a afirmar:
Temos que exibir os clipes e músicas que achamos que todo o país vai gostar.
O apresentador ainda completa sua fala afirmando que transmitir vídeos de nomes como Prince, por exemplo, poderia causar medo nos telespectadores de algumas regiões dos Estados Unidos. Bizarro!
David Bowie
David Bowie então rebate a explicação do VJ da MTV que beira o ridículo mas expõe o racismo na indústria da música da época, que tinha “medo” de tocar clipes de artistas negros por conta da audiência, e afirma que o cantor Marvin Gaye e a banda Isley Brothers também certamente significavam muito para os jovens negros de 17 anos que assistiam ao canal.
E eles com certeza também fazem parte dos Estados Unidos.
Décadas depois, hoje o vídeo está disponível no próprio canal no YouTube da MTV, como você pode assistir abaixo (em inglês) que, ainda bem, não segue as mesmas diretrizes de antes e dedica bastante tempo de sua programação aos artistas negros.
Assista logo abaixo.
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Por Felipe Tellis e Tony Aiex