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Em “Us + Them”, Roger Waters renova seu legado e do Pink Floyd com maestria

Roger Waters nos permite reviver em casa a grandiosa experiência de sua turnê "Us + Them", que passou pelo Brasil, no novo filme. Leia nossa resenha!

Roger Waters em Curitiba
Foto por Aline Krupkoski

No ano de 2018, Roger Waters fez alguns dos shows mais importantes do ano aqui pelo Brasil. Não somente pelo poder imenso de sua música, que reúne anos e anos de carreira com o Pink Floyd e solo, mas também pelo agressivo teor político da apresentação que, acima de tudo, promove a reflexão sobre os poderes do sistema.

Tudo isso está muito representado no recém-lançado Us + Them, filme que documenta a turnê que trouxe muita polêmica quando chegou ao Brasil por associar o então candidato à presidência Jair Bolsonaro ao neofascismo e que fez com que o lendário músico fosse vaiado em Curitiba, onde se apresentou um dia antes do segundo turno das eleições brasileiras.

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Entre os mais de 150 shows feitos ao redor do mundo entre 2017 e 2018, foram escolhidas filmagens de apresentações em Amsterdã, na Holanda, e no Reino Unido para compor o documentário.

Roger Waters, o músico

Musicalmente, Us + Them é absolutamente impecável. A primeira diferença do filme para o show vem logo no começo: enquanto ouvimos a fita de “Speak to Me”, somos presenteados com as imagens do telão em altíssima definição e que nos mostram o início da jornada que faremos junto a Roger.

Em seguida, a poderosa sequência de “Breathe”, “One of These Days”, “Time/Breathe (Reprise)” e “The Great Gig in the Sky” é para fã nenhum achar defeito — ainda mais se sua música preferida, como a deste que escreve, for a praticamente instrumental clássica de Meddle (1971), que aparece em uma de suas versões mais incríveis.

A viagem continua com uma poderosa execução de “Welcome to the Machine”, antes de uma sequência de canções da carreira solo de Roger. O suspiro de alívio vem quando entram os primeiros acordes de “Wish You Were Here”, que emociona os presentes; algo que Sean Evans, co-diretor da obra ao lado do próprio Waters, faz questão de mostrar.

A sequência final, em especial a partir da inesquecível “Another Brick in the Wall”, é onde o bicho pega de vez. As mensagens políticas tomam conta, e Roger — o músico — passa a existir em segundo plano.

Roger Waters, o artista

Parte de ser um artista é oferecer ao seu público um verdadeiro espetáculo que vá muito além das canções. E isso Roger faz como poucos!

Em todas as performances do clássico de The Wall (1979), o músico recebeu grupos de dança locais e cedeu seu protagonismo a esses jovens que encantam com sua arte. Em Us + Them, o filme, não é diferente — e, vale ressaltar, há um destaque especial para um dos grupos brasileiros que aparece nos créditos do filme, ainda que não tenham estado em um dos shows escolhidos para o documentário.

Depois dessa faixa, a produção do show encanta de vez. A recriação da capa de Animals (1977) logo antes de “Dogs” com telões e o “porco voador” que chamou tanta atenção no Brasil logo cedem lugar para mensagens políticas com o presidente Donald Trump em voga.

Durante “Pigs (Three Different Ones)”, experimentamos o ponto alto do show. Uma performance sem nenhum defeito vem recheada de citações absurdas atribuídas ao mandatário americano são exibidas e se ligam com o tema de “Money”, também introduzida e interpolada por críticas ao chefe de Estado e executada com perfeição por Roger e sua incrível banda de apoio, que merece um elogio à parte.

Para fechar o tal espetáculo, um prisma encobre a plateia que se emociona com uma sequência deliciosa formada por “Us and Them”, “Brain Damage” e “Eclipse”. Como alguns brasileiros certamente se lembram — e o documentário faz questão de mostrar —, fica difícil conter o choro ao presenciar um momento tão histórico.

Esse show inesquecível pode ser revisitado agora mesmo em formato digital, disponível para compra pelo YouTube por valores a partir de R$24,90, com aluguel por R$14,90.

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