Sound Bullet lança um dos discos nacionais mais sólidos do ano com "Home Ghosts"

Do interior para fora, a banda carioca Sound Bullet fala sobre desabafos, confissões e lembranças no novo disco "Home Ghosts", lançado pela Sony Music.

Sound Bullet
Foto: Pedro Guarilha

A personalidade de um indivíduo é produto de vários fatores. Temos a nossa própria consciência, nossas ideologias e nosso próprio modo de expressão, mas não é simples assim. O exterior também nos define. Nossa relação com o mundo interfere em todos os elementos já citados. Amizades, amores, angústias, medos… No final das contas, é justamente daí que vem a beleza da vivência humana.

Podemos traçar paralelo com uma casa, por exemplo. Ela acumula objetos, histórias, cores, aromas e, não raramente, vidas. Apesar de seu interior, o exterior ajuda a inserir a construção no contexto do mundo. Esse é um entendimento do que podemos extrair de Home Ghosts, novo disco da banda carioca Sound Bullet. É o segundo álbum cheio da carreira do grupo e o primeiro sob os cuidados da gravadora Sony Music.

Trata-se da relação entre o que se passa no interior e no exterior de alguém. Muitas vezes são perspectivas conflitantes, mas é preciso ter atenção aos detalhes. Uma casa abandonada (que pode ser uma conclusão à primeira vista da capa do disco), por exemplo, pode estar com suas luzes acesas, aquecendo as memórias que ali vivem.

Capa de "Home Ghosts" (Sound Bullet)
Foto: Divulgação

 

Experimentações e conceitos

O que todos nós queremos é encontrar nossa paz interna. Para encontrá-la em meio à escuridão, no entanto, se faz necessário colocar para fora esses “fantasmas caseiros” que nos habitam. É preciso dar voz ao interior para que ele não fique sufocado pelas tantas percepções externas às quais somos submetidos, nos afastando de nós mesmos.

É essa a ideia do disco. As letras entregam desabafos, declarações e lembranças. Guilherme Gonzalez (vocal e guitarra), Fred Mattos (baixo), Rodrigo Tak-ming (guitarra), Henrique Wuensch (guitarra e synth) e Pedro Mesquita (bateria) falam de episódios pessoais, de relacionamentos, de liberdades… Isso fomenta o questionamento: quantas possibilidades maravilhosas estamos perdendo ao guardas nossas histórias somente para nós? No mais, o novo álbum da Sound Bullet também nos faz refletir sobre distâncias, seja entre as pessoas (aliás, estamos em meio a uma pandemia) ou entre nós mesmos com o mundo.

De certa forma, a estética instrumental do álbum também ajuda na entrega da narrativa. Em Home Ghosts, o som é mais intimista, talvez até mais do que no disco de estreia da banda, Terreno (2017). Ao mesmo tempo, ele se encaminha para o ouvinte de forma madura e certeira. Ao rock alternativo entregue, são adicionados elementos rítmicos e melódicos que nos tiram da zona de conforto e nos impressionam. Muito disso está na sonoridade do ukulele barítono, presente em canções como “Hope” e “Spanish July“.

Abaixo, você confere, com exclusividade, o lyric video da também inédita “Dance Tak Dance“.

 

Faixa a faixa

A banda também falou sobre cada das músicas que dão vida a Home Ghosts. Pela fala dos integrantes, fica ainda mais claro o interessante processo de experimentação e composição. Confira abaixo:

 

“Phoenix”

“Foi uma das primeiras ideias pro disco. A gente ensaiava uma música e com improvisações, ela foi virando cada vez mais uma coisa própria nossa. A letra dela, junto com a letra de “Spanish July”, ditam o que o álbum é. Ela coloca a história do personagem principal, suas angústias e seus medos.” (Guilherme Gonzalez)

 

“I was in Lisbon, You were in Paris”

“É uma música de amor triste. Desse que os jovens gostam. Ela começou com uma ideia country do Fred e o Tak colocou guitarras por cima, cada vez indo mais num sentido que nos lembrava Wilco, não que tenha a ver, mas, imagina um indie influenciado por country alternativo? Meio isso. Legal que é em 7/4 e tem tapping. É uma coisa bem Sound Bullet.” (Guilherme Gonzalez)

 

“Shabby”

“A primeira música a estar pronta pro disco, a primeira que tocamos ao vivo. É uma das nossas favoritas e uma das favoritas de quem já ouviu o álbum todo.” (Guilherme Gonzalez)

 

“Reveries”

“Essa é uma sobra do Terreno, por assim dizer. Ela começou a ser escrita junto, mas não ficou pronta a tempo. Gravamos ela pra um projeto da Levi’s que participamos, mas ainda achamos que poderíamos fazer ela de uma forma melhor. Reescrevemos uma parte do arranjo, colocamos uma outra parte de letra. Eu amo que essa música é a transição perfeita do Terreno para o Home Ghosts em tudo.” (Fred Mattos)

 

“Dance Tak Dance”

“O lead single do álbum é uma música muito divertida. Provavelmente uma das últimas. Como dá pra perceber, é uma ideia que veio do Tak que desenvolvemos no que entrou pro disco. Ela trata sobre uma angústia interna que vem desde a infância e quando o eu lírico se rebela contra ela de uma vez por todas.” (Guilherme Gonzalez)

 

“Hope”

“Essa era pra ser um single antes do disco! Quando ainda estávamos esperando para gravar, fizemos algumas prés dela na casa do Henrique. Chegamos bem perto de finalizá-la, porém, conversando com o Patrick, guardamos pro Home Ghosts. É legal de pensar que é a primeira música escrita no ukulele barítono, um instrumento fundamental nesse disco.” (Guilherme Gonzalez)

 

“Are We in Oz?”

“Nosso indie rock de cada dia. Foi uma das últimas terminadas pro disco. Tentamos ser mais simples, invertemos um pouco alguns pensamentos que tínhamos para abordar ela de forma diferente. Eu adoro que citamos o Seattle Supersonics na letra. O motivo? Porque sim.” (Guilherme Gonzalez)

 

“Spanish July”

“Essa é irmã da primeira música do disco. Ela veio de um riff que eu criei quando tava aprendendo a tocar ukulele barítono. Como é um instrumento com afinação parecida com a da guitarra, pudemos transpor algumas ideias e usar características dele pra transformar numa música divertida. Adoro essa sensação latina dela.” (Fred Mattos)