Música

Juiz que mandou prender baixista do QOTSA no Rock in Rio é acusado de corrupção

Siro Darlan, que mandou prender Nick Oliveri (QOTSA) no Rock in Rio por tocar pelado, é investigado por suposta venda de decisões judiciais. Entenda o caso.

Nick Oliveri e Siro Darlan
Foto de Siro Darlan via Reprodução/TV Globo

Nos últimos dias, relembramos por aqui o sensacional Rated R, do Queens of the Stone Age, que completou 20 anos de existência e segue como um dos discos mais importantes da banda, além de ser o trabalho que a trouxe ao Brasil pela primeira vez.

Foi em 2001, no Rock in Rio daquele ano, que o grupo fez seu primeiro show por aqui e ao mesmo tempo criou uma das maiores polêmicas do showbusiness brasileiro, graças ao baixista Nick Oliveri.

Por algum motivo, Nick resolveu tocar pelado e a atitude causou a ira do, à época, juiz Siro Darlan, que assistia ao festival de um camarote VIP e logo comunicou o Juizado de Menores de que deveria haver uma intervenção para prender o músico por “ato obsceno”.

Siro Darlan e a prisão de Nick Oliveri no Rock in Rio

Como conta uma matéria da época da Folha de S. Paulo, foi no começo da quarta música que o Juizado chegou ao palco e tiveram início as negociações com o produtor executivo Cesar Castanho, que conseguiu convencer a equipe do QOTSA a fazer Nick se vestir após ameaçar desligar a luz — algo que ele garante que era um blefe.

Essa, aliás, não foi a primeira polêmica em nome dos “bons costumes” com a qual Siro se envolveu. Ele impediu a atuação de menores de 18 anos na novela Laços de Família, da TV Globo, pouco tempo antes e, no mesmo ano de 2001, proibiu a entrada de menores em show do Planet Hemp, mesmo com a apresentação sendo promovida pela prefeitura do Rio de Janeiro, alegando que a banda fazia apologia às drogas.

De toda forma, a coisa acabou de forma relativamente tranquila para Nick: o baixista foi solto na mesma noite, após algumas explicações dadas ao magistrado que incluem frases como “no meu país isso não é problema” e “todo mundo aparece nu na época do carnaval; achei que não tinha problema”.

Acusações de corrupção

Por outro lado, Darlan se vê em uma situação bem mais complicada que a do músico, que deixou o QOTSA algum tempo depois mas segue ativo na música com o Mondo Generator, inclusive passando pelo Brasil no ano passado.

O juiz virou desembargador e se viu envolto em decisões controversas como a que relembra O Globo da concessão de habeas corpus à maioria dos envolvidos — incluindo Rogério 157, que viria a ser chefe do tráfico na Rocinha — na invasão do Hotel Intercontinental, em São Conrado, que resultou em uma morte e seis feridos após 35 pessoas serem mantidas reféns por três horas em 2010.

Mais recentemente, em Setembro de 2019, Siro Darlan soltou os ex-governadores Anthony Rosinha Garotinho menos de 24 horas depois do casal receber prisão preventiva e, muito por isso, se tornou alvo da Operação Plantão.

Reportagem do R7 conta que Siro, seu filho e o sócio deste estariam supostamente associados à venda de decisões judiciais e apenas o próprio desembargador não teve de cumprir prisão temporária domiciliar devido às acusações. Também foi declarada a prisão de um motorista e um suspeito de envolvimento com a milícia, que já estava preso na ocasião.

De acordo com as investigações, existiria uma “estrutura criminosa organizada destinada à comercialização de decisões judiciais no âmbito do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, que aparenta ter em seu núcleo decisório o Desembargador Siro Darlan de Oliveira”, como conta o ministro do Supremo Tribunal de Justiça Luís Felipe Salomão.

O caso que envolve a Polícia Federal estourou em Abril e, até o momento, as investigações contra o desembargador correm em sigilo. De toda forma, de repente, parece que tocar pelado no Rock in Rio não é mais um problema tão relevante assim…

Por Felipe Ernani e Tony Aiex