SLAVES e Dixie Chicks trocam de nome por causa de conotações racistas

Duas bandas americanas, SLAVES e Dixie Chicks, estão trocando de nome devido às conotações racistas de suas escolhas. Veja relatos e entenda.

SLAVES e Dixie Chicks
Fotos via Divulgação e Wikimedia Commons

Em meio aos protestos que denunciam a covarde morte de George Floyd nos EUA e a persistência do racismo estrutural no país, diversas bandas americanas têm repensado alguns conceitos e, em alguns casos, até mudado de nome.

Nos últimos dias, o grupo country Lady Antebellum mudou de nome para Lady A — o que acabou não dando muito certo, já que o nome é usado há anos por uma artista negra — para deixar de lado as conotações racistas que explicamos por aqui.

Agora, quem fez o mesmo é a banda de Post-Hardcore SLAVES e as lendas do country Dixie Chicks. A primeira, que foi fundada por Jonny Craig mas não conta mais com o vocalista acusado de abuso há algum tempo, emitiu um comunicado explicando sua decisão:

Como indivíduos, bem como coletivamente, nós temos algumas virtudes guardadas em nossos corações — a honestidade e a transparência com os nossos fãs sendo algumas das mais importantes. No começo do processo de escrever e gravar o novo álbum ‘To Better Days’, nós discutimos como essa nova iteração da nossa banda deveria soar, como deveria parecer, e também como deveria ser chamada. Nós decidimos então, que esse seria nosso último lançamento com o nome ‘SLAVES’.

O nome ‘SLAVES’ [que significa ‘escravos’, em inglês] foi concebido como uma referência à batalha da banda com abuso de substâncias no passado, na ideia de que nós somos escravizados por nossos vícios e pelos nossos próprios demônios. Nosso objetivo sempre foi abordar esses assuntos difíceis de cabeça, e também construir uma comunidade e compartilhar histórias de esperança para que os outros saibam que seus demônios internos possam ser derrotados. No entanto, essa definição do nome negligencia e não se responsabiliza pelas conotações raciais. Como apoiadores obstinados do movimento BLM [‘Black Lives Matter’], nós não podemos continuar deixando a nossa música e a nossa mensagem positiva presas a uma palavra associada com um peso e dor tão negativos.

‘To Better Days’ irá representar o fechamento de um capítulo e o começo de outro para a banda. Isso é algo que estávamos planejando há algum tempo e estamos empolgados para começar a revelar novas músicas, novo nome, mais tarde neste ano.

Somos gratos aos nossos fãs que continuam do nosso lado e vemos com bons olhos o compartilhamento dessa nova era com vocês daqui pra frente.

Com amor e gratidão, Colin, Felipe, Matt, Weston, Zac.

O comunicado na íntegra está disponível pelo Facebook logo abaixo.

SLAVES e Dixie Chicks mudam de nome

https://www.facebook.com/officialslaves/photos/a.488695861323182/1365110750348351/?type=3

Já o trio country que hoje é formado por Emily Martie Erwin ao lado de Natalie Maines resolveu ter uma abordagem mais silenciosa e direta.

A banda simplesmente mudou de nome para The Chicks ao divulgar a sua nova faixa, “March March”, nesta quinta-feira. A canção exibe vídeos de protestos antigos e atuais pelos EUA e que englobam não apenas o movimento das vidas negras mas também as lutas por direitos LGBTQ+ e as histórias manifestações pelo direito das mulheres de votar.

Vale lembrar que “Dixie”, nos EUA, é usado para se referir em geral à região Sul na época dos Confederados. Último lugar do país a abolir a escravidão, a bandeira local é até hoje considerada um símbolo racista e é um dos lugares onde a questão racial ainda é mais retrógrada atualmente.

As integrantes da banda também são conhecidas por terem sofrido uma espécie de “censura” durante o mandato de George Bush. Elas se posicionaram contra a guerra no Iraque durante um show, com Natalie dizendo que estava “envergonhada” de ser do mesmo estado que Bush. Desde então, as Chicks sofreram um boicote que durou anos.

Você pode conferir abaixo o novo e poderoso vídeo, que ainda exibe nomes de vítimas da brutalidade do racismo como o próprio Floyd, Breonna TaylorRayshard Brooks, Ahmaud Arbery e, infelizmente, tantos outros.