Música

Francisco, el Hombre diz "até logo" ao baixista em clipe da inédita "Despedida"

Assista à estreia exclusiva do clipe oficial de "Despedida", música inédita da banda brasileira Francisco, el Hombre, que diz "até breve" ao baixista Gomes.

Francisco el Hombre - Despedida

A banda brasileira Francisco, el Hombre é feita de conexões humanas.

Bastava ir a um show do grupo antes da pandemia para saber que ali existiam 5 corações que pulsavam na mesma batida e formavam um conjunto que extrapolava suas sensações para a plateia, contagiando todos os presentes do início ao fim.

Pois as apresentações foram interrompidas mas a banda não parou, e segue produzindo material nessa quarentena incluindo canções inéditas como “Despedida”.

Aqui, porém, temos um fato pra lá de importante que cerca o novo som: trata-se da última canção gravada pelo baixista Gomes, que está se despedindo da banda.

Francisco, el Hombre e “Despedida”

Acontece que ao deixar a banda, Gomes gravou sua parte no instrumental de uma última canção e não fazia ideia que ela se tornaria uma carta de “até logo” para ele mesmo.

Isso porque os integrantes da banda nunca falaram sobre isso e quiseram que tudo, inclusive o clipe que estreamos hoje com exclusividade no TMDQA!, fosse uma surpresa.

Essa chave, leve contigo
você não é visitante
aqui, você tem um lar
agradeço tudo o que vivemos antes

Ao falar sobre a saída do colega, o vocalista e guitarrista Mateo disse:

Um post não daria conta de contemplar tudo o que estamos sentindo neste momento. Sempre acreditamos na música como um instrumento de comunicação e expressão social, política e pessoal. Então esse seria o único caminho capaz de traduzir a mensagem sobre a saída do Gomes da Francisco, el Hombre.

Já Gomes, em declaração ao TMDQA! e sem saber que a música seria sobre ele, falou a respeito da decisão de deixar a banda:

A pandemia com certeza influenciou nessa decisão.

Quando o isolamento começou, me peguei pensando ininterruptamente sobre as coisas que eu tenho vontade de fazer na vida e ainda não fiz por conta do estilo de vida que levei nos últimos quase sete anos com a Francisco, el Hombre, por mais que amasse demais tudo que vinha vivendo. Primeiro, porque é muito difícil conseguir planejar momentos de qualidade com minha família, tendo que passar tanto tempo viajando, mas o que realmente pesou foi começar a perceber que estudar permacultura não era mais uma coisa pro amanhã e sim pro hoje.

Comecei a perceber que minha vontade de me aproximar de movimentos sociais que trabalham diretamente com a preservação ambiental, por exemplo, era urgente e não mais um sonho pra deixar pra depois. Mesmo que a banda sempre tenha se posicionado como parceira de diversos movimentos, eu percebia que gostaria de ser mais do que um visitante ocasional nos assentamentos do MST que conheci justamente com a banda. Percebi que posso usar da minha energia pessoal pra outras construções coletivas e aprender coisas nesse processo de um jeito que a vida na música não me permitia. Quando entendi que ia passar meses dentro de casa, me dei conta da oportunidade de estudar com uma profundidade que poderia não ser tão viável em outros momentos da vida.

Gomes também falou sobre como os integrantes já trabalham remotamente de uma forma ou de outra (Sebastián Piracés-Ugarte, baterista e vocalista, se mudou para Salvador, por exemplo) e comentou o universo particular de cada um com suas influências e elementos:

Acho interessante que nós cinco já trazíamos consigo as três vivências de espaço distintas: Andrei e Ju vindo de Sorocaba, Séb e Mateo de família chileno-mexicana tendo sido alfabetizados nos EUA e eu vindo de Goiânia. Na medida em que fomos crescendo a equipe isso foi ampliando e junto essa bagagem foi moldando a maneira como nos relacionando com os lugares por onde passamos. Era muito bonito poder chegar encontrar a galera no aeroporto e contar sobre um show que fui naquela semana aqui em Goiânia ou aquele almoço de boteco com velhinhos tocando moda de viola, assim como ouvir o Séb falar sobre como era andar pelo Pelourinho. É engraçado que como sempre viajamos muito, eu sei que essas vivências fazem muito diferença, mas elas realmente pareciam ser uma continuação de tudo que já vivíamos. Sinto que isso tem influência na minha decisão também, porque uma coisa é vivenciar essas coisas todas em um dia, um final de semana ou uma semana e outra coisa é poder se enraizar em algo e aprofundar nesses conhecimentos. Ao mesmo tempo que é enriquecedor vivenciar múltiplas experiências e encantador poder ouvir as histórias que cada um traz, se enraizar em algo e, com isso, trazer a possibilidade de integração e transformação de um espaço é muito instigante.

Por fim, ele falou sobre o próprio futuro na música:

Então… não faço ideia de como vai ser a vida daqui em diante, mas esse frio na barriga das incertezas acaba significando um mar de possibilidades que tem me movido nesse momento! Eu vinha produzindo um festival na Chapada dos Veadeiros que aconteceria na páscoa, mas que teve os planos alterados por conta da pandemia e que essa semana retomamos a produção pra uma versão online. Tenho dedicado meu tempo nessa quarentena ao estudo da permacultura e da bioconstrução. Ainda não sei como vai ser na prática, mas a ideia é unir a bagagem de vivências na música e na cultura com os conhecimentos de planejamento de espaços sustentáveis, pensar como a cultura se desenvolve nesses lugares e como amplificar conhecimentos que apontem pra uma sociedade com práticas mais alinhadas ao que o planeta nos pede nesse momento urgente de desordem social e de mudanças climáticas latentes que ameaçam a vida humana na terra.

Você pode assistir ao clipe de “Despedida” logo abaixo, bem como ouvir a faixa em sua plataforma de streaming favorita e na playlist oficial do TMDQA! logo abaixo.